Depoimentos e documentos complementares apresentados na delação premiada da JBS apontam cinco fatos novos envolvendo o ex-governador André Puccinelli (MDB), o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o deputado federal Zeca do PT. A revelação consta de requerimento feito na quarta-feira, pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal.[adrotate group=”3″]
No geral, conforme o Ministério Público Federal, são 80 fatos novos envolvendo políticos de todas as ideologias e categorias, que vão desde ex-prefeitos do interior de Minas Gerais ao presidente da República, Michel Temer (MDB), investigado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar uma organização criminosa.
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A colaboração premiada da JBS foi homologada há um ano, em 11 de maio de 2017. Na época, os delatores já acusaram o governador de ter recebido R$ 38,4 milhões em propinas em troca da concessão de benefícios fiscais ao grupo. Puccinelli teria recebido R$ 112 milhões, enquanto Zeca só foi citado como pioneiro no esquema.
Os delatores apresentaram novos documentos e depoimentos em 30 de agosto do ano passado, dentro do prazo legal de 120 dias. Somente nesta semana, a procuradora concluiu a análise e encaminhou o requerimento a Fachin propondo os encaminhamentos.
Em novo depoimento à Justiça, o ex-presidente da J & F Investimentos, Joesley Mendonça Batista, apresentou o anexo complementar 02 para reforçar o depoimento feito no Termo de Colaboração de o executivo Valdir Aparecido Boni. Ela pediu o encaminhamento do novo anexo ao Superior Tribunal de Justiça, que já abriu inquérito para investigar o governador e o antecessor no cargo.
O mesmo destino deverá ter o Termo de Colaboração Complementar 1 e o anexo 1 de Boni, que vão complementar o Termo de Colaboração 2 do próprio delator. Estes novos documentos envolvendo Puccinelli e o seu ex-operador, o empresário Ivanildo da Cunha Miranda. Raquel pediu o envio para o STJ, onde o emedebista já é investigado junto com o tucano.
Ivanildo assinou acordo de delação premiada no ano passado e confirmou as acusações feitas na colaboração da JBS ao emedebista, que planeja disputar o comando do Governo do Estado pela terceira vez neste ano. As revelações fundamentaram parte da Operação Papiros de Lama, quinta fase da Lama Asfáltica realizada em novembro do ano passado.
O delator Florisvaldo Caetano de Oliveira, responsável pelos pagamentos feitos pela JBS, revela dois fatos novos. No termo de colaboração complementar 2, conforme a procuradora, ele envolve os empresários João Roberto Baird, Ivanildo Miranda e Antônio Celso. O MPF pede o envio deste caso para o STJ, para reforçar as denúncias apuradas no inquérito 1.190.
O segundo refere-se ao TC 2, que complementa as informações dos termos de Colaboração 1, do próprio Florisvaldo, e 2, de Boni. As revelações reforçam a denúncia contra Zeca, que se tornou alvo do inquérito aberto no início de abril pelo STF. O petista é acusado de iniciar a cobrança de propina em troca de incentivos em 2003.
O anexo complementar de Demilton Antônio de Castro traz denúncias mais abrangentes que vão corroborar as informações feitas no anexo complementar 1 do próprio delator e nos termos de colaboração 1, 2, 3 e 13 do executivo Ricardo Saud.
Nas novas revelações, Castro aponta o pagamento de caixa dois por meio de entrega de dinheiro em espécie e de notas fiscais frias a diversos políticos, como o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (MDB), o senador Renan Calheiros (MDB), entre outros. De Mato Grosso do Sul são citados André e Zeca.
Como existem muitos políticos com foro privilegiado, a procuradora-geral pede a abertura de novo procedimento no STF para apurar as novas denúncias, que são reforçadas por Joesey e Saud.
As novas revelações mostram que os políticos sul-mato-grossenses ainda vão enfrentar um longo período de desgaste com as denúncias envolvendo a delação premiada da JBS.
Alvo de inquérito no STJ, Reinaldo e André negam ter recebido propina e acusam os delatores de mentirosos. O tucano chegou a propor uma ação no Supremo para anular a delação porque os donos da JBS seriam chefes de uma facção criminosa e não poderiam ser beneficiados com o perdão judicial.
Os irmãos Batista perderam o direito ao perdão judicial e chegaram a ser presos neste escândalo, mas a Justiça não desconsiderou a delação premiada.
Zeca do PT também nega qualquer irregularidade e aponta erros nas declarações, como o fato de que ele era candidato a deputado federal em 2010. Na época, o petista disputou o governo e perdeu para André.