A Operação Máquinas de Lama, realizada pela Polícia Federal de Mato Grosso do Sul em 11 de maio deste ano, localizou mais uma prova do pagamento de propina de R$ 1 milhão pela JBS ao presidente da República, Michel Temer (PMDB), acusado de corrupção, obstrução da Justiça e de chefiar organização criminosa. No entanto, apesar do impacto nacional, a Operação Lama Asfáltica patina no Estado.
A apreensão de uma planilha secreta, que revela a movimentação de conta corrente específica para distribuição de propina, foi revelada nesta segunda-feira pela Revista Época. De acordo com a publicação, o material foi encontrado em uma pasta no gabinete de Wesley Mendonça Batista.
Os documentos foram apreendidos na Operação Máquinas de Lama, denominação da 4ª fase da Lama Asfáltica, a que levou o ex-governador André Puccinelli (PMDB) a usar a tornozeleira eletrônica por uma semana. A juíza substituta da 3ª Vara Federal de Campo Grande, Monique Marchioli Leite, determinou a busca e apreensão nos dois frigoríficos de Campo Grande, na Eldorado e no escritório da JBS em São Paulo.
Durante batida na unidade paulista, o delegado Hemógenes de Freitas Leitão Neto, encontrou o relatório da conta aberta para supostamente pagar propina. Entre 25 de agosto de 2014 e 21 de janeiro de 2015, a empresa depositou R$ 56 milhões.
Na planilha, há a menção da Temer, o amigo dos empresários, que teria recebido R$ 1 milhão em 2 de setembro de 2014. A data coincide com a delação premiada do lobista Ricardo Saud, que revelou o pagamento de propina de R$ 1 milhão ao presidente da República. O dinheiro foi entregue no escritório indicado pelo peemedebista em São Paulo.
A Operação Máquinas de Lama foi derradeira na decisão do procurador geral da República, Rodrigo Janot, em rever a delação premiada dos irmãos Batista.
Ao analisar o celular de Wesley, compartilhado pela Operação Tendão de Aquiles, os peritos de Mato Grosso do Sul descobriram um grupo de wahtsapp, no qual Miller, então braço direito de Janot, orientou os empresários de como proceder para obter o aval do MPF para fazer a colaboração premiada.
O caso levou a nova reviravolta no caso da JBS, que passou a ter a delação premiada revista pela Justiça.
No entanto, se faz estragos em Brasília, a Lama Asfáltica patina em Mato Grosso do Sul, quase surreal, seguindo a risca o ditado de que “santo de casa não faz milagre”.
Desde 2013, os policiais federais investigam uma organização criminosa especializada em desviar recursos públicos no Estado. No entanto, entre as idas e vindas, a investigação não consegue andar.
A força-tarefa já detectou indícios de que houve desvio de R$ 230 milhões dos cofres públicos, mas não consegue colocar ninguém na cadeia graças ao Poder Judiciário.
O combate à corrupção, mal que levou o Rio de Janeiro à falência, não é prioridade para o Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Tanto que a vara encarregada pela operação está sem juiz titular e substituto desde o início deste mês.
A Operação Lama Asfáltica está sendo comandada pelo substituto do substituto, sem desmerecer o trabalho do juiz Ney Gustavo Paes Andrade. O titular, Odilon de Oliveira, aposentou-se no dia 5. O substituto, Fábio Luparelli Magajewski, emendou as férias com a licença para fazer um curso até janeiro.
Ontem, o delegado da Polícia Federal, Guilherme Faria, admitiu que a falta de um juiz atrapalha o andamento, mas não compromete a investigação contra a corrupção no Estado.