A guerra por uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado deve marcar o final da gestão do governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Além do salário inicial de R$ 30,4 mil, regalias e foro privilegiado, o mais importante é que órgão já passou a ser visto como salvação para suspeitos de corrupção, que o enxergam como a “toca da impunidade”.
A batalha é aguerrida e pode repetir a articulação desastrada no final da gestão de André Puccinelli (PMDB), que viu a Justiça anular a nomeação do ex-deputado estadual Antônio Carlos Arroyo. Ele chegou a ter o nome aprovado pela Assembleia e nomeado para a vaga de José Ricardo Pereira Cabral, que teve a aposentadoria revogada.
O presidente do TCE, conselheiro Waldir Neves, que comanda a ala tucana na corte fiscal, atuou nos bastidores para evitar a posse de Arroyo. A estratégia deu certo. No entanto, nomeado por Zeca do PT para o cargo, Cabral desistiu da aposentadoria, frustrando os tucanos, que cogitavam nomear o deputado estadual Flávio Kayatt (PSDB) para a vaga.
Quase três anos depois do perrengue, Cabral volta a cogitar a aposentadoria. No entanto, Kayatt não está mais sozinho na briga pelo posto.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Junior Mochi (PMDB), começou a sonhar com a vaga após perder o comando do partido e naufragar a articulação para ser indicado o candidato a vice-governador na chapa de Reinaldo, repetindo o feito de Moacir Khol, que foi prefeito de Coxim e vice-governador na chapa de Zeca em 1999.
Kayatt continua sendo o favorito do governador, principalmente, depois de livrá-lo do relatório final da CPI da JBS, aberta somente para investigar o chefe do Executivo. No entanto, a vaga é do legislativo e Mochi, como presidente, deve ter o aval de boa parte dos colegas.
A outra vaga a ser aberta é da conselheira Marisa Serrano, que trocou o Senado pelo TCE. Ela aceitou ser indicada por Puccinelli em grande articulação para beneficiar o empresário Antônio Russo, dono do Frigorífico Independência, que estava em dificuldades financeiras. A delação da JBS mostra o que move este tipo de negociação.
Marisa completa 70 anos em fevereiro e cogita pedir aposentadoria, apesar da lei permitir que estenda o mandato até os 75 anos. No entanto, ela só pede o chapéu se o indicado para a vaga for o primo, o secretário de Fazenda, Márcio Monteiro.
Deputado federal licenciado, Monteiro tem dúvidas de que consegue a reeleição. Ele ainda é réu por concessão ilegal de benefícios para uma cerealista de Dourados. Sem falar nas denúncias de corrupção que assombram a gestão tucana e podem sobrar para o secretário, acusado de emitir notas frias para esquentar parte da propina paga pela JBS ao governador.
Aqui surge o primeiro problema. Se a aposentadoria de Cabral naufragar pela segunda vez, o governador vai indicar Kayatt, a quem continua grato.
Monteiro sonha com o TCE para manter o foro privilegiado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e não correr o mesmo risco de Puccinelli, que acabou colocando tornozeleira por determinação de uma juíza de primeira instância. A impunidade é maior nas instâncias superiores.
Só que a vaga de Marisa é do legislativo. Neste caso, o risco é ainda maior. André não trabalha com a hipótese apenas de ser candidato a governador.
Famoso pelo estilo dedicado ao trabalho, como prefeito e governador, ele mantém o mesmo ritmo, mas como articulador político.
Se não for preso nas operações Lama Asfáltica ou outra qualquer, como reza parte da sociedade sul-mato-grossense, ele tem o plano B definido, disputar o Senado, no lugar de Waldemir Moka (PMDB).
Em quarto lugar nas pesquisas, Moka pode ser indicado para o TCE na vaga de Marisa e não participaria de uma disputa onde a vitória não é tão certa. André tem bom trânsito junto aos deputados estaduais.
Moka pode ser indicado como parte de um grande acordo político, indicado pelo governador. Neste cenário, Reinaldo e André ficariam no mesmo palanque e poderiam disputar qualquer um dos cargos majoritários: Senado ou Governo. Qualquer um garantiria o foro privilegiado em 2019, quando poderão ser julgados pela propina de R$ 150 milhões da JBS.
Este último cenário abre o leque da teoria da conspiração sem fim. Como a vice-governadora Rose Modesto (PSDB) não abre mão de concorrer à Câmara dos Deputados, que tem a vaga garantida segundo pesquisas, Mochi pode assumir o Governo, mesmo com o risco de ficar no sereno após o fim do mandato.
Em todos os cenários, os envolvidos estão mais preocupados em buscar formas de fugir de eventuais punições do que com os interesses da população.
Afinal, apesar de ser o órgão responsável pela fiscalização dos recursos públicos, não há órgão mais obscuro e sem transparência do que o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul.
2 Comentários
Povo fica repetindo esse papagaiada da birosca da corrupçaum. Pau q bate em chico não bate em francisco. Luta conta a corrupçaum é pra enganar patinho amarelo. A esquerda tem q ficar atenta: não se pode trocar os direitos democráticos em favor da “luta” contra a corrupçaum. Prerrogativa de foro não foi criada para defender os medalhões nem para ajudar os fâmulos da plutocracia. Prerrogativa de foro serve para possibilitar a segurança e a livre expressão daqueles muito poucos parlamentares e funcionários de outros poderes que estão na contramão da plutocracia (grandes conglomerados internacionais, bancos e grande imprensa).
Por favor, procurem saber quantos dos conselheiros atuais do TCE/MS são efetivamente concursados e sabem fazer uma simples conta de somar ou subtrair! Um cabide de empregos sem tamanho! Torpe! Hermano de Melo de Melo.