A Operação Lucro Fácil, realizada na semana passada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), serviu de alerta para aproximadamente 50 mil clientes da Minerworld. Desde outubro do ano passado, a empresa vem atrasando os pagamentos, mas vinha mantendo a fidelidade das “vítimas” graças a estratégia de apresentar sempre uma desculpa nova para o problema.
No entanto, a ação na Justiça, que determinou o bloqueio de R$ 300 milhões e a proibição de novos clientes, fragiliza o grupo em buscar alternativas para honrar os compromissos e manter o negócio. A abertura de investigação pelo Gaeco e a liminar do juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, jogam a Minerworld no “beco dos desesperados”, onde fica a turma com uma enorme dívida a ser honrada e sem solução à vista.
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A história começa a ficar melhor explicada com a ação de três investidores, que estão com R$ 184,5 mil aplicados na empresa. Conforme a ação, protocolada por um corretor de imóveis, um estudante e uma vendedora, o atraso no pagamento começou em outubro do ano passado.
A primeira desculpa da empresa foi de que houve um “fork” no Bitcoin, uma das criptomoedas mais valorizadas, que significa mudança de protocolo. O atraso persistiu e a Minerworld inventou uma nova desculpa, o feriado chinês. A terceira foi o mau tempo no Paraguai, onde está construindo os galpões de mineração.
Em outubro, quando a Polícia Federal começou a investigar a suspeita de pirâmide financeira e as queixas começaram a se amontoar no Reclame Aqui, cresceu o temor de golpe entre os investidores.
Na corrida contra o tempo para recuperar a saúde financeira, a companhia criou a própria criptomoeda, a MCash, e prometeu usar o faturamento para quitar o bônus de indicação. No entanto, a crise persistiu e a Minerworld, nem com o escritório virtual, o Miner 360, que chegou a ser considerado um reinício por alguns investidores, livrou as vítimas do atraso nos pagamentos.
Em janeiro, a corporação admitiu aos investidores que estava com dificuldade de caixa para honrar os compromissos. Na ocasião, conforme o advogado João Paulo Sales Delmondes, foram apresentados planos de compensação aos investidores. Eles poderiam receber o crédito em 24 vezes em Bitcoin ou poderiam ficar com 50% nesta moeda, parcelado em 12 vezes, e outra metade em MCash.
Somente neste mês, a MInerworld apresentou a última desculpa para calote. A empresa teria sido vítima do “golpe phishing”, praticado por hackers, que teriam surrupiado 850 Bitcoins, o equivalente a US$ 16 milhões nos Estados Unidos.
Para dar o golpe de misercórdia final, o Gaeco desencadeou a Operação Lucro Fácil, que teve como alvo a Minerworld, a Bit Ofertas Informática e a Bitpago Soluções de Pagamento, e os empresários Cícero Saad Cruz, 40 anos, Jonhnes de Carvalho Nunes, 30, e Patrícia da Silva Beraldo, 27.
Com a operação, a companhia perdeu, ainda mais, fôlego para se reerguer e honrar os compromissos. O mais estranho é a garantia de lucro de 100% em um ano.
Este é o alicerce da ação dos três personagens desta matéria, que cobram o dobro do investimento feito e indenizações pelos danos materiais (100% do investimento) e morais (R$ 10 mil para cada).
Eles pediram para integrar a ação do Ministério Público Estadual porque temem perder todo o dinheiro investido. Conforme a plataforma criada pela empresa para que as vítimas verifiquem o crédito, o prejuízo oscila entre US$ 3,7 mil e US$ 32,6 mil.
Uma viúva também ingressou com pedido para ser parte do processo. No entanto, ela não revelou o montante investido na compra de criptomoedas.
Este é o segundo caso envolvendo aplicação de dinheiro em busca de lucro extraordinário em pouco tempo. Em novembro do ano passado, a Operação Ouro de Ofir, da Polícia Federal, prendeu os sócios da Company Consultoria Empresarial acusados de aplicar golpe em 25 mil pessoas. Eles usavam a fé para convencer as vítimas a aplicar o dinheiro.
Nesta semana, de acordo com o Campo Grande News, as prisões não colocaram fim às atividades e quarto integrante do grupo foi preso após emitir R$ 2 bilhões em cheques, o valor gasto pela prefeitura da Capital em sete meses.
Os dois casos seguem sob investigação e não há conclusão dos inquéritos nem sentença final. No caso da Minerworld, o temor de calote causou pânico em 50 mil pessoas, algumas chegaram a investir todas as economias na esperança de obter uma vida melhor para a família.
Os golpes crescem na mesma proporção em que aumenta o número de pessoas desesperadas em busca de soluções para superar a crise econômica, causada pelo desemprego e perda do poder aquisitivo.