A JBS usava a Rede Comper, a maior varejista de Mato Grosso do Sul e 8ª no ranking nacional, para fazer doações e pagar propinas aos políticos. Duas delações envolvem o Grupo Pereira, que também é dono do Bate Forte e do Fort Atacadista, no esquema milionário de propinas e doações ilegais para corromper políticos no Estado.
O grupo foi envolvido pela primeira vez em maio deste ano, quando a JBS teve a delação premiada homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. A empresa foi citada pelo executivo Valdir Aparecido Boni, que era o encarregado de obter as isenções fiscais e as propinas ao ex-governador André Puccinelli (PMDB) e ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Em planilhas entregues ao procurador geral da República, Rodrigo Janot, ele mostra que o Comper e o Bate Forte foram usados para distribuir R$ 5 milhões ao grupo político de Puccinelli.
Só a Rede Comper foi usada para fazer repasse de R$ 4.602.779,57 entre 2007 e 2014, conforme resumo da planilha anexada ao inquérito no STF. Fachin suspendeu o sigilo da delação ainda no primeiro semestre deste ano.
Em um trecho da planilha do empresário Ivanildo Miranda, que atuou como operador financeiro de Puccinelli e Azambuja, há o repasse de R$ 789,4 mil no dia 18 de julho de 2011 mediante pagamento feito pelo Comper.
No dia 9 de agosto de 2011, a rede é citado no pagamento de R$ 869,3 mil para políticos via Ivanildo.
Já em 20 de junho de 2010, quando Puccinelli disputou a reeleição e venceu o ex-governador Zeca do PT, a planilha aponta para retirar R$ 400 mil com Beto Pereira, no Bate Forte. O empresário é o acionista majoritário do grupo, que controlas as três empresas: Comper, Bate Forte e Fort Atacadista.
No termo de colaboração 02, o operador do PMDB, o economista Lúcio Bolonha Funaro, em um dos vídeos divulgados pela Câmara dos Deputados, com 1h12min de depoimento, cita a utilização da Rede Comper pelo empresário Joesley Mendonça Batista, dono da J & F Investimentos, controladora da JBS e Eldorado Celulose.
Funaro conta que parte da propina de R$ 25 milhões paga ao ex-ministro da Agricultura e atual vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrada (PMDB), foi paga por meio de doações feitas por uma rede de supermercados mineira.
O operador do PMDB revela que em Mato Grosso do Sul, a JBS usava o Comper para fazer doações não oficiais e pagamento de propina para políticos. Ele reforça a delação de Valdir Boni, mas não fala em valores que Joesley distribuiu por meio da maior rede de supermercados do Estado.
O Comper aparece várias vezes nas planilhas da JBS, em que fazia a distribuição de recursos aos aliados de André Puccinelli.
O Jacaré procurou a assessoria da Rede Comper na quinta-feira sobre a citação do grupo nas delações da JBS e Lúcio Funaro. Nesta segunda-feira, às 10h15, a empresa informou que não se manifestará por não ter mais detalhes sobre as delações.
A ligação do Grupo Pereira com políticos é notória.
A inauguração da última loja de atacarejo, do Fort Atacadista, que substituiu o antigo Maxxi no Bairro Coronel Antonino, foi prestigiada pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD).
No sábado, a Prefeitura Municipal de Campo Grande autorizou a rede a transformar o obelisco, um dos principais monumentos históricos e culturais da Capital, em outdoor alusivo ao aniversário do Comper.
Após mobilização nos aplicativos e redes sociais, o prefeito determinou a retirada da pichação comercial do obelisco, que fica no cruzamento da Rua José Antônio com a Avenida Afonso Pena. O canteiro é tombado como patrimônio histórico cultural do município.