A Operação Lama Asfáltica, maior operação de combate à corrupção em Mato Grosso do Sul, patina na apuração dos desvios cometidos no Estado em decorrência da falta de verba e de efetivo. No entanto, a investigação levou à rescisão da delação premiada do dono e executivo da JBS, Wesley Batista e Francisco de Assis e Silva. Só para se ter ideia do estrago, o grupo faturou R$ 174 bilhões em 2015.
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A colaboração premiada foi rescindida pela procuradora geral da República, Raquel Dodge, com base na apreensão do celular de Wesley na Operação Máquinas de Lama, 4ª fase da Lama Asfáltica, realizada em maio do ano passado.
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Nas conversas desvendadas pela equipe da Polícia Federal de MS, Wesley e Francisco participavam de um grupo de whatsapp com o ex-procurador da República Marcelo Miller. Ainda como integrante da Procuradoria Geral da República, Miller prestou serviço ao grupo e orientou a delação premiada dos irmãos Batista, que levou a revelação de um dos maiores escândalos de corrupção do País, que envolvia 1,7 mil políticos.
Conforme parecer da procuradora, a rescisão não anula as provas contra os políticos. Na prática, só acaba com o perdão dos irmãos Batista. Como Joesley Batista e Ricardo Saud já tiveram o acordo rescindido ainda pelo então procurador geral da República Rodrigo Janot, os quatro poderão ser condenados pelos crimes investigados. Confira o parecer da PGR.
Na delação premiada, os donos e executivos da JBS acusaram o pagamento de propina de R$ 112 milhões ao ex-governador André Puccinelli (MDB) e de R$ 38,4 milhões ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB). O processo se transformou em inquérito e tramita em sigilo no Superior Tribunal de Justiça, onde o tucano tem foro privilegiado.
Por outro lado, no seu próprio quintal, a Lama Asfáltica ainda patina. O diretor geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, anunciou, na posse, que a operação era uma das prioridades da corporação.
No entanto, o novo superintendente, o delegado Luciano Flores, 39 anos, assumiu e constatou uma situação desoladora. Conforme o Campo Grande News, falta pessoal para criar uma força-tarefa para acelerar a Lama Asfáltica, que já fez cinco operações, constatou indícios de desvios de mais de R$ 300 milhões e levou à prisão de Puccinelli, em 14 de novembro do ano passado.
Ele contou que a superintendência conta com orçamento de R$ 11,7 milhões para este ano. O valor é inferior ao da delegacia da PF em Foz do Iguaçu (PR), que também faz fronteira com o Paraguai. No entanto, a cidade paranaense tem 264 mil habitantes, contra a população de 2,7 milhões de Mato Grosso do Sul.
Além disso, a PF é responsável pelo combate a crime nos 750 quilômetros de fronteira com o Paraguai e a Bolívia, principais rotas do tráfico de cocaína e maconha, e do contrabando de armas e cigarros.
Flores tem disposição para o trabalho, com provou ao cumprir a ordem judicial polêmica de conduzir coercitivamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 4 de março de 2016 na Operação Aletheia, 24ª da Lava Jato.
No entanto, ele lamentou a estrutura da corporação para colocar o trabalho em prática. Por enquanto, conforme informou a reportagem do site, a proposta de ampliar a equipe encarregada pela Lama Asfáltica ficou apenas na intenção.
A informação aumenta o desalento do sul-mato-grossense com a corrupção, que segue impune. Iniciada em 2013, a operação parou duas vezes por causa do foro privilegiado dos envolvidos, Edson Giroto, na época deputado federal, e Puccinelli, governador.
Só ganhou gás em julho de 2015 com o fim do foro privilegiado de ambos, que fizeram a opção de não disputar nenhum mandato.
Até o momento, o MPF ajuizou seis ações penais contra Giroto e uma contra o ex-governador. As investigações seguem sem previsão de término.
O seguimento também é demorado, já que a Justiça Federal de Campo Grande ainda julga desvios ocorridos em 1999, quase duas décadas.
No Brasil, a Lava Jato sob o comando dos juízes Sérgio Moro, no Paraná, e Marcelo Bretas, no Rio de Janeiro, é uma ação em agilidade e eficiência no combate aos desvios do dinheiro público.