O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB), gastou R$ 318 mil da verba como deputado federal com a locação de veículos da empresa do ex-funcionário de campanha. Detalhe, apesar de gastar a verba com combustível em Campo Grande, os carros eram locados na cidade de Maracaju, a 160 quilômetros da Capital.
A revelação foi feita nesta quinta-feira pelo repórter Filipe Coutinho, do BuzzFeedNews. Sempre desbocado, o emedebista afirmou que não é obrigado a fazer contratos com empresas de adversários políticos.
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O mínimo que se cobra do parlamentar licenciado é lisura e transparência no gasto público. No entanto, para Marun, que não teve vergonha de defender o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), cassado, preso e condenado por corrupção, não se deve esperar a prática dos princípios republicanos.
Conforme reportagem do site BuzzFeedNews, a Câmara dos Deputados pagou R$ 318 mil pela locação de veículos para Marun à empresa Neto Car Guinchos, de Cecílio Amrila Neto. Ele é filiado ao MDB desde 5 de outubro de 2007.
Além disso, Neto é funcionário comissionado da Prefeitura de Maracaju, comandada por Maurílio Azambuja (MDB). O município lhe paga salário de R$ 3,5 mil por mês.
Cecílio Neto foi funcionário da campanha de Marun a deputado federal em 2014, que lhe pagou R$ 10 mil.
Apesar da locadora ser do ex-funcionário de campanha estar localizada em Maracaju, o ministro só desembolsou com o pagamento de combustível nos postos de Campo Grande e Brasília. Foram desembolsados R$ 177 mil no período, um valor alto, conforme observação feita pelo repórter.
Conforme informações do deputado federal licenciado, foram locados quatro veículos. Um para ser usado em Brasília, o segundo ficava a sua disposição em Campo Grande e o terceiro para percorrer outras cidades. Assessores usavam o quarto para percorrer o Estado.
Marun se justificou sobre o gasto com combustível, que estaria dentro da cota permitida pela Câmara dos Deputados (R$ 12 mil).
“Sempre fomos bem atendido pela locadora, e nada me obriga a locar veículos de propriedade de adversários políticos”, justificou o ministro, que não encontrou nenhuma locadora na Capital para beneficiar justamente a do cabo eleitoral da campanha.
O funcionário da prefeitura de Maracaju torce para que Marun volte a ocupar o cargo de deputado. “Ele cotava comigo, acertava o preço e eu entregava no escritório de Campo Grande. Era uma quantidade boa”, justificou.
“Eu emitia as notas conforme orientação da Câmara. Nos contratos todos os meses seguiam com as notas fiscais, seguro, os documentos dos veículos em nome da empresa e a avaliação da tabela Fipe. É o procedimento da Câmara”, explicou.
Não é apenas isso. Cecílio informou que trabalhou na prestação de contas de Marun.
Quando o dinheiro gasto é do povo, não há limites para as justificativas mais improváveis.
Marun é o principal articulador político de Michel Teme (MDB), o primeiro presidente denunciado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar uma organização criminosa.
O ministro ainda se tornou o principal cabo eleitoral do ex-governador André Puccinelli (MDB), principal alvo da Operação Lama Asfáltica, que apura desvio de R$ 242 milhões envolvendo o emedebista.
Para Marun, o ex-governador é vítima de grande armação e é inocente das acusações de corrupção, peculato e fraude em licitações, como aponta a Polícia Federal.