A soltura do estudante de Medicina João Pedro Silva Miranda Jorge, 23 anos, após o trágico acidente que matou a advogada Carolina Albuquerque Machado, 24 anos, na véspera do Dia de Finados, só contribui com a sensação de impunidade no trânsito de Campo Grande. Sem fiscalização eletrônica, sem campanhas educativas e sem policiamento ostensivo, a população sente-se livre para não cumprir as regras de trânsito e o quadro instalado é o de salve-se quem puder.
Conforme testemunhas, Carolina estava com o filho de três anos e oito meses, ao fazer a conversão para entrar na Avenida Paulo Coelho Machado não respeitou o sinal vermelho, quando o seu veículo Fox preto foi atingido pela Nissan Frontier, dirigida por João Pedro, que trafegava a 160 quilômetros por hora.
A advogada morreu no local. Apavorado, o estudante ligou para o pai, o engenheiro João Carlos da Silva Jorge, ex-diretor da Sanesul, que lhe orientou a fugir para escapar do flagrante. Ele não prestou socorro para a motorista nem para a criança.
Após ter a prisão preventiva decretada pela Justiça, o universitário se entregou para facilitar a linha da defesa. Com bom poder aquisitivo, o jovem ingressou com pedido de liberdade.
A juíza de plantão, Eucélia Moreira Cassal, autorizou a soltura mediante pagamento de fiança de R$ 50.598 (54 salários mínimos), de recolhimento noturno e nos dias de folga, entrega do passaporte, comparecimento mensal à Justiça, suspensão do direito de dirigir por seis meses e monitoramento eletrônico com uso de tornozeleira.
João Pedro acabou não sendo punido como os demais mortais envolvidos em acidentes de grande repercussão.
A princípio, ele foi indiciado por homicídio culposo, sem a intenção de matar. No entanto, a polícia precisa ainda esclarecer algumas circunstâncias do crime: a caminhonete trafegava a 160 quilômetros por hora? O estudante tinha ingerido bebia alcoólica?
Esta última questão pode ser esclarecida com a verificação da comanda de bares ou locais frequentados pelo jovem antes de se envolver no acidente. Em outro acidente, o gasto com uísque e cerveja em um motel serviu como prova para apontar a embriaguez do condutor, que acabou sendo julgado por homicídio doloso.
O choque da morte repentina e trágica da advogada Carolina deveria servir para sacudir nossa cidade e mostrar que não se pode conviver com um trânsito onde as regras de boa convivência são totalmente ignoradas.
Os sinais de trânsito são para serem respeitados. O poder público deveria usar parte da fortuna arrecadada com multas para campanhas educativas, frisar a importância de se usar o cinto de segurança, respeitar a sinalização, os semáforos, os pedestres, os ciclistas, …
É visível que aumentou o número de condutores trafegando sem o cinto de segurança ou com crianças no banco da frente. O filho de Carolina só se salvou porque estava na cadeirinha – que isso sirva de referência para as mães.
Muitos motoristas só respeitam o sinal vermelho e a velocidade da via graças aos equipamentos de fiscalização eletrônica.
No entanto, os equipamentos estão desligados desde o final do ano passado.
Para agravar a situação, a prefeitura suspendeu, no dia 31, a abertura das propostas para religar os equipamentos.
A Diretoria Geral de Compras informou que houve muitos questionamentos ao certame, que tem muitos pontos favoráveis à Perkons. Ou seja, não há previsão para que os radares e lombadas eletrônicas voltem a ser ativados na Capital.
Para agravar a situação, o Batalhão da Polícia de Trânsito não dispõe de efetivo para intensificar as blitze e cobrir toda a cidade.
Neste cenário de “velho oeste” em que se transformou a nossa Capital, o cidadão deve redobrar a atenção ao sair de casa de motocicleta ou carro e ainda fazer uma boa oração para ficar protegido de quem se acha acima da lei e da Justiça.