Dois acontecimentos nos últimos dias impuseram choque de realidade aos factoides criados ao sul-mato-grossense Carlos Marun. O primeiro foi a prisão dos amigos do presidente Michel Temer (MDB) no inquérito que apura suposto pagamento de propina no Porto de Santos. O segundo foi a invasão da Funai (Fundação Nacional do Índio) de Campo Grande, na manhã de hoje, pelos índios.
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No final de março, indignado com a quebra do sigilo do amigo presidente, a quem dedica fidelidade canina e acredita ser inocente, Marun anunciou que voltaria a ocupar o cargo de deputado federal para pedir o impeachment do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.
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O emedebista decidiu elevar o tom com o ministro como retaliação pela quebra dos sigilos bancários e fiscal de Temer. O objetivo é verificar se há indícios de enriquecimento ilícito e respaldar a investigação que apura o pagamento de propina pelo grupo Rodrimar. A empresa teria pago vantagens financeiras para ser beneficiada pelo decreto dos portos, que prorrogou a concessão por mais 35 anos sem licitação.
Marun apontou outro fato para justificar a cassação do ministro, a mudança no decreto de indulto de Natal, que previa o perdão aos criminosos condenados por corrupção e por crimes do colarinho branco. Ele acusou Barroso de ter sido conivente com Dilma Rousseff (PT), que editou decreto semelhante e teria beneficiado petistas como José Genoíno e Delúbio Soares.
Barroso não só manteve a rotina, como subiu o tom. Na quinta-feira passada, decretou a prisão de amigos históricos e notórios de Temer, como o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima Filho, na Operação Skala. Outras nove pessoas passaram o feriadão na cadeia.
Segundo nota do jornal O Estado de São Paulo, assessores do presidente classificaram a ofensiva de Marun de desastrada e o apontaram como responsável pela decisão do ministro do STF.
O impeachment beira tanto o ridículo que nem o advogado Fábio Trad (PSD), que ocupa a vaga de Marun na Câmara, aprovou a iniciativa e pediu para o ministro rever a decisão para evitar mais um vexame para Mato Grosso do Sul.
Nesta segunda-feira, os índios da etnia Terena ocuparam a Funai em protesto contra os atos do administrador regional, Paulo Rios Júnior, indicado para o cargo por Marun apesar da resistência de indígenas e funcionários. A nomeação levou nove meses.
De acordo com o Top Mídia News, o assessor de Marun passou a reconhecer aldeias inexistentes. Também inventou “certificado de cacique”, que passou a distribuir aos índios aliados.
Rios reagiu à ocupação acusando os índios de violentos. O Campo Grande News deu de manchete: “grupo agride coordenador da Funai”. Como tudo que envolve a turma de Marun, o factoide não tem limites.
De acordo com o jornal Correio do Estado, índios e funcionários contaram que Rios não quis conversa com o grupo e levou um tombo ao atravessar a rua correndo. As lesões bastaram para o coordenador acusar os índios de agressão na Polícia Federal.
O grupo mostrou-se mais esperto do que o coordenador e garante ter imagens da queda. Os índios devem, mais uma vez, mostrar ao ministro Carlos Marun que factoide não resiste a realidade.
Sem recursos e sucateada, a Funai é considerada estratégica pelos índios e pelos produtores rurais. O órgão não dispõe de dinheiro para dar melhores condições de vida aos índios que residem nas 12 aldeias da região, mas agiliza a parte burocrática que lhes garante algum alento em um país onde as minorias são tratadas a pão e água.
Já os produtores rurais apostam no controle da Funai para suspender os processos de demarcação e ampliação das reservas indígenas. A outra frente da classe é no Congresso, onde defendem o projeto de lei que retira da Funai a última palavra sobre a demarcação da área indígena.