Os sucessivos escândalos de corrupção, os serviços públicos caríssimos e precários, a alta carga tributária e os milionários salários do Poder Judiciário. E agora, os altíssimos penduricalhos pagos aos juízes e desembargadores, inclusive donos de mansões, enquanto cresce a pobreza e a miséria da população brasileira.
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A indignação da população não tomou às ruas, como ocorreu no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT),mas tem demonstrado a revolta nas redes sociais. “É uma reação de quem não aguenta mais qualquer sinal de abuso, pouco importando que seja abuso ou não”, avalia o juiz David de Oliveira Gomes Filho, titular da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande.
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“O brasileiro saturou! Qualquer gota d’água faz o copo transbordar. Este copo está cheio de abusos praticados ao longo dos anos, desde os 0800 da vida até os péssimos e caríssimos serviços públicos”, afirmou em postagem no Facebook. A declaração do magistrado surpreende pela fama de corporativista da categoria, a atual elite do funcionalismo público.
Atualmente, os magistrados recebem salários altíssimos, acima do valor pago ao presidente da República, Michel Temer (MDB), R$ 30.934,70, que é a maior autoridade do País. Em dezembro, os maiores salários dos juízes ficaram entre R$ 103 mil e R$ 200 mil em dezembro passado, conforme dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Beneficiário do auxílio moradia no valor de R$ 11.579,02 no último mês de 2017, o magistrado reconhece a indignação com o penduricalho. “Hj a questão do auxílio moradia é mais uma gota d’água. É uma reação de quem não aguenta qualquer sinal de abuso, pouco importando que seja abuso ou não. Que seja legal ou não. A simples aparência de errado basta”, analisou, na mesma postagem.
“É uma fase, uma fase que vai passar quando as pessoas virem mudanças reais e não apenas a retórica. Até lá, amarrem-se aos mastros, pois a tempestade ainda não acabou, diria até que mal começou”, prevê, sobre o maremoto que abala reputações políticas e coloca em xeque os gastos feitos pelo poder público.
Na avaliação do magistrado, a população está cansada de líderes que apostam na retórica de que estão fazendo diferente, mas repetem os mesmos vícios e maus costumes dos antecessores. A propaganda deixou de ser a alma do negócio, digamos assim.
Gomes filho faz uma análise histórica sobre o estado de espírito do povo brasileiro. “A primeira eleição do PT para a presidência foi, para muitos, a esperança de um país novo, mais justo. A decepção, entretanto, não podia ser maior e só sobrou descrença. Estamos vivendo uma espécie de luto coletivo”, conclui.
A análise é interessante, porque o magistrado é responsável por uma das Varas de Direitos Difusos onde tramita parte das ações de improbidade contra políticos de todos as estirpes e ideologias.
David de Oliveira Gomes Filho aceitou a denúncia de improbidade contra os poderosos envolvidos na Operação Coffee Break, que desvendou o suposto golpe para cassar o mandato de Alcides Bernal (PP). Entre os réus estão o ex-governador André Puccinelli (MDB), o ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB), o empresário João Amorim, dono da Proteco, vereadores e até a Solurb, concessionária do lixo.
O juiz acatou pedido para devolver o cargo de prefeito a Bernal em maio de 2015. A decisão foi derrubada na madrugada, mas foi prenúncio do que ocorreria em agosto, quando uma turma do Tribunal de Justiça recolocou o progressista no comando do município.
David Filho também foi o responsável pelo blqoueio dos bens de Bernal, no final do ano passado, em ação que incluiu Nelsinho e Gilmar Olarte (sem partido), sobre o suposto prejuízo aos cofres públicos por meio dos convênios com a Seleta e Omep.
O magistrado tem mostrado coerência no cargo e, com a manifestação no Facebook, que seja o percussor da mudança de pensamento no Poder Judiciário.
O fim da corrupção e da impunidade passa pelas mãos dos magistrados.
O Brasil nunca será uma nação desenvolvida com uma elite, que seja judiciária, sobrevivendo a custa da miséria do seu povo.