Nascido no pequeno distrito de Bocajá, em Laguna Carapã, a 305 quilômetros da Capital, filho de pais separados, criado por uma tia e educado em um seminário para ser padre. A vida nunca foi fácil para o empresário Rodolfo Pinheiro Holsbach, 53 anos, dono de um conglomerado de empresas que fatura R$ 120 milhões por ano e emprega 600 pessoas.
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Conhecido como o “rei da cópia”, graças à empresa H2L Equipamentos e Sistemas, criada há 24 anos, que monopoliza o fornecimento de copiadoras ao poder público em Mato Grosso do Sul, ele ganhou os holofotes da mídia ao ser preso por porte ilegal de munições na Operação Máquinas de Lama, quarta fase da Lama Asfáltica, que apura desvio de recursos públicos na administração de André Puccinelli (PMDB).
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A prisão foi em decorrência daqueles momentos de bobeira. Na manhã do dia 11 de maio do ano passado, policiais federais cumpriram 32 mandados de busca e apreensão. Entre os alvos estavam o apartamento e as empresas de Rodolfo, H2L e HBR Medical.
Ao relembrar aquele fatídico dia, oito meses depois, o empresário acha graça da situação. Ao ser acordado com o toque da campainha, ele achou que a empregada tinha esquecido a chave. Aproximou-se da porta e perguntou quem era. Os policiais engrossaram a voz e deram o alerta: “polícia federal, abre, senão vamos arrombar!”
“Foi o maior susto da minha vida”, relembra. Os policiais entraram e fizeram a busca na residência. Ao checar o quarto, encontraram cerca de 20 munições de revolver calibre 38. A arma tinha sido apreendida muito tempo antes pela Polícia Rodoviária Federal durante uma viagem até uma de suas fazendas em Bela Vista.
Se tivesse acatado a sugestão do delegado e se desfeito das balas, não teria se submetido ao vexame de ser preso pela PF e, pior, ser manchete em todos os jornais.
O delegado verificou que o crime era de potencial menor, mas, diante dos colegas do fisco e da Controladoria Geral da União, não teve outra alternativa e anunciou a prisão em flagrante pelo porte das munições.
Acostumado com a vida de empresário, Rodolfo relembra que tentou seguir a vida normalmente naquela manhã, quando a PF concluiu a busca no apartamento. “Posso ir no meu carro, tenho motorista”, sugeriu aos policiais.
O delegado decidiu ser mais claro. “O senhor não entendeu: o senhor está preso?”, relembra, rindo da situação.
Apesar de achar graça ao relembrar a história, Rodolfo conta que a prisão “foi um paulada”. “Fez um mal”, admite. Ele conta que passou de dois a três meses acordando antes de amanhecer o dia. Perdia o sono e ficava esperando a hora que os policiais federais bateriam novamente em sua porta.
O episódio mudou alguns hábitos do empresário, que apoiou a eleição do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e admite ter boas relações com o ex-governador André Puccinelli. “Desde maio, não atendo ligações de números desconhecidos”, comenta.
Apesar de manter praticamente todos os negócios com os órgãos públicos, ele tem evitado conversar com políticos. Aliás, como a eleição ainda está longe, não foi mais procurado pelos pré-candidatos, uma romaria que se repetia em outras épocas.
Ele continua sendo investigado pela PF. A Justiça Federal não acatou recurso do empresário para suspender o processo, apesar das boas relações com o Poder Judiciário. Ele é primo do desembargador Nery da Costa Júnior, cotado para ser o próximo presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Outro primo é Jonas Schmidt das Neves, dono da Digix, também investigado na Operação Máquinas de Lama e denunciado pelo Gaeco na Antivírus, que o levou ao negócio com Jodascil Lopes, um dos supostos laranjas de Puccinelli (veja abaixo).
Refeito do pesadelo, Rodolfo voltou à mídia no final do ano passado ao confirmar o favoritismo e ganhar todas as licitações de locação de máquinas e softwares do Governo do Estado. Ele nega direcionamento na licitação, mas admite que poucas empresas contam com estrutura para fazer frente a H2L para ganhar os certames.
O Governo do Estado não é o único cliente. A empresa fornece máquinas para praticamente todos os poderes, como Ministério Público e Tribunal de Justiça. Também atende universidades, como UFMS e UCDB, e grandes grupos empresariais, como Bate Forte e o Grupo Pinesso.
Rodolfo comanda o Grupo Holsback, que inclui outras duas empresas, a HBR Medical e a incorporadora HVM. O empresário não cansa de sonhar alto. O projeto mais ousado é o Vertigo, com 35 andares, projetado para ser o edifício mais alto de Campo Grande. Os 240 apartamentos da unidade foram vendidos em 12 dias ao custo de R$ 300 mil a R$ 1 milhão.
Os filhos, Rodolfo, 30, e Rômulo, 29, dividem-se entre as funções no conglomerado e na administração da rede de academias Smart Fit, duas em Campo Grande e uma em Curitiba. A filha Tássia, 28, dedica-se a música.
No entanto, a vida nem sempre foi fácil para o “rei da cópia”.
