Com os direitos políticos suspensos até 2026 e réu na Operação Lava Jato, o ex-senador Delcídio do Amaral dá os primeiros passos para retornar à cena política sul-mato-grossense. Ao filiar-se ao PTC (Partido Trabalhista Cristão), ele faz as pazes com dois adversários políticos poderosos e sinaliza apoio à pré-candidatura do ex-governador André Puccinelli (MDB) nas eleições deste ano.
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Último político estadual a ter grande projeção nacional, só comparável ao senador Ramez Tebet (MDB), que foi ministro da Integração Nacional e presidente do Congresso Nacional, Delcídio caiu em desgraça quando era líder do Governo Dilma Rousseff (PT) no parlamento. Na época, o então senador foi preso ao ser gravado tentando comprar o silêncio e propondo fuga ao delator da Laja Jato e ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró.
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Primeiro senador preso no exercício do mandato na história da República, ele ficou preso por quase três meses e foi solto ao assinar acordo de delação premiada.
No entanto, a derrocada de Delcídio começou na campanha eleitoral de 2014, quando enfrentou feroz oposição do Correio do Estado, de Antônio João Hugo Rodrigues. Ele foi candidato a senador na chapa de Reinaldo Azambuja (PSDB). O então senador liderou todas as pesquisas para o Governo, mas perdeu no segundo turno.
Agora, Delcídio retomou a amizade com Antônio João, que foi seu suplente de senador em 2002 e chegou a ocupar uma vaga no Senado por quatro meses em 2006. Ambos se filiaram ao mesmo partido. AJ será candidato a deputado estadual nas eleições deste ano, no segundo teste nas urnas.
Aqui surge o problema, Delcídio está com os direitos políticos suspensos em decorrência da cassação do mandato por oito anos, que começa a contar a partir deste ano. Conforme o artigo 16 da Lei 9.096/95, o eleitor com direitos políticos suspensos não pode se filiar a partido político.
Advogado constitucionalista e ex-juiz eleitoral, André Borges, ao examinar o caso do ex-senador, em tese, avalia que cabe impugnação de algum filiado ou do Ministério Público. “Ilegal, claramente”, frisa.
No entanto, apesar da lei ser clara, o assunto não é consenso. O advogado Lairson Palermo entende que pode se filiar, mas fica com a capacidade política limitada, já que não pode ser candidato. Para todos os efeitos legais é ficha suja, mas não há impedimento para ocupar o espaço político.
Ciente de que ainda não recuperou os direitos políticos, o ex-senador garante que não tem se envolvido com política em Mato Grosso do Sul. “Estou trabalhando no front juridico,sem o qual nica de catibiriba de politica!!”, afirmou, recorrendo à expressão que significa “nada de política”.
No entanto, com a filiação a um partido político, Delcídio sinaliza duas coisas. A primeira é que apoia Puccinelli, que o derrotou em 2006. Ele mantém a campanha contra o atual governador Reinaldo Azambuja, com quem dividiu palanque por meses entre 2013 e 2014.
A segunda é de que tem esperanças de recuperar os direitos políticos antes para voltar à ativa. Cassado pelo Senado por ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres (DEM/GO) conseguiu sair da ficha suja graças ao Supremo Tribunal Federal.
Aécio Neves (PSDB), que foi gravado pedindo propina de R$ 2 milhões, propondo a obstrução da Lava Jato e ainda defendendo o assassinato para evitar delação, não foi cassado pelo Senado.
No entanto, as coisas não vão ser tão fáceis. No mês passado, Delcídio se tornou réu, pela primeira vez, na Operação Lava Jato de Curitiba, que vem destruindo reputações no mesmo ritmo do nome.
O juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia pelo pagamento de US$ 15 milhões de propina na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O ex-petista teria ficado com US$ 1 milhão.
No entanto, na bagunça em que o STF transformou a República, não custa nada sonhar. Delcídio apenas entra na onda das autoridades de Brasília e colar, colou.