A extrema direita mostra as garras em Campo Grande ao atacar a audiência pública para discutir a “Fraternidade e Superação da Violência”, que acontece a partir das 14h desta sexta-feira na Assembleia Legislativa. Liderada por católicos fanáticos, que xingam o arcebispo metropolitano Dom Dimas Lara Barbosa e organizam a reza do terço para protestar contra o evento.
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O grupo sempre existiu na sociedade brasileira, mas só começou a sair do anonimato com o movimento de rua para defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A mobilização segue firme, agora, contra os partidos de esquerda.
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No Estado, a Tradição Católica Campo Grande, com 901 seguidores no Facebook, encampa a missão messiânica de acabar com o comunismo – em extinção até na China – e não poupa nem as autoridades católicas. Dom Dimas é chamado de “bispo vermelho” e de promover o “comunismo”.
A encrenca com o religioso ocorreu porque a audiência pública será presidida pelo deputado estadual Cabo Almi (PT), presidente da Comissão de Segurança Pública no legislativo. “É vergonhoso um arcebispo usurpar do seu cargo para defender o comunismo”, acusou um dos organizadores do protesto, Luiz Pereira, em entrevista ao Jornal de Domingo.
Ele culpa o comunismo pela perseguição aos cristãos na China, Coréia do Norte, Vietnã e Cuba. O país de Fidel Castro abriu as portas para o catolicismo há vários anos e chegou a receber de forma apoteótica o Papa João Paulo II, que virou santo após a sua morte.
No entanto, os católicos de extrema direita enxergam propagação do comunismo com a audiência pública para discutir a violência, um dos maiores problemas atuais do Brasil. Para realizar o protesto, eles vão usar a imagem de Nossa Senhora de Fátima e a reza do terço na frente do plenário, onde será realizado o debate.
Na página da rede social, o grupo propõe o “santo terço em protesto contra a infame reunião de prelados da igreja com partidos de índole comunista”. Eles pretendem fazer “reparação pelas ofensas contra Deus realizadas pela audiência comunista”.
A manifestação preocupou o arcebispo, que gravou um vídeo para explicar os objetivos da audiência e se justificar sobre a presença do deputado petista no evento. O religioso destaca que todos os deputados foram convidados, principalmente, o presidente da Assembleia, Júnior Mochi (MDB), e ressalta que Almi é o presidente da Comissão de Segurança Pública.
Dom Dimas frisa que a audiência é resultado da Campanha da Fraternidade, realizada todos os anos na Quaresma. “É um tema de extrema relevância”, destaca. Ele explica que foram criados 11 grupos para debater as mais diversas formas de violência, que vão desde o acidente de trânsito até o crime organizado.
O arcebispo lamenta a convocação do protesto com a reza do terço para Nossa Senhora de Fátima. “Todo têm direito de se manifestar”, frisa, convidando os manifestantes para participar do evento.
Na conclusão do vídeo, Dom Dimas faz um apelo para que os grupos evitem provocações. “Todos têm o direito de se manifestar, eu só espero que os grupos a favor e contra a audiência pública, não entrem em contendas. Aqueles que forem participar o façam com a mentalidade que todos nós esperamos: a de sermos construtores da paz. Felizes os que promovem a paz”, conclui.
O vídeo do arcebispo não foi bem recebido pelo grupo de extrema direita. “Ainda tem a cara de pau de falar de suas boas intenções”, escreveu o coronel Luiz Schettini, do Exército. Além de manifestar a intenção de participar do protesto, o militar não sinaliza com a paz. “E se alguém nos agredir, será por ordem sua”, diz, referindo-se ao religioso.
O movimento em defesa da família e da tradição católica já fez parte da história brasileira. Em 1964, o movimento levou milhares às ruas contra a destituição do presidente João Goulart, o Jango (PTB), e para apoiar o golpe militar.
Renascido das cinzas após 33 anos de democracia graças às redes sociais, o movimento deve marcar presença nas eleições deste ano. O grupo simpatiza com a pré-candidatura a presidente do deputado Jair Bolsonaro (PSL).
No Estado, a pré-candidata a senadora, Soraya Thronicke, apoia o movimento. No entanto, O Jacaré não conseguiu falar com a advogada, uma das autoras da ação popular que pede o bloqueio dos bens da JBS e do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) com base na delação premiada do grupo homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
A mobilização da extrema direita é mundial e vem ganhando musculatura política em vários países. Para os militantes de esquerda, o grupo propaga a xenofobia, o fascismo e a homofobia.
Apesar de a convocação ser apenas para a reza do terço, com os ânimos exaltados desde o impeachment de Dilma, o legislativo deve a reforçar a segurança de hoje. O estoque de água benta e a reza não serão suficientes para alcançar o milagre que o Brasil precisa: um debate civilizado para superar a violência, a crise, a corrupção, o caos.