O PT conseguiu encontrar o candidato mais improvável no atual momento da política brasileira: sem ações por corrupção e que não ficou milionário. Neste sábado, o partido homologa a candidatura a governador do professor e bancário Humberto Amaducci, 50 anos. Ele foi escolhido para a missão de não só tentar retornar ao comando de Mato Grosso do Sul, mas tirar a imagem da sigla do limbo.
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A tarefa não será fácil, considerando-se a decadência sofrida pelo partido em 2015, ocorrida após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o ápice da queda. Do comando do Governo do Estado com Zeca do PT, por dois mandatos consecutivos entre 1999 e 2006, a sigla perdeu todos os mais de 20 prefeitos eleitos em 2012 e viu a bancada de vereadores ser reduzida para apenas 42.
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“Não temo estrutura”, admite o candidato. Amaducci também tem consciência do desgaste sofrido pelo PT, massacrado diariamente pelos meios de comunicação. “Até companheiros defenderam a cassação da Dilma”, lamenta, ao ponderar que foi comandada pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), preso em Curitiba e condenado a 14 anos por corrupção.
Neste cenário de terra arrasada, o PT tenta resgatar a militância e se reerguer com um nome da Articulação de Esquerda, a ala considerada mais radical.
Pai de quatro filhos e casado com Terezinha, Amaducci foi prefeito de Mundo Novo, cidade com 18 mil habitantes em três ocasiões, de 2001 a 2008 e de 2013 a 2013 a 2016. Ele optou por não disputar a reeleição para apoiar o vice e por na prática o lema: dar oportunidade a novas lideranças.
Dois fatos saltam aos olhos de quem comandou uma cidade com orçamento anual superior a R$ 50 milhões em três mandatos. Amaducci não virou milionário no comando do município. Não comprou fazendas.
Conforme a declaração de bens, o seu patrimônio é de R$ 447 mil, que inclui a casa onde residem os pais. Ele mora com a família em uma chácara.
Apesar de ter comandado a Prefeitura de Mundo Novo por 12 anos, Amadduci não tem nenhuma ação na Justiça por corrupção. Enquanto alguns ex-prefeitos lideram pesquisa, mesmo contando com mais de 40 ações por improbidade.
Para não dizer que não é santo, ele foi condenado pela Justiça em fevereiro do ano passado ao pagamento de multa civil de cinco salários de prefeito por empregar o cunhado, Natanael Nunes Machado, como assessor especial do município. Ele é casado com a irmã do ex-prefeito e ganhou cargo comissionado. Para a Justiça, mesmo sendo concursado como motorista, a nomeação em cargo de confiança configurou nepotismo. Eles recorreram contra a sentença.
Apesar de considerar o povo da região hospitaleiro, Amadduci já sentiu na pele a violência que impera na fronteira com o Paraguai. Ele era assessor do Orçamento Participativo quando a prefeita Dorcelina Folador (PT) foi executada por pistoleiros na varanda da casa em 30 de outubro de 1999.
Um ano antes, em 1998, na primeira campanha vitoriosa de Zeca como governador, Amaducci chegou a ser alvo de dois tiros disparados pelo atual vereador Gildo Amaral. Na ocasião, ele estava no encalço de motociclistas que distribuíam panfletos contra Dorcelina.
Apesar de relembrar com detalhes do atentado, o petista destaca que o incidente ficou no passado e mantém uma relação cordial com o parlamentar. “O povo da fronteira não é violento, é hospitaleiro”, frisa.
Filho de um caminhoneiro e uma dona de casa, de uma família de nove irmãos, sendo quatro adotivos, Amaducci se orgulha da terceira vitória, em 2012, quando derrotou o candidato do então governador André Puccinelli (MDB), que tinha o apoio de 17 partidos, por apenas 19 votos. “Foi terrível”, relembra.
Amaducci não fecha os olhos para os erros do PT. Um dos erros, segundo ele, foi trazer políticos da direita “sem compromisso” para dentro do partido, como o ex-senador Delcídio do Amaral.
No entanto, o candidato isenta a principal liderança da sigla, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba e condenado a 12 anos de reclusão pelo polêmico caso do triplex do Guarujá. “A prisão do Lula ocorreu mais por seus acertos”, defende. “O Lula solto acaba com a crise em um ano”, acredita.
Como candidato a governador de Mato Grosso do Sul, Amaducci promete implantar o Orçamento Participativo, uma das vitrines petistas, mas que só foi adotado em um dos dois mandatos de Zeca do PT.
Para evitar as críticas da época, de que as assembleias eram dominadas por petistas, Amaducci pretende incluir os prefeitos na definição das prioridades do orçamento estadual, que supera R$ 15 bilhões.
O petista defende a atração de indústrias para acabar com o ciclo do desemprego iniciado em 2015, considerando-se dados do Ministério do Trabalho, que aponta o fechamento de vagas de trabalho nos últimos três anos.
Amaducci promete repetir o que fez em Mundo Novo, como o frigorífico de peixes, que gera 20 empregos diretos e gera renda para 200 pequenos produtores. “Vendemos tilápia para todo o País”, orgulha-se. Ele também atraiu pequenas empresas do ramo de confecção.
O candidato a governador destaca que a principal promessa será “oferecer oportunidades para o povo mais humilde”. “O povo quer política pública que lhe dê oportunidade”, ressalta.
Sobre os adversários, o petista não poupa nem o candidato do PDT, um tradicional aliado petista. “O Odilon não representa o histórico do PDT”, cutuca, sobre o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira.
O candidato fulmina o atual governador. “O Reinaldo não mostrou a que veio e traz a marca da JBS”, afirma, ao mencionar o escândalo envolvendo o tucano, de que teria recebido R$ 38,4 milhões em propinas do grupo empresarial. O caso é alvo de inquérito no Superior Tribunal de Justiça.
“O André tem truculência, arrogância”, repete uma crítica antiga ao emedebista, sem relembrar os escândalos de corrupção que o levaram à prisão no dia 20 deste mês. (A entrevista foi feita antes da prisão preventiva).
Mesmo com menos de 5% nas pesquisas de opinião, Amaducci se diz otimista para chegar ao segundo turno. A companheira de chapa será outra petista, a professora e advogada Luciene Maria Silva e Silva, de Três Lagoas.
O candidato a senador será o deputado federal Zeca do PT, que tenta retomar o projeto idealizado em 2006, quando desistiu de enfrentar Marisa Serrano (PSDB) para concluir o mandato.
Sobre o fato de ter perdido até os tradicionais aliados, o ex-governador alfinetou os adversários. “Antes só do que mal acompanhado”, disse Zeca, que é alvo de inquérito em decorrência da farra da publicidade e denúncias feitas nas delações da JBS e da Odebrecht.