Causou fúria nas redes sociais a proposta para criar auxílio transporte, de R$ 4,7 mil a R$ 6,09 mil, novo penduricalho para elevar os supersalários de juízes e desembargadores de Mato Grosso do Sul. A OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil) criticou o projeto. O mais sinistro, a Assembleia Legislativa tirou do ar a matéria falando do projeto enviado na quinta-feira pelo presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Divoncir Schreiner Maran.
A criação do benefício e o aumento de até 48% nas taxas dos cartórios aumentou a pressão sobre os deputados estaduais. O encarecimento das tarifas extrajudiciais, uma das mais caras do País, será uma das medidas para elevar a arrecadação do FUNJECC (Fundo Especial de Instalação, Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), que bancará a criação do novo penduricalho.
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Além de moradia, saúde e alimentação, juízes querem auxílio transporte de até R$ 6 mil
Atualmente, os juízes sul-mato-grossenses recebem o maior salário do País, conforme levantamento do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). No ano passado, o valor médio foi de R$ 95,5 mil por mês.
Além do subsídio de R$ 23.512.65 a R$ 30.471,11, o magistrado recebe auxílios saúde (R$1.175 a R$ 1.523), alimentação (R$ 1.175 a R$ 1.523) e moradia (R$ 6.661 a R$ 12.188). Agora, poderá ganhar um novo benefício, o auxílio transporte, de R$ 4.702 a R$ 6.094.
Para o presidente da OAB/MS, Mansour Karmouche, criticou a medida. “Os chamados ‘penduricalhos’ aviltam as carreiras, transmitindo uma sensação equivocada de desequilíbrio financeiro por parte da sociedade sobre as categorias que compõem o sistema de justiça”, afirmou, em nota.
Apesar dos altos salários dos juízes e desembargadores, a entidade acha necessário o debate sobre o reajuste do subsídio, “demonstradamente defasado”. Considerando-se, que o trabalhador brasileiro teve aumento de míseros R$ 17 no salário mínimo, que oscilou de R$ 937 para R$ 954, fica o leitor para analisar o salário do magistrado sul-mato-grossense – que ganhou 100 vezes mais por mês.
As frases sobre o auxílio transporte
Na página de O Jacaré, no Facebook, a indignação foi predominante:
“Cara de pau” (Neusa Buss)
“Falta desconfiometro e sobra cara de pau Que país é esse?” (Sirlene Pirolo)
“Tirar mais o que do povo,..misericórdia …ainda querem mais, enquanto o povão passa fome, desemprego, a saúde de mal a pior… e eles acham pouco o q eles ganham.” (Marialva Martini)
“Se for verdade esse juízes perderam de vez o que tinham de vergonha na cara” (Leonardo Munitinho)
“Não querem o céu também não ???? Não…Acho que isso é o céu pra eles…Que nojo!!!!” (Selma Nogueira)
“Não está certo. Tudo tem limites” (Marcos Andrade)
“Farra completa!” (Pratick Hoffmann Antunes)
“Que horror! Será que eles sabem o valor do salário mínimo?” (Eva Enilde Fernandes)
“Eles não querem também auxilio de presença????Cada vez que compareça tribunal já tem uma cota a maisKKKKKKKKK” (Valério Lopes)
“É só a justiça Divina” (Alci Quadros Paim)
“É absurdo atrás de absurdo” (Vitorina Liuse Vera)
“Aí tá demais” (Valmir Moura)
“BRASIL!! ! NADA AQUI É SERIO!!” (Lilian Oshiro)
Se o autor se sentir incomodado com a reprodução da frase, só entrar em contato, que a retiraremos do blog
A população reagiu com indignação, revolta e fúria nas redes sociais. O ex-BBB Mamão, como o advogado Ilmar Renato Fonseca passou a ser conhecido, classificou a proposta como “vergonha”. Pré-candidato a deputado federal, ele defendeu a rejeição do projeto propondo o novo benefício.
“Atenção senhores deputados estaduais votem contra ou votaremos contra vocês. #bastadeprivilégios”, postou Mamão no Facebook.
O empresário e dono do Correio do Estado, Antônio João Hugo Rodrigues, pré-candidato a deputado estadual, também postou críticas ao novo benefício. Furioso, ele fez várias postagens e até anunciou que publicará a relação dos deputados que aprovarem o novo auxílio.
Os deputados estaduais deverão sentir a pressão em pleno ano de campanha eleitoral – eles podem agradar os juízes e por a conta nas costas da população. Não será uma decisão fácil com o eleitor armado com Whatsapp para lembrar quem está do seu lado ou contra.
A pressão fez a primeira vítima nesta sexta-feira. A matéria sobre o auxílio transporte, publicada no site da Assembleia na quinta-feira, foi excluída no final da manhã de sexta-feira.
A assessoria do presidente da Casa, deputado estadual Júnior Mochi (MDB), foi procurada para explicar porque o texto sumiu do site, mas não deu retorno até a publicação desta reportagem.
O Tribunal de Justiça afirma que os promotores, procuradores e defensores públicos recebem o auxílio desde o ano passado, quando o benefício foi aprovado pelo legislativo estadual. Na época, os deputados permitiram que o FUNJECC fosse utilizado para pagar salários e valores de caráter indenizatório, como é o auxílio transporte.
A criação do novo penduricalho ocorre justamente no mesmo período que o Supremo Tribunal Federal deve discutir o auxílio moradia, pago graças a liminar do ministro Luiz Fux, concedida em 2014. O plenário deverá restringir o pagamento do benefício apenas a juízes que não possuem casa própira.
Bom pelo menos, é que parte da sociedade espera, no mínimo, da mais alta corte do Poder Judiciário.