Com medo de serem gravados, políticos e até empresários de Mato Grosso do Sul criaram uma nova regra: a reunião a portas fechadas só começa após o recolhimento de todos os telefones celulares. Deputados estaduais e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) aderiram à paranoia após a publicação das conversas gravadas pelo ex-senador Sérgio Machado (PMDB) no ano passado.
Na Governadoria, ninguém participa de reunião com o tucano antes de entregar o celular para a recepcionista do gabinete. No local, até existe uma caixinha com a frase: deposite seu celular aqui.
A regra deve ser cumprida por todos, empresários, políticos e deputados estaduais.
No entanto, a medida também passou a ser exigida pelo presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi (PMDB), e demais deputados. Todos concordam em entregar os equipamentos antes de qualquer reunião sigilosa.
A primeira vez que a medida foi cumprida causou constrangimento entre os deputados e o governador, no final de maio, quando ele foi até o legislativo se defender das denúncias da JBS, de que teria recebido R$ 38,4 milhões em propinas para conceder a isenção fiscal de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Até o presidente da República, Michel Temer (PMDB), acusado de corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar organização criminosa, foi gravado por Joesley Batista, dono da JBS, preso desde agosto deste ano.
A paranoia começou com Sérgio Machado, ex-presidente da BR Distribuidora, que gravou amigos antigos e poderosos, como os senadores Renan Calheiros, na época presidente do Senado, e Romero Jucá, atual líder do Governo no Congresso.
Foi uma gravação que levou Delcídio do Amaral, na época líder do Governo no Senado, para a cadeia. Ele foi gravado tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, que teria mesada e ajuda para fugir pelo Paraguai para a Espanha.
Alguns dirigentes empresariais também adotam a regra de recolher os celulares dos convidados para as reuniões.
Com medo de serem pegos com a boca na botija, os políticos decidiram impor uma nova regra de etiqueta. Para evitar que o cidadão cometa a indelicadeza de deixar o aparelho ligado e corra o risco de tocar no meio da reunião, eles recolhem o telefone na entrada.
Nada como viver em um estado de “políticos honestos”, que só pensam na etiqueta e nas boas maneiras de educação.
Esse negócio de que recolhem o celular para não serem gravados cometendo algum crime é paranoia de quem acha que só tem bandido na política.