Principal articulador político do presidente da República, Michel Temer (MDB), o ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, é novamente destaque da imprensa nacional com uma carta de propostas estúpidas. Ele defende que se cobre na rede pública de saúde, anistie todos os políticos denunciados pelos crimes de caixa dois, uma nova corte judicial acima do Supremo Tribunal Federal e lei para punir abuso de autoridades.
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Em meio às alucinações causadas pelo poder, Marun defende algumas propostas sensatas: a redução no número de cargos de vereadores, deputados estaduais e federais. O legislativo é fundamental para a democracia, mas tem sido a um custo muito alto no Brasil. Ele tem razão de que o assunto precisa ser discutido com seriedade pela sociedade brasileira.
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Por outro lado, o mais notável sul-mato-grossense, faz propostas totalmente alheia à realidade brasileira. A proposta mais absurda é cobrar pelos serviços médicos e hospitalares oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo que seja apenas de quem possui condições e isentar os miseráveis.
A medida penaliza a classe média, que paga alta carga tributária e ainda se vê obrigada a recorrer aos planos de saúde privados. Atualmente, a rede pública ainda salva quem precisa de tratamentos médicos caríssimos e mais complexos, que nem os convênios são capazes de bancar.
Na proposta encaminhada ao ex-ministro Henrique Meirelles (MDB), pré-candidato a presidente da República, Marun propõe a anistia ampla e irrestrita aos crimes de caixa dois. Pela proposta, só os crimes cometidos no futuro seriam punidos.
O ministro salvaria toda a classe política em apuros com as últimas investigações. Só a delação premiada da JBS apontou pagamento de propina e caixa dois a 1.720 políticos brasileiros.
Em guerra com os ministros do Supremo Tribunal Federal por manter a investigação e as denúncias de corrupção, obstrução da Justiça, de chefiar organização criminosa e receber propina contra Temer, Marun defende a instituição de mandatos aos ministros da mais alta corte do Judiciário.
Ele ainda defende a criação de nova corte para dirimir os conflitos entre as decisões do STF e a Constituição Federal. Seria a repetência do famoso jeitinho brasileiro de se gastar mais dinheiro público sem resolver as coisas, já que a nova corte teria a mesma função do Supremo.
Marun defende a revogação da Lei da Bengala, aprovada para tirar da então presidente Dilma Rousseff (PT) a indicação de novos ministros para o STJ, STF e TCU. A aposentadoria compulsória de ministros foi ampliada de 70 para 75 anos.
Em guerra com delegados da Polícia Federal e procuradores da República que não se intimidam para investigar amigos do ministro, como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, preso e condenado a 14 anos de prisão, e do ex-governador André Puccinelli, preso na sexta-feira, Marun quer aprovar a polêmica lei contra abuso de autoridade.
Aliás, o próprio Marun entrou na mira da PF na investigação que apura fraudes na concessão de registros de sindicatos pelo Ministério do Trabalho. Ele negou qualquer relação e fez queixa formal contra o vazamento de trechos do inquérito.
Carlos Marun propõe, pasmem, privatização radical, o que pode incluir a venda de patrimônios nacionais, como a Petrobras, Banco do Brasil, Correios e Caixa Econômica Federal.
Em tempo que A Voz do Brasil, com apenas uma hora nas emissoras de rádio, perde espaço, o ministro quer obrigar as emissoras de televisão a exibir programas educativos em dois horários, das 9h às 11h e das 14h às 16h.
Para os trabalhadores que acompanham com a apreensão a polêmica reforma da previdência, Marun defende a sua aprovação ainda em novembro deste ano.
Com tantos amigos condenados e enrolados em denúncias de corrupção, o ministro ignorou o tema. Estudos apontam que a corrupção pode consumir até 30% dos recursos públicos, uma fortuna para um País com tantos miseráveis e carências como o Brasil.
A carta encaminhada em segredo aos amigos de Marun vazou para a imprensa e foi publicada pelos jornais de São Paulo neste domingo.
Ao se indignar contra o vazamento, o ministro só ponderou em relação ao candidato a presidente da República, Ciro Gomes (PDT), a quem chamou de “débil mental”. Ele disse que não teria dito isso se soubesse que o documento chegaria aos jornais.
Para garantir o apoio do Centrão – composto pelo PP, PR, PTB e SD – a Geraldo Alckmin (PSDB), Marun ameaçou tirar os cargos do grupo no Governo. Na prática, para o ministro sul-mato-grossense tanto faz ganhar o candidato tucano ou o ex-ministro da Fazenda.