A Justiça aceitou a denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro contra 18 pessoas investigadas na Operação Antivírus, realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Entre os réus estão o ex-vice-governador e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Ary Rigo, o diretor-presidente do Departamento Estadual de Trânsito, Gerson Claro, o ex-vereador Roberto Durães (PSL), o presidente da Digix, Jonas Schimidt das Neves, e o diretor do Tribunal de Contas do Estado, Parajara Moraes Alves Júnior.
A juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, aceitou, nesta quarta-feira (11), a denúncia por corrupção passiva e ativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, dispensa de licitação, peculato e organização criminosa. Os integrantes da suposta quadrilha podem ser condenados a pagar R$ 50 milhões aos cofres públicos.
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A magistrada negou o pedido de prisão preventiva contra os chefes da grupo criminoso, mas manteve as medidas cautelares impostas pelo Tribunal de Justiça em agosto do ano passado, como o comparecimento mensal ao juízo e proibidos de manter contatos com servidores do Detran.
O MPE pediu a prisão preventiva para garantir a ordem pública devido à gravidade das denúncias e do poder econômico e políticos dos envolvidos no suposto esquema de corrupção, que poderiam intimidar as testemunhas.
Como o Tribunal de Justiça revogou as prisões preventivas no ano passado, Eucélia manteve as medidas cautelares. Ela determinou que mais acusados passem a cumprir as restrições: a diretora da Digix, Suely Aparecida Almoas Ferreira, Parajara Moraes Júnior e José Sérgio Paiva Júnior.
É a primeira vez na história que um ex-presidente da Assembleia Legislativa se torna réu por corrupção, peculato e organização criminosa. Rigo foi deputado estadual ainda pelo Mato Grosso uno e é considerado uma das lendas da política sul-mato-grossense, sendo fundamental na governabilidade.
Ele foi vice-governador na chapa com Pedro Pedrossian, que morreu no ano passado, e se revezou com Londres Machado no comando do legislativo estadual. O deputado caiu em desgraça em 2010, quando acabou no furacão da Operação Uragano, na qual apareceu em gravação de vídeo apontando o pagamento de mensalão para integrantes do Tribunal de Justiça (R$ 900 mil), para o então chefe do MPE, Miguel Vieira da Silva (R$ 300 mil), ao governador André Puccinelli (MDB, com R$ 2 milhões) e deputados estaduais.
Rigo acabou não se reelegendo em 2010, mas manteve a influência política. Para o Gaeco, ele seria sócio oculto da Digix, empresa de informática que funcionou durante anos no mesmo endereço do seu escritório político. A Digix mantém contratos milionários com o Governo do Estado.
Em interceptações telefônicas, feitas com autorização da Justiça, o ex-deputado intercede junto ao prefeito Marquinhos Trad (PSD) para que a prefeitura contrate os serviços da empresa. O Gaeco aponta o repasse contínuo de recursos pela Digix para o tucano.
Gerson Claro acabou renunciando ao cargo de diretor-presidente do Detran após ser afastado do órgão pelo Tribunal de Justiça. Preso na operação, ele sonha em conquistar um mandato de deputado estadual.
Claro se filiou ao PP, comandado pelo ex-prefeito Alcides Bernal. A filiação do ex-presidente do Detran, agora réu por corrupção, e do veterinário Rafael Cordeiro, o ex-BBB Fael, sinalizam aliança entre Bernal e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) nas eleições deste ano.
A denúncia não arranhou a reputação de Parajara, que tem salário de R$ 23,8 mil como diretor do TCE. Aliás, a corte fiscal ignorou solenemente a investigação e contratou a Pirâmide Informática, pivô no escândalo, por R$ 9,4 milhões para prestar serviços por mais um ano.
Se surgir fato novo, como intimidação de testemunha ou manutenção do esquema de corrupção, a juíza admite que poderá reavaliar o pedido de prisão preventiva do grupo.
Eles ganham 10 dias para apresentar a defesa e o processo começa a tramitar na esfera criminal.
Confira os réus na Operação Antivírus:
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Jonas Schimidt das Neves (dono da Digix)
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Suely Aparecida Carrilhos Almoas Ferreira (sócia e superintendente da Digix)
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José do Patrocínio Filho (dono da Pirâmide Informática)
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Fernando Roger Daga (sócio da Pirâmide Informática)
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Anderson da Silva Campos (sócio da Pirâmide Informática)
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Luiz Alberto de Oliveira Azevedo (técnico da Secretaria de Fazenda e ex-assessor da Segov)
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Gerson Claro Dino (ex-diretor-presidente do Detran)
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Celso Bras de Oliveira Santos (ex-diretor do Detran)
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Gerson Tomi (ex-diretor do Detran)
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Donizete Aparecido da Silva (ex-diretor adjunto do Detran)
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José Sérgio de Paiva Júnior (dono da empresa North Consult)
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Parajara Moraes Alves Júnior (diretor de controle interno do TCE)
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Danielle Correia Maciel Rigotti (diretora da Digix)
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Ary Rigo (ex-deputado estadual e ex-vice-governador)
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Claudinei Martins Rômulo (funcionário da Digix)
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João Batista Pereira Lopes
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Elso Correa de Souza
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Roberto Santos Durães (ex-vereador da Capital)
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