O empresário Ivanildo da Cunha Miranda conta, na delação premiada homologada pela Justiça, como entregou propina de R$ 10 milhões ao ex-governador André Puccinelli (PMDB), em julho de 2012. “Deu um trabalho terrível”, revelou, ao falar do transporte da fortuna, em espécie, dentro de caixa de isopor sozinho até o apartamento do peemedebista.
A revelação consta da Operação Papiros de Lama, denominação da 5ª fase da Lama Asfática, que apura suposto desvio de R$ 85 milhões dos cofres públicos. O juiz substituto Ney Gustavo Paes de Andrade, da 3ª Vara Federal de Campo Grande, determinou a prisão do ex-governador e do filho, o professor universitário e advogado André Puccinelli Júnior. Eles devem ser soltos nesta quarta-feira por determinação do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Na delação, Ivanildo revelou que recolhia propinas para o ex-governador junto aos frigoríficos JBS, Marfrig, Bertin e Independência. Inicialmente, a JBS pagava R$ 300 mil a R$ 400 mil. Entre 2010 e 2014, o valor mensal chegou a R$ 2 milhões. A vantagem era paga em troca da concessão de incentivos fiscais.
No entanto, além da propina mensal, o empresário Joesley Batista, dono da JBS, fazia contribuições especiais para as campanhas eleitorais.
Em 2012, conforme trecho da delação destacada pelo juiz Ney Gustavo, ele conta como foi feito o pagamento de R$ 20 milhões para a campanha de prefeitos.
Joesley acertou a doação em reunião com o ex-governador em Campo Grande. Metade do valor seria pago por fora, sem declaração oficial e em dinheiro vivo.
Miranda conta que pegou um avião e foi discutir o pagamento com empresário e Demilton Antônio Castro, trabalhador há mais de 40 anos da JBS. Na ocasião, Joesley orientou o funcionário a pegar o dinheiro do Alphaville.
Na verdade, apesar do residencial de classe alta aparecer nas planilhas, o dinheiro foi entregue no Residencial Tamboré, em Barueri. De acordo com Ivanildo, no primeiro encontro, Demilton lhe entregou R$ 2 milhões. Ele retornou outras vezes e, em uma semana, conseguiu os R$ 10 milhões em espécie.
Os R$ 10 milhões foram colocados em uma caixa de isopor e entregues em mãos por Ivanildo ao ex-governador no apartamento da Rua Euclides da Cunha, no Jardim dos Estados.
“Por sinal, deu trabalho terrível, porque era muito pesado, foi num isopor que eu levei e entreguei na casa dele”, relatou.
Ao entregar os R$ 10 milhões, o empresário conta que brincou com o ex-governador, dizendo que “era peixe”. Puccinelli adora pescar.
A fortuna foi um valor de fazer inveja ao ex-assessor do presidente Michel Temer (PMDB), o ex-deputado Rocha Loures (PMDB), que recebeu uma mala com R$ 500 mil. Puccinelli recebeu quantia 20 vezes maior.
Até o senador Aécio Neves, presidente nacional licenciado do PSDB, teve menos sorte, já que o primo, Frederico Pacheco, recebeu uma mala com R$ 2 milhões.
Puccinelli usou o dinheiro para bancar a campanha eleitoral de prefeitos e vereadores aliados em 2012. Ivanildo disse que ficou sabendo que o dinheiro foi distribuído entre os candidatos.
Joesley cumpriu a promessa e repassou outros R$ 10 milhões, que foram pagos por meio de notas fiscais falsas e doações oficiais.
Ivanildo cita que parte do dinheiro foi repassado ao empresário “Jerson Francisco Araújo”. O nome é semelhante ao do dono da RDM, Gerson Francisco Araújo. A empresa começou a prestar serviço para a prefeitura, que era receber os impostos atrasados, na gestão de Puccinelli e teve o contrato rompido em 2013 por Alcides Bernal.
Os pagamentos também foram feitos por notas falsas apresentadas pelo Instituto Ícone de Ensino Jurídicos, cujos donos – João Paulo Calves e Jodascil Gonçalves Lopes – tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça na Operação Papiros de Lama.
O ex-governador não se manifestou ainda sobre a delação de Ivanildo Miranda.
TRF3 manda soltar Puccinelli e aliados cantam para debochar de adversário: “chora”
Durou menos de 24 horas a prisão preventiva do ex-governador André Puccinelli (PMDB). O advogado Antônio Mariz, que é amigo do presidente Michel Temer (PMDB), salvou o peemedebista pela segunda vez.
Ele conseguiu habeas corpus junto ao Tribunal Regional Federal na manhã de hoje. A liminar também beneficia o filho, o advogado e professor universitário André Puccinelli Júnior.
Segundo o deputado federal Carlos Marun (PMDB), que usou a prerrogativa do cargo de deputado federal para visitar o amigo no presídio, eles dividiram uma cela com outros 18 presos no Centro de Triagem.
O deputado condenou a delação premiada de Ivanildo da Cunha Miranda. Apesar das evidências, Marun adotou o mesmo raciocínio que fez para avaliar a inocência do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), condenado a 14 anos de prisão, e do presidente Michel Temer, acusado de chefiar organização criminosa, corrupção passiva e obstrução da Justiça.
Ele considerou uma injustiça a prisão do ex-governador.
Logo após a concessão do habeas corpus, os aliados do deputado festejaram e até debocharam dos adversários de Puccinelli.
“Chora bernaldetes, chora bernaldetes, que o André já está lá fora”, cantaram hits em grupos de whatsapp, em alusão aos defensores de Bernal.
No entanto, parece que a prisão do peemedebista foi mais comemorada por aliados do passado do que pelos adversários históricos.