A grande indignação popular contra a corrupção e terrível impopularidade do presidente Michel Temer (MDB) prometem transformar a disputa pelas duas vagas do Senado na grande oportunidade para os neófitos na política sul-mato-grossense. A voz das ruas indica que o eleitor está disposto a sepultar os conchavos, campanhas milionárias e as articulações no submundo da política para os azarões.[adrotate group=”3″]
Atualmente, conforme a pesquisa Ranking, os líderes das duas vagas são o ex-prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PTB), com 36,41%, e o deputado federal Zeca do PT, com 22,99%. O terceiro colocado é o senador Waldemir Moka (MDB), com 11,58%. Outro candidato à reeleição, Pedro Chaves, fica em quarto, com 6,83%.
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Réu em mais de 30 ações por improbidade administrativa na Justiça Estadual, inclusive pelo pagamento de suposta propina de R$ 29,4 milhões na licitação do lixo, e outras quatro na Justiça Federal, Nelsinho não só sinaliza estabilidade, como crescimento no levantamento. Em fevereiro, ele tinha 31,33%.
O mesmo ocorre com Zeca, réu nas ações da farra da publicidade e citado nas delações da Odebrecht e da JBS. O petista ainda precisa derrubar uma decisão do Tribunal de Justiça que o condenou em segunda instância por improbidade administrativa. No entanto, ele subiu de 20,58% para 22,99%.
Ficha limpa e sem ações na Justiça, Moka é defensor de Temer e deverá ser candidato na chapa de André Puccinelli (MDB), pré-candidato a governador e investigado na Operação Lama Asfáltica. Conforme a pesquisa do Jornal de Domingo, ele subiu de 9,74% para 11,58%.
O emedebista votou para salvar o mandato do senador Aécio Neves (PSDB), gravado pedindo propina de R$ 2 milhões e ainda defendendo o fim da Operação Lava Jato. Moka ainda deverá sentir o reflexo da impopularidade de Temer, considerado ruim e péssimo por 82% dos brasileiros, conforme o Datafolha.
Conforme o levantamento, Pedro Chaves despencou entre fevereiro e junho, de 14,49% para 6,83%. Além de ajudar Moka a salvar Aécio e ser aliado de Temer, o senador ainda se envolveu em polêmica na semana passada ao levar um puxão de orelha do Ministério Público Estadual. Ele teria usado a influência para transferir pontos das multas de trânsito de sua carteira de motorista fora do prazo legal.
Nesta esteira de indignação popular, a eleição se transformou em grande oportunidade para os novatos na política. Aliás, sempre surgiram nomes novos para o Senado. A diferença é que os atuais neófitos mostram densidade eleitoral inédita.
Este é o caso do procurador de Justiça Sérgio Harfouche, que ficou famoso ao encampar o programa voltado para educar estudantes. A iniciativa criou várias “leis Harfouche” no País. Com exceção da polêmica no Fantástico, programa da TV Globo, por obrigar os pais a participarem do evento no Estádio Douradão, em Dourados, que teve pregação religiosa, ele mantém a boa imagem e tem potencial de crescimento.
Na pesquisa da Ranking, Harfouche surge com 4,7%, um índice extraordinária para o candidato do PSC, que praticamente não fez campanha. É candidato forte a surpreender com a abertura das urnas.
Sem o apoio dos jornais, do Governo e de um grande partido, ele conseguiu superar o ex-secretário estadual de Infraestrutura, Marcelo Miglioli (PSDB), que ficou com ínfimos 3,82%. Candidato do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), ele não conseguiu alcançar dois dígitos a quatro meses da eleição.
O produto rural Chico Maia, do Podemos, tenta retornar à política após 22 anos. Ex-vereador da Capital e vice-prefeito de Juvêncio César da Fonseca (MDB), ele foi presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul). Sobre a ligação com o ex-prefeito, Maia conta que romperam logo após a posse, porque Juvêncio era do grupo de Marcelo Miranda e ele, da ala de Lúdio Coelho.
Dono da empresa Zoom Publicidade, Maia aproveitou para divulgar suas palestras por meio de vários outdoors espalhados pela cidade. Além desta divulgação, ele tenta pegar carona na popularidade do juiz federal Odilon de Oliveira (PDT), o pré-candidato a governador que lidera as pesquisas. Até o momento, só conseguiu superar o candidato tucano e atingiu 4,32%.
Ignorada pelo instituto de pesquisa, Soraya Thronicke (PSL) é pré-candidata do presidenciável Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas para presidente em Mato Grosso do Sul. Nascida em Dourados, advogada e empresária, ele é a autora da ação popular contra Reinaldo e a JBS, que pede o bloqueio dos bens de ambos devido a suspeita de pagamento de propina em troca de incentivos fiscais.
Soraya integrou os movimentos Pátria Livre e Reaja Brasil, que lideraram as manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) no Estado. Esta experiência de liderar os protestos a levou a política. “Entendi que se quisermos realmente mudar a realidade do País, precisamos participar efetivamente na política”, defende. Ela será candidata pela primeira vez na vida.
O primeiro a ser eleito na esteira dos protestos de 2013 foi o vereador Vinícius Siqueira (DEM), que vem atropelando os políticos tradicionais no legislativo e dando dor de cabeça ao prefeito Marquinhos Trad (PSD).
Outros candidatos a senador são o ex-superintendente regional do Ibama, Dorival Betini (PMB) e o presidente regional do PCdoB, Mário Fonseca.
Os políticos tradicionais buscam se socorrer nas máquinas das prefeituras, das câmaras municipais e do Governo e nos tempos de televisão dos partidos.
No entanto, esta campanha tende ser a decidida nos grupos de whatsapp. O aplicativo é utilizado por 46% dos brasileiros para buscar notícias. Se por um lado, será uma campanha a margem dos veículos tradicionais de comunicação, também será a oportunidade sem limites do fakenews.
Não será fácil para o eleitor, mas, com certeza, será a oportunidade para fazer a diferença.
No entanto, ainda tem político e barnabé apostando que a eleição será decidida nos bastidores, sem a participação efetiva do eleitor. Só com o tempo, veremos o que já mudou de fato no Brasil.
Pedrossian perdeu duas eleições “ganhas”
O ex-governador Pedro Pedrossian é o maior exemplo de que a liderança nas pesquisas não representa vitória. Ele perdeu duas eleições consecutivas que começou na liderança.
Em 1998, o ex-governador era dado como favorito para voltar ao comando do Governo pela quarta vez. No entanto, ignorou o desgaste causado pelas obras inacabadas, alvo de campanha da gestão de Wilson Barbosa Martins (MDB).
Pedrossian foi atropelado pelo azarão Zeca do PT, que surpreendeu ao ir no segundo turno por ser petista na terra do boi e da soja, e pelo tucano Ricardo Bacha, que teve o apoio da máquina do Estado e do MDB. O petista venceu no segundo turno.
Em 2002, o ex-governador tentou voltar como candidato a senador e liderou as pesquisas até o último segundo. Ele acabou derrotado pelo estreante Delcídio do Amaral, na época no PT e impulsionado pelo Governo de Zeca do PT.
Em 1996, o ex-prefeito Levi Dias liderou as pesquisas para prefeito de Campo Grande, mas acabou fora do segundo turno. Zeca e André Puccinelli fizeram o duelo épico, que terminou com a vitória do emedebista por 411 votos.
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