De olho na primeira suplência de Marisa Serrano (PSDB), o empresário Antônio Russo Neto, 76 anos, viabilizou a doação de R$ 6 milhões para a campanha a governador de André Puccinelli (PMDB) em 2006. Em delação premiada homologada pela Justiça Federal, o empresário Ivanildo da Cunha Miranda, 59, revelou que a maior parte do dinheiro foi paga por fora e em espécie, sem declarar à Justiça Eleitoral.
Marisa acabou eleita senadora com 607.584 votos, mas deixou a vaga para o dono do Frigorífico Independência em 28 de junho de 2011. Ela foi indicada por Puccinelli para ser conselheira do Tribunal de Contas do Estado. Na época, os dois ainda eram aliados.
Russo permaneceu na ativa no Senado por um ano e meio, quando decidiu se licenciar por problemas de saúde em 21 de janeiro de 2013. O segundo suplente, Rubem Figueiró, assumiu no dia 30 do mesmo mês. Ele permaneceu licenciado até o fim do mandato, em dezembro de 2014. Em troca de salários e da tranquilidade do TCE, Marisa garantiu a vaga a dois senadores sem voto.
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Agora, com a colaboração premiada no âmbito da Operação Papiros de Lama, nome da 5ª fase da Lama Asfáltica, a população tem a oportunidade de conhecer os bastidores daquela campanha eleitoral.
Conforme Ivanildo, logo após ser incorporado à campanha do peemedebista em 2006 como operador financeiro, ele o acompanhou para reunião na sede da Abiec (Associação Brasileira de Indústrias Exportadores de Carne), em São Paulo.
Eles se reuniram com Russo Neto e os representantes dos outros frigoríficos (Bertin, JBS e Marfrig). Os empresários prometeram ajudar na campanha e o valor de R$ 6 milhões foi acertado na semana seguinte, em outra reunião no mesmo local.
Conforme o delator, Russo explicou que a maior parte da doação seria por fora para evitar pressão de outros candidatos. Puccinelli não fez o pedido para que a doação não fosse oficial, mas não se expôs à ilegalidade.
Ivanildo Miranda contou que fez três viagens de carro a São Paulo para recolher a fortuna doada ao candidato do PMDB. O dinheiro foi entregue por um idoso na sede da Abiec, que não se recordava do nome, e estava em uma caixa de papelão. As cédulas foram entregues no apartamento do peemedebista às 6h, o horário exigido pelo ex-governador para receber as doações ilegais e propinas.
Puccinelli repassou, na ocasião, a lista dos candidatos que seriam contemplados com as doações oficiais dos frigoríficos.
Russo acabou sendo indicado para ser o primeiro suplente de senador de Marisa, que venceu a disputa, mas só permaneceu quatro anos e meio.
O dono do Independência assumiu o mandato quando o frigorífico já estava em dificuldade financeira. Neste período de suplente, ele passou por três legendas: PL, PSDB e PR.
No entanto, o empresário não concluiu o mandato na ativa, já que se licenciou por problemas de saúde em junho de 2013. Além de salário de R$ 33 mil, o cargo de senador garante tratamento médico nos melhores hospitais do País.
Marisa permaneceu no TCE por seis anos, já que se aposentou neste ano com salário integral. Ela poderia ficar no órgão até os 75 anos, mas optou em abrir mão para garantir a indicação do primo, Márcio Monteiro (PSDB), que ocupava a Secretaria Estadual de Fazenda e era deputado federal licenciado.
Além do salário, o ex-deputado brigou pela vaga para ter foro privilegiado, já que é citado em denúncias de corrupção envolvendo a gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB). Ambos negam ter cometido qualquer irregularidade.
Pedro Chaves é o senador sem voto e milionário do momento
Antônio Russo Neto não foi o único milionário a ser indicado suplente de senador a assumir o cargo em Mato Grosso do Sul sem ter um único voto. Pedro Chaves (PSC), que assumiu a vaga de Delcídio do Amaral, também é rico e teve o aval das urnas.
Russo declarou patrimônio de R$ 52,9 milhões em 2006, quando conseguiu ser indicado suplente de Marisa.
Antes dele, o empresário Antônio João Hugo Rodrigues, dono do Correio do Estado e de um patrimônio total de R$ 9,3 milhões, foi suplente de Delcídio em 2002. Na época, além do senador, ele apoiou a reeleição do governador Zeca do PT e não tinha a ojeriza a petistas e comunistas.
Delcídio se licenciou do cargo por quatro meses para fazer a campanha a governador em 2006 e Antônio João se tornou senador por 121 dias.
Pedro Chaves, com patrimônio de R$ 69,3 milhões, foi suplente de Delcídio e teve mais sorte, já que ele acabou cassado e herdou o restante do mandato sem obter um único voto.
Sem ter o patrimônio milionário dos sucessores, Valter Pereira herdou o mandato de Ramez Tebet, que morreu de câncer em 17 de novembro de 2006.
Apesar dos protestos da população, o Congresso discute, mas não aprova o fim do cargo de senador sem partido, ou seja, põe fim as suplências. O ideal é se o vencedor desistir, chame o próximo da lista para evitar mais gasto com campanha eleitoral para eleger um novo senador.
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