A J & F Investimentos, controladora da JBS, pagou R$ 10 milhões para o empresário Ivanildo da Cunha Miranda ajudar na retirada de Mário Celso Lopes da sociedade de Eldorado Celulose, em Três Lagoas. Delator do suposto esquema de corrupção do grupo do ex-governador André Puccinelli, que desencadeou a Operação Papiros de Lama, ele recebeu R$ 10 milhões, pagos por meio de notas fiscais frias.
A revelação consta da delação premiada homologada pela Justiça Federal de Mato Grosso do Sul em agosto deste ano.
Em depoimento aos delegados da Polícia Federal, Marcos Dalmato e Cleo Mazzotti, Ivanildo conta detalhes do pagamento de propina para a organização criminosa, que seria chefiada por Puccinelli, mas revela detalhes de seus próprios crimes.
Ele contou que foi apresentado ao empresário Joesley Batista durante a campanha eleitoral de 2006. Na época, Puccinelli disputava pela primeira o Governo do Estado e acertou a doação de R$ 500 mil por fora.
A primeira reunião de Miranda e Puccinelli com Joesley ocorreu na sede da JBS em São Paulo. Eles foram apresentados pelo empresário João Roberto Baird, o Bill Gates Pantaneiro, na Confraria JBS, tradicional churrasco realizado na última quinta-feira do mês. Baird só os apresentou e saiu.
O peemedebista apresentou Ivanildo como seu operador financeiro e a pessoa indicada para receber os repasses que seriam feitos pela JBS. Como viajava todo mês para São Paulo, onde busca a suposta propina, que variava entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, Ivanildo ficou amigo dos donos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Mendonça Batista, e do patriarca, José Batista Sobrinho.
Para comprovar a amizade, ele anexou fotografias de passeios feitos com Joesley na ilha em Angra dos Reis.
Graças a conquista da cofiança dos Batista, ele acabou intermediando negócios da JBS em Mato Grosso do Sul, como a compra das unidades em Rio Verde do Mato Grosso, Coxim e Ponta Porã. Em Santa Catarina, ajudou na aquisição do centro de distribuição de carnes em Itajaí, cidade portuária.
O “negócio da China” veio com a saída de Mário Celso da Eldorado. Em maio de 2012, a JBS desistiu de comprar a construtora Delta e adquiriu 25% que o empresário tinha na fábrica de celulose.
Na delação premiada, Ivanildo revelou que o negócio envolveu R$ 300 milhões e lhe garantiu a bagatela de R$ 10 milhões. No entanto, o dinheiro não foi pago legalmente. Os donos da JBS fizeram o pagamento por meio de notas frias.
Mário Celso foi acusado de romper o acordo firmado com a J & F Investimentos ao criar uma holding para investir R$ 8 bilhões na construção de uma nova fábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo.
O então governador André Puccinelli acertou a concessão de incentivos fiscais e fez o anúncio do novo investimento em Ribas, que passaria a integrar o Vale da Celulose com Três Lagoas, onde já estão instaladas a Fibria e a Eldorado.
No entanto, o empreendimento não vingou. Mário Celso chegou a ser preso na Operação Greenfield, da Polícia Federal, acusado de mascarar o pagamento de R$ 190 milhões em suborno a um empresário.
Ivanildo alegou problemas de saúde para conseguir prisão domiciliar
As novas revelações constam da delação de Ivanildo, que se comprometeu a devolver R$ 3 milhões em 10 parcelas semestrais. Para não ir para a cadeia, o empresário alegou problemas de saúde, agravados em decorrência da diabete, e aceitou prisão domiciliar.
A delação premiada deixa em aberto o futuro do empresário.
O delator ainda pode receber perdão judicial no decorrer do processo judicial. O procurador Davi Marcucchi Pracucho evitou de cometer o erro do ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, que concedeu o benefício aos donos da JBS antes da conclusão da investigação.
Agora, se ficar comprovado que ele omitiu informações ou fraudou provas, Ivanildo pode ser condenado a pena de um a quatro anos de prisão só por este item, sem considerar as penas dos demais crimes.