Ele nasceu no distrito de Bocajá, em Laguna Carapã, mas como os pais se separaram, foi criado pela tia em Amambai dos 6 aos 12 anos. Dos 15 aos 16 anos, sonhou em ser padre e passou a viver em seminários no Paraná e no Rio Grande do Sul. Aos 17 anos, voltou a morar com a tia, mas em Campo Grande, onde concluiu os estudos.
Com o sonho de ser vendedor da Xerox do Brasil, poderosa multinacional norte-americana, ele começou a trabalhar na empresa como cobrador aos 21 anos de idade. Dedicou-se à companhia por oito anos e chegou a ser coordenador de grandes contratos. “A Xerox me permitiu conhecer o Brasil”, revela.
Em 1993, ele decidiu deixar a empresa e fundar a H2L. A relação com o poder público começou com o MPE, comandado pelo procurador Fadhel Tajer Iunes, em 1993. Firmou contrato com a concorrente da Xerox e passou a ser conhecido como “Rodolfo da Sharp”.
Em 1995, o empresário deu o maior passo da sua vida ao vencer a Xerox na licitação para fornecer equipamentos para a Secretaria Estadual de Fazenda. Na época, ele não tinha estrutura e desafiou a poderosa Xerox, a “H2L” da época.
A vitória do ex-funcionário, que conhecia o ponto fraco da multinacional (não baixava o preço), surpreendeu a Xerox. “Quando abriu o envelope, acabou”, relembra, sobre a jogada de oferecer o menor valor para ganhar o contrato milionário.
No entanto, cumprir o contrato com o fisco e fornecer os equipamentos foi o maior desafio da carreira de Rodolfo. O empresário recorreu ao financiamento do Bamerindus, onde conseguiu a ajuda de um amigo.
Para garantir a instalação das máquinas, ele conta que trabalhou até 18 horas por dia e contou com veículos emprestados. A Xerox colocou uma equipe de advogados só para fiscalizar o cumprimento do contrato pelo ex-empregado.
Vencido a primeira etapa, a Sefaz passou a ser o cartão de visitas para ganhar outros contratos com a administração estadual.
O segundo sufoco ocorreu na administração de Zeca do PT, de oposição ao governo de Wilson Martins (PMDB), que realizou auditoria e suspendeu os pagamentos para todos os fornecedores. A H2L ficou sem dinheiro para pagar funcionários.
“Sou um cara abençoado”, gaba-se o empresário, que é católico, mas acompanha a segunda esposa, evangélica, eventualmente aos cultos da igreja Batista.
A prova da sorte ocorreu em 1999, quando encerrou a semana sem perspectivas de onde encontrar dinheiro para pagar os salários. No final da tarde de sexta-feira, quando estava encerrando o expediente, o gerente do banco ligou e lhe comunicou que tinha ganho o prêmio de R$ 740 mil no título de capitalização.
“Paguei todo mundo”, ressalta. A felicidade foi tanta, que doou R$ 100 mil para o Hospital Nosso Lar. A instituição teve prejuízo com incêndio, que destruiu parte das instalações.
Outra jogada de sorte foi criação da TV Minuto, em sociedade com a A3A, do primo Jonas das Neves. Há seis anos a vendeu para a TV Band por R$ 60 milhões. Aliás, orgulha-se de ser amigo do presidente do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad, que o convidava para jantar e acompanhar os debates entre os candidatos a presidente da República.
Atualmente, o empresário mantém jornada das 8h às 19h. Faz questão do cochilo de 20 a 30 minutos após o almoço e manter uma rotina de exercícios físicos.
Empresário nega ter pago propina de R$ 1,7 milhão a ex-governador
Rodolfo Pinheiro Holsback nega ter pago propina de R$ 1,7 milhão ao ex-governador André Puccinelli. A denúncia é investigada pela Polícia Federal, que identificou a movimentação suspeita ao investigar Jodascil da Silva Lopes, que foi coordenador da Secretaria de Educação de Educação na gestão do peemedebista.
Conforme a PF, o dono da H2L fez o saque no caixa e teria feita o pagamento em espécie para Jodascil, acusados de ser laranja do ex-governador.
Rodolfo reafirma a história, já revelada pelo O Jacaré, de que o dinheiro refere-se ao compra de gado.
Jonas o teria procurado para pedir ajuda para o irmão de Jodascil. Na época, o preço era bom. Como o empresário alegou não ter dinheiro, o primo aceitou ser avalista e o negócio foi fechado para ser pago em três anos.
O valor do rebanho foi convertido em arroba, que acabou sendo paga em 36 meses. “Minha sorte”, comenta Rodolfo, é que contratei uma transportadora para levar o gado e guardei as notas fiscais. Ele diz que apresentou os documentos à PF para comprovar a legalidade da operação e descartar a suposta propina.
No entanto, admite que conhece o ex-governador, a quem chama de “Doutor André”. Garante que o peemedebista nunca lhe pediu propina para manter contratos com o Governo estadual.
Puccinelli sempre o procurava nas eleições para pedir contribuição para a sua campanha ou de aliados. “Sempre que ia ter eleição, o Doutor André me encontrava e dizia, Rodolfo, ano que vem, vou precisar de você”, afirmou, confirmando que sempre fez doações para a campanha do peemedebista.