A falta de investimento em saúde causa tragédias, que só quem sofre para ter a dimensão da dor. Nesta sexta-feira (6), a dona de casa Mara Teixeira, 36 anos, recebeu a notícia de que a filha, Pietra Teixeira do Nascimento, 9, morreu após ser picada por um escorpião porque o hospital de Aparecida do Taboado, a 457 quilômetros da Capital, não tinha soro.
É o segundo filho que ela perde por falta de estrutura no município da região do Bolsão, com 25 mil habitantes e 11 estabelecimentos de saúde, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A cidade tem porte para garantir estrutura mínima no atendimento da saúde aos seus moradores.
No entanto, por falhas na administração municipal, famílias choram a morte de entes queridos.
Pietra morava com o pai. Por volta das 4h30 da madrugada de quinta-feira, enquanto dormia com a avó, ela foi picada pelo escorpião.
Segundo a madrasta da menina, a bacharel em Direito, Cláudia Pereira, 35, eles correram para o hospital municipal. No entanto, foram informados de que nenhuma unidade de saúde no município tinha o soro antiescorpiônico, fornecido gratuitamente pelo Ministério da Saúde.
Durante duas horas, a menina só recebeu medicamento para conter o vômito e dor. Ao verificar que o estado da filha se agravava, Patrick se desesperou e encaminhou a garota para o hospital de Santa Fé do Sul (SP), a 29 quilômetros.
No entanto, como o soro foi aplicado tarde, o veneno atingiu os órgãos de Pietra, que não resistiu e faleceu na madrugada de ontem.
“A gente fica anestesiado, não tem como explicar a dor da perda por ineficiência, não fizeram nada”, lamenta Cláudia.
A dor maior foi para a mãe. “Dói muito este desleixo, este abandono do poder público”, lamentou Mara.
Não é a primeira vez que a dona de casa sente esta dor. Há dois anos, ela viu o filho Enzo Rafael morrer 20 dias após o nascimento por falta de equipamentos no mesmo hospital. A criança tinha má formação no céu da boca e precisava ser removida para Campo Grande.
O bebê teve paradas cardíaca e respiratória e morreu no caminho, a 20 quilômetros da Capital.
Mara viu dois dos quatro filho morrerem por falta de estrutura em Aparecida do Taboado.
Em entrevista ao Midiamax, o secretário municipal de Saúde, Márcio Garcia Galdino, confirmou que não havia soro no hospital. Ele anunciou que irá investigar o motivo da falta do medicamento.
A falta de estrutura no interior é reflexo da falta de investimento por parte do poder público. O Governo estadual repete o discurso de que irá regionalizar o atendimento no interior para acabar com a romaria de ambulâncias para Campo Grande.
No entanto, o discurso ganha ênfase na campanha eleitoral e não sai do papel durante quatro anos.
O atual governador, Reinaldo Azambuja (PSB), tinha prometido regionalizar a saúde. No entanto, logo após a posse, cancelou as obras dos hospitais regionais lançados pelo antecessor, André Puccinelli (PMDB), em Dourados e Três Lagoas. Ele relançou os editais para ganhar o status de padrinho das obras, enquanto isso, o povo sofre com a precariedade no atendimento.
As mortes dos filhos de Mara deveriam ser o sinal de alerta, de que a saúde precisa de investimentos, independente de partido ou ideologia, porque pode evitar novas tragédias.
Além da falta de investimento, a saúde sofre com a corrupção e a má aplicação do recurso público.
Infelizmente, a dor no coração e na alma só sente quem sente na pele o descaso do poder público.
O Jacaré tentou falar com o prefeito de Aparecida, José Robson Samara Rodrigues de Almeida, o Robinho (PSDB), mas ele não atendeu à ligação.
4 Comentários
Pingback: “Cola em prova” vira a gota d’água em escândalos e pode custar mandato de prefeito – O Jacaré
Pingback: Juíza afasta comissionados por “cola” em prova de concurso e fraude em licitação – O Jacaré
Prefeito fica mais em campo grande do que em Aparecida nao temos prefeito!!!
Nessas horas quero ver se o prefeito atende ligação. ???