Dois anos e oito meses após ser preso, o ex-senador Delcídio do Amaral (PTC) foi absolvido da denúncia de obstrução da Justiça. Juiz federal do Distrito Federal concluiu que o então líder do Governo no Senado caiu em uma armadilha do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, e de seu filho, Bernardo Cerveró. A suspeita é de que o ex-procurador da República, Marcelo Miller, ajudou a montar o flagrante.
A sentença do juiz substituto da 10ª Vara Criminal de Brasília, Ricardo Augusto Soares Leite, publicada nesta quinta-feira (12), absolveu o ex-petista, o pecuarista José Carlos Bumlai e seu filho, Maurício Bumlai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o banqueiro André Esteves, o ex-chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, e o então advogado de Cerveró, Edson Siquieira de Ribeiro Filho.
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Delcídio foi vítima de uma injustiça. Na escala de escândalos, ele foi acusado de comprar o silêncio de Nestor Cerveró, com o pagamento de mesada de R$ 50 mil. Esteves foi acusado de propor R$ 4 milhões para evitar a delação. Bernardo gravou Delcídio supostamente propondo a compra do silêncio.
A denúncia feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, levou o então ministro Teori Zavask, do Supremo Tribunal Federal, a decretar a prisão de Delcídio na manhã de 25 de novembro de 2015. Ele chegou a ficar preso por 90 dias, teve o mandato de senador cassado e só deixou a cadeia após firmar colaboração premiada com o MPF.
O escândalo transformou em pó a carreira da principal liderança política de Mato Grosso do Sul. A vaga de senador ficou para o empresário Pedro Chaves (PRB), que dispensa apresentação ao se tornar alvo de chacota nacional.
Delcídio não caiu no ostracismo. Devido ao escândalo, que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), passou a frequentar as instâncias em decorrência das denúncias e para dar continuidade à delação premiada.
Agora, quase três anos depois, a Justiça absolve Delcídio da denúncia de obstrução da Operação Lava Jato.
Confira a sentença divulgada pelo UOL
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal conseguiram provar a denúncia de que Delcídio, por meio de Maurício Bumlai, repassou R$ 200 mil, em quatro parcelas para Nestor Cerveró. Os repasses ocorreram entre maio e agosto de 2015.
No entanto, a gravação feita por Bernardo, na qual Delcídio sugere a fuga pelo Paraguai e ajuda junto aos ministros dos tribunais superiores é que levou a sua prisão.
Agora, todos os indícios apontam que o então senador caiu em uma armadilha.
Para o juiz Ricardo Leite, Nestor Cerveró e o filho premeditaram cada passo para produzir prova contra Delcídio. Com os bens bloqueados pelo juiz federal Sérgio Moro e passando dificuldades financeiras, eles fizeram solicitação de ajuda financeira já com a intenção de usá-la contra o ex-petista.
Na gravação, conforme o magistrado, Delcídio se mostra inerte e não adere ao intento criminoso de Bernardo, responsável em produzir a captação do áudio da reunião em hotel de Brasília. Até cita que o ex-senador se mostrou reticente quanto a fuga e sugere que Cerveró permanecesse no Brasil para dar mais tranquilidade para a família.
“Há então, clara intenção de preparar o flagrante para depois oferecer provas ao Ministério Público. Mesmo assim, com prova fornecida (a gravação obtida) foi deficiente”, ressalta o juiz. “Não esclarece vários pontos, ensejando dúvidas e omissões”, conclui.
Delcídio perdeu o mandato por esta falta de atenção do Poder Judiciário. Não chegou a usar nem 1% das palavras ditas pelo senador Aécio Neves (PSDB), que aparece em som claro e objetivo pedindo R$ 2 milhões para JBS, defendendo a obstrução da Lava Jato e xingando o ministro da Justiça de “peba”.
O tucano não teve a prisão decretada pelo Supremo, nem com o monitoramento e a gravação em vídeo de R$ 2 milhões em malas. Aécio até foi salvo com o voto dos senadores sul-mato-grossenses, Simone Tebet e Waldemir Moka, do MDB, e até do sucessor de Delcídio, Pedro Chaves.
A sentença não transforma o ex-petista em santo, mas deixa claro que foi vítima de grave erro do Supremo Tribunal Federal e do atual quadro da política brasileira, uma vergonha.