O recapeamento transformou a Avenida Afonso Pena em pista de corrida, com o registro frequente de tragédias por excesso de velocidade, mas dificultou a locomoção de pessoas cadeirantes ou com dificuldade de locomoção. A obra milionária, inaugurada em 2011, construiu degraus e criou obstáculos para quem possui algum tipo de restrição na mobilidade.
A última vítima da via, que tem ótimo pavimento e serve para irresponsáveis testarem seus potentes e luxuosos veículos, foi a advogada Carolina Albuquerque Machado, 24 anos, e o filho de três anos e oito meses. Ela morreu no local após o veículo Fox ser atingido pela caminhonete Frontier, conduzida pelo estudante de Medicina, João Pedro da Silva Miranda Jorge, 23 anos, que fugiu do local sem prestar socorro para a criança.
Testemunhas e policiais estimam que o jovem trafegava a 160 quilômetros por hora na avenida, que foi totalmente recapeada ao custo de aproximadamente R$ 7 milhões em 2011, pelo então governador André Puccinelli (PMDB) e prefeito Nelsinho Trad (PTB).
No entanto, ambos só pensaram nos veículos ao elaborar o projeto de revitalização da via. Enquanto veículos podem trafegar a mais de 100 quilômetros por hora e causar tragédias, pessoas com deficiência passaram a ter mais dificuldade para trafegar na via após o recapeamento.
O candidato a vereador pelo PMN em 2012 e 2016, David Pedro Marques Campos, denunciou o fim da acessibilidade na avenida após a obra milionária, que criou verdadeiros degraus, impossibilitando o acesso de cadeirantes ou pessoas com locomoção reduzida. Além da falta de rampa, ele denunciou a descontinuidade do piso tátil.
Perícia do Ministério Público Estadual constatou que as rampas estão inadequadas ou inexistem no quadrilátero central.
Há quatro anos, desde 2013, a promotoria tenta resolver o problema administrativamente. O prefeito Alcides Bernal (PP) chegou a licitar e contratar uma empresa para fazer o serviço por R$ 62 mil entre as ruas Calógeras e 13 de Junho, mas o contrato foi anulado e o projeto não saiu do papel.
Agora, o promotor Eduardo Cândia ingressou com ação civil pública para obrigar o município a tornar a Avenida Afonso Pena acessível a pessoas cadeirantes ou locomoção reduzida em toda a sua extensão. Ele pede a inclusão de recursos no Orçamento de 2018 e a execução da obra em seis meses.
A ação civil pública se baseia no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) e o pedido de liminar será analisado pelo juiz da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, David de Oliveira Gomes Filho.
Conforme estimativa feita pelo município no ano passado, a adaptação da via,cartão postal da Capital, às normas de acessibilidade não deve onerar muito os cofres públicos. Em sete quarteirões, o custo seria de R$ 95 mil no ano passado.
Quando se observa um valor tão irrisório, a constatação é de que o problema não é dinheiro, é falta de compaixão e dignidade com quem precisa só um pouquinho do poder público para ter mais qualidade de vida.