Depois de 17 anos vivendo no Paraguai, do quais oito anos preso, o narcotraficante Jarvis Chimenes Pavão, 49 anos, deve ser extraditado e transferido para o Presídio Federal de Campo Grande. Condenado a 12 anos de prisão por associação criminosa e tráfico de drogas, ele é acusado de ser fornecedor de cocaína para vários estados brasileiros e de ser um dos mandantes do assassinato cinematográfico de Jorge Rafaat.
Poderoso e influente, Pavão teria ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa surgida nos presídios paulistas e que movimenta R$ 240 milhões por ano, e com o Comando Vermelho.
Com a decisão da juíza paraguaia Maria Gricelda Caballero, que autorizou a extradição do narcotraficante às 17h26 desta segunda-feira, Mato Grosso do Sul voltará a ter um presidiário do porte de Fernandinho Beira-mar e do narcotraficante colombiano Juan Carlos Ramires Abadia, extraditado para os Estados Unidos.
Só que há uma diferença, Pavão é genuinamente sul-mato-grossense, já que nasceu em Ponta Porã, e deverá cumprir a pena no Estado.
De acordo com reportagem da revista Época, ele é o principal fornecedor de cocaína para os estados brasileiros, como Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça gaúcha em 2009 revelam a conexão entre o narcotraficante, preso em Assunção desde 2009, e a organização criminosa chefiada pelos bombeiros Ales Marques e Paulo Larson, alvos da Operação Maré Alta em 2010.
O processo tramita na 2ª Vara Federal de Ponta Porã e está parado desde que a denúncia foi aceita pelo juiz em 20 de janeiro de 2014. Pavão é citado na denúncia como um poderoso narcotraficante, que tem negócios até nos Estados Unidos. Em uma das interceptações telefônicas, feitas com autorização judicial, um integrante do grupo conta à esposa que “meteu fogo” em um devedor da quadrilha.
Pavão ganhou mais notoriedade com a execução cinematográfica, com metralhadora .50, do empresário e traficante Jorge Rafaat, “o rei da fronteira”, na noite de 15 de junho do ano passado. Conforme a Época, a execução foi acertada dentro da cadeia em Assunção entre Pavão, o chefe do PCC n região, identificado como Galã, e o representante do Comando Vermelho.
No entanto, apesar das suspeitas, o narcotraficante nunca chegou a ser investigado pelo crime e sempre negou, por meio de advogados, qualquer participação no episódio.
Pavão ganhou as páginas dos jornais do Brasil e do Paraguai ao ter as mordomias na prisão descobertas pela promotoria. Ele cumpria pena em cela construída por ele no Presídio Tacumbu, em Assunção, que tinha várias regalias.
No entanto, mesmo transferido para outro presídio, ele recorreu ao todos os recursos possíveis para evitar a extradição para o Brasil, onde é acusado de organização criminosa, tráfico transnacional de drogas e até assassinato.
A chegada de Pavão deve fazer barulho em presídios sul-mato-grossenses.
A dúvida é saber se MS tem condições de receber e manter preso uma “lenda” do crime organizado.
Famoso por suspender ou anular as penas impostas aos principais narcotraficantes da fronteira, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região não facilitou, até o momento, a vida de Pavão.
Além de manter a ação penal em Ponta Porã, a corte destaca que as provas de materialidade e indícios contra Pavão são “veementes”. E o aponta como “fornecedor de cocaína importada do Paraguai”.
Advogada defende cliente e diz que Jarvis Pavão “não é demônio”
Em entrevista à Rádio ABC,do Paraguai, a advogada Laura Casuso, defendeu o seu cliente Jarvis Chimenes Pavão. Ela classificou como “injusta” a decisão que autorizou a extradição para o Brasil.
Ela garante que ele nunca tentou fugir, porque se quisesse, já tinha fugido há muito tempo.
Para a advogada, Pavão “não é o demônio que querem fazer crer”. Destacou que narcotraficante sempre atendeu aos pedidos do Executivo paraguaio para atuar como mediador em algumas questões.
Laura nega que Jarvis Pavão tenha um plano de fuga, como o setor de inteligência da polícia brasileira teria descoberto e alertado o Governo Paraguaio.