A Justiça faz audiência nesta terça-feira, 15h, para discutir o agravamento de mais um setor da saúde pública, enquanto os envolvidos seguem com faturamento milionário. Este é o caso da Santa Casa de Campo Grande, que trocou a beneficência pelo lucro, e decidiu fechar o setor de psiquiatria, criado há 50 anos e considerado um dos três melhores do País.
O mais grave, o fechamento ocorre, apesar de Campo Grande contar com 7.380 pacientes na fila por atendimento no setor. O fechamento de 10 leitos agravará, numa situação sem precedentes, a vida de outros 58 pacientes, que aguardam a internação em casa (38) ou vagas improvisadas em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento Médico) e Centros Regionais de Saúde.
É difícil ter palavras para expressar a revolta com decisões de dirigentes, como o atual presidente da Associação Beneficente de Campo Grande, gestora do hospital, Esacheu Nascimento, advogado e ex-presidente regional do PMDB.
Mesmo com o funcionamento da ala da Santa Casa, pacientes com transtornos mentais sofrem com a falta de local para serem atendimentos na cidade. A Central de Regulação conta com 7.380 pessoas aguardando consulta com psiquiatra.
Entre os 20 internados em postos de saúde, alguns estão amarrados há 15 dias em leitos improvisados e em locais sem condições de manter a internação.
O mais grave é que neste caso o problema não é a superlotação. De acordo com a direção, o principal motivo é a baixa taxa de ocupação, 85%. Pasmem, para a empresa Falconi Consultoria, contratada por R$ 1,7 milhão, só valeria apena manter a unidade se tivesse o padrão do pronto socorro, superlotada, acima da capacidade.
Agora, conforme relatório feito pela Defensoria Pública, a Santa Casa passou a ser movida pelo lucro. Fazer o bem não é mais a linha mestra da instituição criada no início do século passado para ajudar pacientes sem condições de pagar pelo atendimento médico.
O setor de psiquiatria foi criado ainda quando os dirigentes tinham a boa vontade de ajudar o próximo. Tornou-se referência nacional e é considerado um dos três melhores do Brasil pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
Em cinco anos, de 2010 a 2015, o hospital realizou o atendimento de 53,3 mil pacientes psiquiátricos.
Cientes da demanda, médicos do setor até propuseram a criação de 30 novos leitos, sendo 10 por meio de convênios, para atender dependentes químicos. Já de olho no lucro, a direção rejeitou a proposta.
A proposta de fechar o setor segue a galope, apesar dos esforços do MPE, da Defensoria e do secretário municipal de Saúde, Marcelo Varela. O município propôs elevar o repasse para a Santa Casa manter o serviço, mas a proposta foi rechaçada pelo presidente Esacheu Nascimento.
Ele firmou acordo com o Nosso Lar para transferir os pacientes internados. No entanto, segundo a defensora Eni Maria Sezerino Diniz, as duas instituições possuem finalidade diferente.
A Santa Casa é referência no tratamento de paciente agudos, enquanto o Nosso Lar para doentes crônicos e reagudizados. A transferência só poderia ser feita por recomendação médica. No entanto, neste caso, é por determinação de um consultor.
O fechamento foi anunciado justamente em setembro, mês em que se combate o suicídio. Campo Grande tem a maior taxa de suicídio do país entre jovens de 15 a 29 anos. Foram 4.019 tentativas, com 280 mortes, entre 2010 e 2015, conforme dados do Ministério da Saúde.
Além de Deus, os familiares dos doentes têm na Justiça como a última esperança. O juiz da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, David de Oliveira Gomes Filho, faz a audiência para tentar um acordo nesta terça-feira.
Somente após ouvir todos os envolvidos, ele vai decidir sobre a ação da Defensoria Pública, que pede liminar para evitar a desativação dos leitos e o fechamento do ambulatório da Santa Casa.
A defensora pede ainda a condenação do poder público a pagar indenização pelos pacientes internados em postos de saúde de forma precária ou aguardando uma vaga em casa.
E todo este sofrimento, apesar da Santa Casa receber mais de R$ 240 milhões por ano.
2 Comentários
A Santa Casa desde sua fundação construída com dinheiro público e mantém se com dinheiro público, os equipamentos, insumos , é uma vergonha!! Deveria ser retomada e municipalizada!! Constituida de um Conselho com autonomia para não permitir ingerência política
Reportagem canalha. Todos os hospitais que não quebraram com a política anti manicomial, foram sucateados pelos governos esquerdosos desde o fétido FHC, pagando uma mixaria e jogando os doente pra cima da família. Agora que viram que tudo deu errado, tira o dele da reta e joga a culpa pra cima dos filantrópicos na maior cara de pau.
O mais grave da sua matéria é a tendenciosidade. O bom jornalismo manda ouvir sempre os dois lados. Você acusou a Santa Casa e não ouviu ninguém de lá. Você não sabe, nem procurou saber quanto custa um doente psiquiátrico. Você não explicou como a situação chegou a isso descrevendo o boicote sistemático aos setor psiquiátrico, principalmente nos últimos 13 anos onde marginalizaram toda uma classe médica, supostamente em benefício do doente, mas que na verdade foi feita e dirigida por quem não entende porra alguma da área e só queria “lacrar” com políticas sociais e posar de de politicamente correto. Você é péssimo e seu artigo desprezível. Passar mal. Muito mal.