O produtor de algodão João André Lopes Guerreiro, de Maringá (PR), deu “calote” de R$ 1 milhão no ex-deputado federal Edson Giroto, 58 anos, e no empresário João Amorim, 64, e depositou a quantia em juízo. Graças a esta manobra, o juiz Diogo Ricardo Góes de Oliveira, em substituição na 3ª Vara Federal de Campo Grande, suspendeu o sequestro da aeronave prefixo PP-TSM, fabricada em 1980 e conhecida como “Cheyenne”, alvo da Operação Aviões de Lama, em julho de 2016.
O avião teve o sequestro decretado na Operação Fazendas de Lama, segunda fase da Lama Asfáltica, em maio de 2016, quando a juíza substituta Monique Leite, decretou a indisponibilidade de R$ 43 milhões de 24 investigados, inclusive da ASE Participações, oficialmente a proprietária do avião.
Veja mais:
Aviões de Lama: juiz aceita denúncia contra Giroto, cunhado, João Amorim e piloto
No entanto, a aeronave foi vendida a Guerreiro por Giroto em março de 2016. O ex-deputado apresentou “Cheyenne” ao algodoeiro no Aeroporto Santa Maria, em Campo Grande, intermediou a conversa com Amorim e levou o contrato para ser assinado em Maringá.
Pela compra, Guerreiro ofereceu um avião menor, avaliado em R$ 350 mil, que foi colocado no nome de Flávio Henrique Garcia Scrochio, 51, cunhado do ex-secretário de Obras, R$ 550 mil à vista em cheques e R$ 1 milhão parcelado em três vezes. Esta última quantia não foi paga porque houve a terceira fase da Operação Lama Asfáltica, a Aviões de Lama.
Em outubro do ano passado, o juiz substituto Ney Gustavo Paes de Andrade aceitou a denúncia contra Giroto, Amorim, Scrochio, o piloto Gerson Mauro Martins, 32, e Elza Cristina Araújo dos Santos, 39, por lavagem de dinheiro e ocultação de bens na venda da aeronave.
Há dois anos e meio, o produtor rural lutava para obter a liberação do avião. Ele informou à Justiça Federal que reside em Maringá e desconhecia o mega esquema de desvio de recursos públicos feito pela organização criminosa, como acusa a Polícia Federal. Os prejuízos aos cofres públicos superam R$ 300 milhões.
Para demonstrar que não suspeitou do negócio, Guerreiro revelou que fez cotação de outras aeronaves e não viu diferença expressiva no valor. Ele destacou que não sabia do parentesco entre Giroto e Flávio Henrique. A negociação demorou 45 dias, ou seja, não foi feita em apenas uma semana.
Pesou na decisão do juiz o fato da aeronave ter sido vendido antes das restrições determinadas pela Justiça. Guerreiro e Giroto fecharam a compra em 28 de março de 2016, quase um mês antes de a juíza decretar a indisponibilidade do avião. A Anac só teria sido comunicada no dia 22 de junho daquele ano.
Para afastar suspeitas, ele se dispôs a depositar em juízo o restante do pagamento, R$ 1,035 milhão (o valor corrigido), e garantindo a indisponibilidade do dinheiro até a apuração final dos prejuízos apurados na operação.
No dia 12 deste mês, o magistrado acatou o pedido do agricultor paranaense e suspendeu a restrição contra a aeronave.
Giroto está com os bens bloqueados pela Justiça Federal e é réu em seis ações penais. Na última, ele se tornou réu junto com o ex-governador André Puccinelli.
O ex-deputado chegou a ser preso três vezes e só está livre graças ao habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal.
Apesar de ser o responsável pela indicação do comando do DNIT no Estado, em dezembro do não passado, ele garantiu que não pretende ser candidato nas eleições deste ano.
André planeja campanha e diz que denúncia é estratégia para ganhar com “gol de mão”
O ex-governador André Puccinelli (MDB) não está preocupado com a Operação Lama Asfáltica, que o acusa de ser chefe de uma organização criminosa e ter desviado R$ 235 milhões dos cofres públicos.
Ele classifica as denúncias como estratégia dos adversários para vencer o jogo com “gol de mão” ou “impedido”.
Além de minimizar as investigações feitas pela Polícia Federal desde 2015, o ex-governador já lançou a campanha para voltar ao Governo em 2019. A carana medebista começa por Costa Rica e se chamará “MS Maior e Melhor”.
Puccinelli repete a mesma linha de Michel Temer, o primeiro presidente denunciado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar uma organização criminosa, e aposta que a população não deverá mudar de voto por causa dos escândalos.