Um dos maiores escândalos de corrupção de Mato Grosso do Sul pode ter desfecho neste ano, duas décadas depois do ocorrido. Acusado de se apropriar de uma fortuna obtida com o leilão da sede da UCE (União Campo-Grandense dos Estudantes), Martin Areco Neto, ex-presidente da entidade, só decidiu aparecer após ter a prisão preventiva decretada pela Justiça.
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Ocorrido no início de 1996, o crime segue impune e praticamente acabou com a UCE, entidade que representa 200 mil estudantes na Capital, tem mais de sete décadas de história e foi base para início da carreira de políticos como o ex-prefeito da Capital e ex-senador Levi Dias e do presidente do Tribunal de Contas do Estado, o conselheiro Waldir Neves.
A história nebulosa começou com a cobrança de uma pequena dívida pelo Governo do Estado, na época, chefiado por Wilson Barbosa Martins (MDB), da UCE. Em meio a uma aguerrida disputa pelo controle da entidade, o Estado fez o leilão e vendeu o prédio para o Sesc (Serviço Social do Comércio), que o interligou à unidade Camilo Boni. O valor arrecadado somou mais de R$ 700 mil, uma fortuna na ocasião, fevereiro de 1996.
Martin Areco, então presidente da UCE, pegou o dinheiro e desapareceu. Sete anos depois, em 19 de março de 2003, o Ministério Público Estadual o denunciou por peculato e por ter se apropriado de R$ 589.207,20.
Valor atualizado do desvio de entidade estudantil supera R$ 2,2 milhões
Quando ocorreu o desvio, a Justiça analisava o depósito de R$ 589,2 mil na conta de Martin Areco.
Agora, considerando-se a inflação oficial dos últimos 22 anos, o montante desviado pode superar R$ 2,297 milhões, conforme cálculo disponibilizado pelo Banco Central.
No mês seguinte, o juiz Paschoal Carmello Leandro, que atualmente é desembargador, acatou a denúncia, determinou a quebra do sigilo bancário do dirigente estudantil e marcou audiência para ouvi-lo no dia 5 de abril de 2004.
Areco nunca foi encontrado para ser notificado pela Justiça. No entanto, todos os pedidos de prisão preventiva foram negados porque ele não tinha antecedente criminal.
Com o boato de que ele tinha sido localizado, no início do ano passado, a juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, determinou a notificação do ex-presidente e a reativação do processo.
No entanto, Areco não foi localizado nos endereços informados. Na primeira tentativa, em 6 de fevereiro do ano passado, o oficial de Justiça encontrou o morador que seria filho de Areco. Ao retornar ao mesmo local no dia seguinte, não encontrou nem vestígio da família do réu.
Sem sucesso em encontrar o acusado, o MPE voltou a fazer novo pedido de prisão preventiva, que foi negado em junho do ano passado por Eucélia. No entanto, em novembro, Tribunal de Justiça decretou a prisão preventiva do réu para garantir o julgamento do crime ocorrido há 22 anos.
Martin Areco Neto constituiu advogado para defendê-lo e, pela primeira vez, apresentou a defesa da acusação feita em 2003. Ele pediu a revogação da prisão preventiva e pediu a desclassificação do crime de peculato para apropriação indébita.
Como Areco não é funcionário público, a magistrada concordou com a mudança na tipificação do crime, mas negou o pedido para revogar a prisão preventiva.
Além de determinar a imediata captura do réu, Eucélia Moreira Cassal marcou o julgamento do ex-presidente da UCE para as 16h40 de 13 de setembro deste ano.
Residindo em São Paulo, o ex-presidente da UCE e candidato a governador do Estado em 2010, Sidney Mello, foi arrolado com uma das testemunhas de defesa.
O caso é emblemático e mostra a dificuldade para se punir a corrupção em Mato Grosso do Sul. Desde então, a UCE continua sem sede própria.
A entidade só não acabou de vez graças a carteirinha estudantil, que dá direito a meia entrada em eventos culturais e cinemas.
Em 1996, quando o prefeito era Juvêncio César da Fonseca (MDB), a entidade conseguiu uma das maiores conquistas para os estudantes, o passe livre. O benefício contempla todos os estudantes e mostra a importância de uma entidade forte e representativa.
Também não deixa dúvidas do que a corrupção é capaz de fazer na vida das pessoas. O leilão ocorreu em meio a uma onda de suspeitas.
O ginásio do SESC fica no Jardim dos Estados, área mais valorizada na Capital, e o valor desviado, em valores corrigidos, supera R$ 2,2 milhões, considerando-se a inflação oficial dos últimos 22 anos.