O ministro Carlos Marun, secretário de Governo de Michel Temer (MDB), acionou a Polícia Federal para abrir inquérito contra o site O Jacaré. Incomodado com as críticas, um dos principais defensores da cúpula do MDB, o deputado federal licenciado repete atos da ditadura militar, quando jornalistas eram levados à PF para explicar reportagens jornalísticas.
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Para encurralar o jornalista, o ministro mostra-se ofendido por ser citado como integrante da “Tropa de Choque” do ex-presidente da Câmara, ex-deputado Eduardo Cunha (MDB), condenado a 14 anos de prisão por corrupção e preso em Curitiba.
Veja a matéria que motivou o inquérito:
Cunha mantinha bancada a base de propina e mesada, mas Marun era fiel só por “amor”, diz delator
A representação contra o jornalista Edivaldo Bitencourt, editor do blog, foi feita pelo advogado Marco Antônio Rodrigues, nomeado no mês passado para assumir a Superintendência do Patrimônio da União em Campo Grande.
De acordo com a “Notitia Crimimis”, artigos veiculados pelo O Jacaré “imputam falsamente fatos definidos como crime contra o deputado federal Carlos Marun” e ofendem a reputação e a dignidade do parlamentar.
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O alvo da representação é a matéria sobre a delação feita pelo operador do MDB, Lúcio Bolonha Funaro. Na revelação, o economista diz que Cunha mantinha uma bancada de deputados mediante o pagamento de propina, mas que não era o caso do ministro.
Conforme relato do delator, Cunha dava “estofo” a Marun. O site fez a tradução desta palavra, que significa “agrado” ou “gorjeta simbólica”. Marun ficou irritadíssimo com o título: “Cunha mantinha bancada mediante propina e mesada, mas Marun era fiel só por ‘amor’, diz delator”.
Para o secretário de Governo, a PF foi acionada para abrir inquérito porque a matéria tem a nítida impressão de ironizar e desvirtuar a verdade dos fatos veiculados em rede nacional sobre a delação de Lúcio Funaro.
Conforme seu advogado, Marun não “fez parte dessa turma venal”. Na representação, o ministro ressalta que nunca afiançou que “Cunha era inocente das pesadas acusações que lhe rotulavam”. E até lamente ter levado a fama de principal defensor do ex-deputado. “Porém, mesmo assim, ficou nele o rótulo de que chefiava a Tropa de Choque de Cunha”, enfatiza.
A abertura de inquérito 569/2017 foi determinada pelo delegado Marcelo Alexandrino de Oliveira, da Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande.
A intimação para prestar depoimento foi feita por meio de carta. O jornalista foi ouvido na quarta-feira passada (9) pelo delegado Guilherme Guimarães Farias, em substituição ao presidente do inquérito.
Além da Polícia Federal, O Jacaré foi acionado na Justiça pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que ingressou com 16 ações. O tucano também se sentiu incomodado com as críticas a administração estadual e a revelação das investigações em curso no Superior Tribunal de Justiça.
Durante os anos de chumbo do regime militar, entre 1964 e 1985, jornalistas eram convocados frequentemente pela PF para explicar o teor das denúncias e reportagens consideradas ofensivas ao então governo.
Acostumado e famoso pela língua ferina em atacar os adversários, Marun não gosta de críticas à sua conduta.
Com Cunha enrolado com ações criminais, ele passou a ser ardoroso defensor de Temer, o primeiro presidente formalmente acusado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar uma organização criminosa.
Além de tudo isso, o presidente da República ainda é alvo de rumorosa investigação da Polícia Federal no caso de pagamento de propinas no caso dos portos.
Repetindo a fama de fiel amigo, como é de André Puccinelli (MDB), que chegou a ser preso na Operação Lama Asfáltica, o ministro ameaçou pedir o impeachment do ministro Luís Carlos Barroso, do Supremo Tribunal Federal, só porque ele ousou quebrar o sigilo do chefe do Poder Executivo.
Marun usa a estrutura do poder para tentar calar os inimigos, temos esperança de que a sociedade brasileira não permitirá esta insanidade.
Sem liberdade de imprensa, não há progresso. Sem liberdade de imprensa, só sobrevivem os sanguinários, da direita ou da esquerda.
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