Apesar do tempo de cinco anos, a Polícia Federal vê semelhanças entre as supostas “máfias” do coração e do câncer para desviar dinheiro dos hospitais públicos. As organizações criminosas, conforme a investigação, contavam com a participação de médicos renomados, com bons salários e atuação destacada na sociedade sul-mato-grossense. No entanto, as maldades, praticadas no limite da dor do ser humano, eram as mesmas, só visavam lesar o erário público e corriam longe do princípio da medicina, salvar vidas.
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Alvo da Operação Again, que significa novamente em inglês, o médico cardiologista Mercule Pedro Paulista Cavalcante é funcionário do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, onde tinha salário de R$ 27,6 mil por mês, de acordo com o Portal da Transparência do Governo estadual. No Hospital Universitário, ele entrou por meio de concurso público em fevereiro de 2015. O HU não publicou o valor pago ao cardiologista no Portal da Transparência da União.
Com reputação ilibada, Mercule atendia na Clínica do Coração (Campo Grande) e no setor de hemodinâmica da Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores de Mato Grosso do Sul). Ele foi presidente da SBC/MS (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Fez a mesma trajetória do médico Adalberto Siufi, conceituadíssimo e famoso oncologista, que comandou por vários anos o Hospital do Câncer Alfredo Abrão, uma entidade beneficente. Ele caiu na Operação Sangue Frio, que apurou prejuízo de R$ 27 milhões aos cofres públicos.
Mercule ganhará a notoriedade por usar stent, uma prótese do coração, com validade vencida nos pacientes. Ou seja, para faturar, ele usava um material vencido no procedimento cirúrgico e única esperança de uma pessoa continuar viva.
Maldade semelhante foi praticada pela filha de Adalberto, Betina Siufi Hilgert, que apareceu no programa Fantástico, da TV Globo, em gravação feita pela Polícia Federal, orientando um funcionário a não usar medicamento caro em um paciente com câncer para economizar para o hospital. Detalhe, o medicamento era pago pelo SUS.
O suposto esquema de Mercule era com o empresário Pablo Augusto de Souza e Figueiredo, dono de duas empresas em Belém (PA). A primeira é a Cat Stent Produtos Hospitalares, fundada em 1º de outubro de 1969 e com capital social de R$ 100 mil. A segunda é a Amplimed Distribuidora de Produtos Hospitalares, criada em 25 de outubro de 2006 com patrimônio social de R$ 150 mil.
Conforme a investigação feita pela PF, o empresário pagava propina para o médico e outros funcionários envolvidos para vencer as licitações feitas pelo HU e HR. Entre as vantagens indevidas investigadas estão a viagem com toda a família para Miami, Estados Unidos, e carros de luxo.
Além de direcionar licitações para o grupo sair vencedor, eles superfaturavam nas próteses. Um conjunto de stent custa R$ 800, mas a empresa cobrava R$ 2 mil dos hospitais, ou seja, 150% acima do valor de mercado.
Segundo o superintendente interino da PF, Cleo Mazzatti, a Controladoria Geral da União investigou R$ 6 milhões e constatou desvio de R$ 3,2 milhões. A suposta organização criminosa desviou mais de 50% do dinheiro destinado para as empresas.
Mercule e o empresário vão colocar tornozeleira eletrônica para serem monitorados a distância. Foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão, sendo 17 na Capital, dois em Belém e um em Dourados.
A Cassems divulgou nota para destacar que a irregularidade está restrita a empresa terceirizada de hemodinâmica, que realiza exames específicos de alta precisão. O médico será afastado e colaborar com as investigações da PF.
Até o momento, o médico e a empresa não se manifestaram sobre a investigação.
Siufi e outros citados, na Operação Sangue Frio, estão com os bens bloqueados pela Justiça Federal, no valor de R$ 29 milhões para um. A ação tramita em segredo, mas não há notícia de condenação em primeira instância.
Infelizmente, a saúde pública ainda pede socorro por falta de recurso, de estrutura e de condições para atender de forma plena e ideal toda a população sul-mato-grossense.
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