A ofensiva da Polícia Federal contra o ex-governador André Puccinelli (PMDB), que teve a prisão preventiva decretada há 17 dias e o acusa de chefiar organização criminosa para desviar R$ 235 milhões dos cofres estaduais, não dinamitou o prestígio. Recebido com festa na convenção do seu partido no sábado, ele conseguiu reunir outros políticos acuados por denúncias de corrupção, que se declaram “inocentes”, e cabos eleitorais poderosíssimos.
A cena de André, prefeito da Capital e governador do Estado por duas vezes, é enigmática, porque mostra o retorno triunfal sendo carregado nos braços do povo. À imprensa, ele recorreu ao nome de Deus para destacar ter fé de que provará sua inocência.
No entanto, o peemedebista, mesmo sendo um dos melhores amigos de Michel Temer (PMDB) – o primeiro presidente da República denunciado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar organização criminosa – não deverá parar as investigações da Polícia Federal.
Lenta e complexa, a Operação Lama Asfáltica, iniciada em 2013 como Pilar de Pedra, seguirá em frente e poderá causar muito desgaste ao ex-governador em plena campanha eleitoral. O diretor geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, pôs a maior operação sul-mato-grossense de combate à corrupção como prioridade.
A chegada do delegado Luciano Flores, que deverá assumir a superintendência da PF em MS, é outro sinal de trovoados no horizonte do PMDB. Ele integrou a Operação Lava Jato e foi o responsável pela condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso significa que o novo xerife, se não for peemedebista, não está preocupado com popularidade do investigado.
No entanto, apesar dos avanços das investigações, uma coisa é certa: Puccinelli não será ficha suja, porque dificilmente será condenado até as eleições de 2018. Como nosso Justiça Federal é uma das mais lentas do País, infelizmente, ele não deverá ter sentença nem em primeira instância.
Para ser impedido de disputar, só com condenação em segunda instância, que talvez, um dia ocorra. Mas o risco de isso ocorrer é só se o peemedebista chegar aos 140 anos, a nova expectativa de vida do brasileiro na visão de Temer.
Ou seja, André não será impedido pela Justiça de ser candidato.
Neste sábado, ele mostrou que tem força política para disputar o Governo. Dono do Correio do Estado, principal jornal do Estado e que não tem medo de fazer propaganda para os aliados, o empresário Antônio João Hugo Rodrigues, fez afagos e defendeu a candidatura a governador de Puccinelli.
Não foi o único apoio importante. Um dos principais cabos eleitorais do atual momento, o prefeito Marquinhos Trad (PSD), prestigiou a eleição de André como novo presidente do PMDB. Ele se recusou a subir ao palco e fez questão que só compareceu porque foi convidado. No entanto, para quem entende de política, sabe o significado da cortesia: as portas estão abertas para aliança em 2018.
Outro ex-peemedebista, o presidente regional do PTB e prefeito da Capital por duas vezes, Nelsinho Trad, compareceu à festa de André. Alvo de nove ações por suposta fraude na operação tapa-buracos, com os bens bloqueados e denunciado na Coffee Break, ele articula para ser o candidato a senador e busca uma chapa competitiva, que poder ser a de André.
A convenção teve a presença do primo dos Trad e presidente regional do DEM, Luiz Henrique Mandetta, outro inocente, já que responde ação no STF por causa do escândalo do Gisa, como ficou conhecido o gasto milionário no sistema de informatização dos postos de saúde.
Enrolado na Lama Asfáltica, com os bens bloqueados e preso em três ocasiões, o ex-deputado federal Edson Giroto também prestigiou a posse do amigo. Ele informou, em entrevista ao Campo Grande News, que não pretende ser candidato em 2018.
Outro que corre de eleição é o ex-presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, Mario Cesar de Oliveira (PMDB), mas que mantém o apoio ao ex-governador.
Os senadores Simone Tebet e Waldemir Moka, ambos do PMDB, deixaram no armário a indignação com a corrupção na era petista. Ela disse que André é o mais experiente e deverá vencer os “falsos profetas”, numa alusão ao juiz federal Odilon de Oliveira (PDT), que vem se apresentando como o único nome sem mancha de corrupção na jornada eleitoral.
Defensor famoso de Eduardo Cunha (PMDB), preso e já condenado em uma das ações de corrupção a 14 anos, Carlos Marun (PMDB), mantém a lealdade até na cadeia. “Fomos atingidos pela mentira e até pelo arbítrio que é típico da ditadura. Aqueles, que pensaram que iam nos derrotar com calúnias e injúria, deram nós em pingo d’água”, afirmou.
André chegará à eleição com um bom arco de alianças, mas, inteligente e maquiavélico, vai esperar até o Carnaval para oficializar a candidatura, já trabalhada nos bastidores.
O peemedebista tem motivos de sobra para ser precavido. Em maio deste ano, na Operação Máquinas de Lama, foi monitorado por tornozeleira eletrônica por uma semana.
No dia 14 do mês passado, na Operação Papiros de Lama, teve a prisão preventiva decretada e passou uma noite no presídio.
Ele vai analisar qual juiz vai assumir a 3ª Vara Federal de Campo Grande, responsável em julgar a Lama Asfáltica. Se for a versão pantaneira de Sérgio Moro, ele vai priorizar a luta para não ser preso novamente e tentar livrar o filho, o advogado André Puccinelli Júnior, da cadeia.
Agora, se for a cópia do desembargador Paulo Fontes, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que mandou soltar todos os presos e ainda critica a condução da investigação pela PF e MPF, ele deve ser candidato.
Contudo, Puccinelli só vai para a disputa se tiver chances reais de vitória. Astuto e bom estrategista político, ele não vai se aventurar em uma campanha para sair menor do que entrou.
Motivos contra André Puccinelli
Operação Lama Asfáltica
Polícia Federal acusa o ex-governador de liderar organização criminosa que desviou R$ 235 milhões dos cofres públicos quando era governador de 2007 a 2014. Na fase de investigação, que não tem prazo para acabar, e sem nenhuma ação penal.
Operação Lava Jato
Executivo da Odebrecht acusa, em delação premiada, André Puccinelli de ter cobrado propina de R$ 2,3 milhões para paga dívida de R$ 23 milhões, após desconto de 80%, em 2010. Caso ainda nem começou a ser investigado.
Delação da JBS
Em delação premiada homologada pelo STF, donos da empresa acusam o peemedebista de ter recebido R$ 112 milhões em propinas, por meio de doleiros, pagamento em espécie e notas frias, para conceder benefícios fiscais ao grupo. Caso é investigado no âmbito do STJ, porque o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) é acusado de ter recebido R$ 38,4 milhões.
Operação Coffee Break
Ex-governador e mais 23 políticos e empresários são acusados de articular o golpe para cassar o mandato do prefeito Alcides Bernal em 2014. Justiça já aceitou ação por improbidade administrativa que pede o pagamento de R$ 24 milhões. Ação penal patina e ainda não foi rejeitada ou aceita pelo juiz da 6ª Vara Criminal, Márcio Alexandre Wust.