O Governo estadual não tem dinheiro para despesas essenciais, como saúde e educação, mas não poupou gastos com propaganda. De 1º de janeiro de 2015 até neste mês, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) gastou R$ 165,4 milhões com publicidade. Nesta segunda-feira, ele renovou, pela sétima vez, os contratos com 11 agências e prevê gastar R$ 35 milhões em seis meses.
O valor previsto para o período de outubro deste ano a abril de 2018 seria suficiente para concluir o Aquário do Pantanal, obra emblemática e que já consumiu R$ 234 milhões aos cofres públicos.
O tucano leva ao pé da letra que a propaganda é a “alma do negócio”. Além de estar envolvido em denúncias de corrupção e investigado em dois inquéritos no Superior Tribunal de Justiça, com as finanças no vermelho e do fracasso das medidas inovadoras, Reinaldo ainda será obrigado a implementar medidas impopulares, uma marca do PSDB, como o reajuste irrisório de 2,94% nos salários e ainda elevar a alíquota da contribuição previdenciária dos servidores de 11% para 14%.
Apesar de tudo isso, o governador tem esperanças de recuperar o encanto que contagiou o eleitorado em 2014 e o elegeu no segundo turno de 2014, quando prometia um novo tempo para Mato Grosso do Sul.
A estratégia é manter longe da tesoura os gastos com publicidade. Nem o famoso congelamento dos investimentos públicos deve atingir o segmento.
Nos últimos três anos, o tucano gastou R$ 165,4 milhões com 11 agências de publicidade, conforme o Portal da Transparência. A conta só inclui o valor pago.
Só para se ter ideia da importância desta estratégia foi o resultado do PSDB nas eleições municipais do ano passado. Os tucanos conquistaram 36 das 79 prefeituras do Estado, elegeram 164 vereadores e ainda disputou o segundo turno em Campo Grande com a vice-governadora Rose Modesto (PSDB).
O governador ainda não tinha sido arrastado para o tsunami de denúncias de corrupção que envolve desde vereadores de cidade pequena ao presidente da República, Michel Temer (PMDB) – este também acusado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e de chefiar organização criminosa.
Reinaldo não tinha nenhuma obra para mostrar ao eleitorado, mas foi o principal cabo eleitoral graças aos investimentos em propaganda, que tiveram um salto em 2016. Só para ter uma ideia, uma agência recebeu R$ 626,5 mil em 2015, enquanto levou R$ 10,8 milhões no ano passado.
Como a estratégia deu certo em 2016, os tucanos se preparam para apostar tudo em publicidade no próximo ano, quando o governador deverá disputar a reeleição e se preparar para ampliar as bancadas estadual e federal.
Agências que mais receberam 2015-17
1ª – Think Service Design – R$ 26.368.632,31
2ª – Art e Traço Publicidade e Assessoria – R$ 23.871.475,77
3ª – Ramal Propaganda – R$ 19.648.118,51
4ª – Agilitá Publicidade – R$ 19.598.801.19
5ª – Novo Engenho Comunicação Integrada – R$ 17.782.495,75
O primeiro passo neste sentido foi dado pelo secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel, que assinou o 7º termo aditivo no contrato com 11 agências de publicidade. No total, ele prevê gasto de R$ 35 milhões em seis meses.
Enquanto prioriza o gasto com propaganda para ganhar o imaginário popular, o tucano corta dinheiro da saúde.
Administrado pelo Instituto Gerir, uma organização social, desde o ano passado, o Hospital Regional de Ponta Porã restringiu drasticamente o atendimento por causa do atraso no pagamento por parte do Governo estadual.
A falta de dinheiro é o principal motivo do atraso na segunda edição da Caravana da Saúde. O mutirão é a esperança de milhares de doentes em conseguir atendimento com especialista, exame ou cirurgia de catarata e acabar com uma espera de até décadas.
O governado também fechou o centro de línguas, que beneficiava 1,5 mil estudantes carentes, porque não tinha dinheiro.
E para completar o cenário, real, de terra devastada, ainda existe o risco de atrasar o pagamento dos salários dos 75 mil servidores públicos. A esperança do tucano, conforme ele mesmo admitiu, é o Refis, com o qual pretende arrecadar R$ 650 milhões até o fim do ano.
Por enquanto, a crise só não chegou nos gastos milionários com propaganda.
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