Praticamente todos os jornais e sites de Campo Grande decidiram ignorar a indignação e a revolta da população contra a taxa do lixo, criada por Marquinhos Trad (PSD) com o apoio de 25 vereadores. Sem outra opção, como se tivesse vivendo em Cuba ou no Oriente Médio, onde os meios de comunicação só dão voz aos governantes, os eleitores decidiram apelas às redes sociais para detonar a taxa do lixo.
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Só quem vai pagar a conta não achou “irrisório”, como definiu Marquinhos, o aumento de até 504% na taxa, que deve ser paga até quarta-feira junto com o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Toda a arrecadação será repassada à Solurb, consórcio que venceu polêmica licitação no apagar das luzes da gestão de Nelsinho Trad (PTB) em 2012 e é investigada pela Polícia Federal.
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Sem voz nos meios de comunicação locais, a população vem divulgando nos grupos de WhatsApp e no Facebook a indignação contra o aumento abusivo no valor. Aliás, o prefeito já ganhou o apelido carinhoso de “Marquinhos Taxa”, nome que assombra até hoje a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PMDB).
Enquanto os jornais oficiais insistem no discurso de que a “taxa é obrigatória” e “60% vão pagar menos”, a população expõe a fúria e detona o prefeito no Facebook. “Campo-grandenses não podem aceitar esta pouca vergonha de cobrança de taxa do lixo. Chega de aceitar tudo. Já basta de impostos e a cidade cheia de buracos”, reagiu Sibele Leite Gomes.
“A taxa do lixo de Campo Grande está caríssima… Aqui na minha rua a média, este ano, é de R$ 680 POR CASA, E O LIXO ESTÁ AMONTOADO EM FRENTE AS CASAS”, postou a advogada Deslanieve Dapet.
Marco Antônio B. Coelho contou que reside a 18 quilômetros do Centro em local sem saneamento básico, sem iluminação pública. “Agora me chega no IPTU dos terrenos taxa do lixo. Onde vamos parar com esses políticos?”, indigna-se.
“Sobre a extorsão disfarçada de taxa de lixo, satisfeito, povo de Campo Grande?”, questionou Jurandi Libero da Silva.
Dos 16 candidatos a prefeito na última eleição, somente Marcelo Bluma (PV) postou críticas a taxa do lixo de Marquinhos Trad. “Os carnês do IPTU estão chegando nas casas e as pessoas estão verificando que, na verdade, foi criado mais um imposto para ser pago em Campo Grande: a taxa do lixo. Presente de Natal do prefeito Marquinhos Taxa”, afirmou.
“Absurdo isso!!! Pelo visto, os vereadores não sabiam o que estavam aprovando. Chega a ser absurdo a cobrança da taxa para terreno sem edificação, onde não tem ninguém habitando nem gerando lixo”, comentou Antônio Carlos Silva Sampaio.
Um internauta até brincou com a situação. “Até as galinhas estão revoltadas com a taxa do lixo”, escreveu João Carlos.
Outro chega a insinuar que a cidade está sob o controle de uma máfia devido a suspeita de que a Solurb seja do empresário João Amorim, ex-cunhado de Nelsinho e irmão da deputada estadual Antonieta Amorim (PMDB). A suspeita é investigada na Operação Lama Asfáltica pela Polícia Federal.
“Prefeito Marquinhos Trad + Solurb (João Amorim) é igual a taxa do lixo”, comentou o Fórum dos Servidores de MS.
Até o MBL (Movimento Brasil Livre) vem divulgando postagens com críticas duríssimas à taxa do lixo.
Apesar dos protestos, os jornais, que foram os protagonistas da indignação da população contra a administração de Alcides Bernal, decidiram ignorar as críticas.
O esforço é mostrar a utilidade da taxa do lixo. Em um, o prefeito diz que a arrecadação vai pagar a Solurb para garantir os investimentos em saúde, educação e infraestrutura. Em outro, o desespero é tanto, que chega a “pregar” a utilização da taxa do lixo para recapear as vias da cidade, apesar da lei ser clara e objetiva: a população só está pagando pela coleta de resíduos sólidos.
Até o vereador Otávio Trad (PTB), sobrinho do prefeito, não se manifestou. Em janeiro de 2014, ele ingressou com uma ação popular na Justiça para excluir a taxa de limpeza do IPTU. Agora, não só aprovou o aumento de 504%, como defende o reajuste abusivo, cobrado pelo tio.
Na semana passada, um grupo começou a se organizar nas redes sociais para realizar um protesto contra a taxa do lixo. A esperança é que o movimento cresça como o movimento de 2013, contra o aumento na tarifa do transporte coletivo, que começou em São Paulo e desaguou no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Na primavera árabe, mesmo sem apoio dos meios de comunicação, jovens conseguiram derrubar ditaduras de décadas. A esperança do grupo campo-grandense é mostrar força da cidadania, mas não será fácil.