Mais um capítulo na guerra do MPE (Ministério Público Estadual) para impor a “lei do silêncio” em Campo Grande. Em sentença publicada nesta quarta-feira no Diário Oficial, o juiz da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Alexandre Antunes da Silva, determinou o fim das atividades no Clube Libanês, inaugurado em 1962, e pôs fim ao tradicional baile da terceira idade aos domingos.
Construído por 400 libaneses ao longo de 10 anos, entre 1952 e 62, o clube faz parte da formação cultural de Campo Grande, segundo lembra Ruth Ribeiro, responsável por manter o espaço em funcionamento nos últimos 15 anos, graças aos bailes dos idosos.
Entre os fundadores do clube está Cônsul Asssaf Trad, avô do prefeito Marquinhos Trad (PSD). A obra demorou uma década porque os libaneses se dedicavam a ela nos finais de semana, após o encerramento do trabalho normal.
Inaugurado em 20 de outubro de 1962, localizado na Rua Dom Aquino, Centro da Capital, o Libanês protagonizou famosos carnavais ao lado dos clubes Estoril, Tênis Clube, União dos Sargentos e Rádio Clube Cidade.
A decadência da folia nos clubes da Capital veio acompanhada da decadência dos espaços. O Libanês só não se tornou um “elefante branco”, corroído pelo tempo e abrigo de moradores de rua, graças ao esforço de Ruth, responsável em reunir de 250 a 300 idosos para dançar e festejar a vida aos domingos.
A luta com o MPE começou há seis anos, em 2011, com a abertura de inquérito civil. Só para conseguir o alvará de funcionamento na Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), ela levou três anos. O documento vale até 2020.
O mesmo esforço valeu para obter o certificado de vistoria do Corpo de Bombeiros, válidos até o fim deste ano.
Apesar de Ruth argumentar que o baile ocorre das 18h às 23h30 de domingo, com dançarinos dispostos, mas comportados por causa da idade avançada, o juiz não se comoveu e exigiu o alvará especial, exigido dos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas desde 2003, quando foi implantada a Lei Seca.
O processo até ganhou um capítulo a parte, com o surgimento de um dos fundadores e sócio Abdallah Georges Sleiman. Ele relatou que é o principal credor do clube, alvo de inúmeras penhoras, e propôs fechá-lo devido à falta de condições de manutenção. O pedido foi negado.
“É um crime deixar fechar o clube”, lamenta Ruth, que tem esperanças de obter as licenças exigidas pelo juiz para evitar o fechamento definitivo do Libanês, situado em uma das áreas mais caras de Campo Grande.
“Se eu não lutasse, já tinha fechado”, lamenta-se a responsável pela festa de velhinhos e velhinhas, que decidiram aposentar a vida provinciana, de só ter tempo para fazer crochê e ir às missas.
Caso ignore a sentença judicial, que determinou o fim das atividades até a apresentação de todos os alvarás, o Libanês poderá pagar R$ 1 mil por dia.
O fechamento do clube não deverá prejudicar os idosos, já que há um leque de opções para se dançar de segunda a segunda na Capital, mas, com certeza, vai enterrar parte da nossa história.
Será apenas mais um prédio histórico depredado e surrupiado pelo tempo em uma cidade que não preza pelo seu patrimônio histórico e cultural.