Alvo de denúncia do Ministério Público Estadual na sexta-feira passada por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito, o ex-prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP) teve evolução meteórica no patrimônio. Em seis anos, o crescimento foi de 505%, de R$ 287,3 mil para R$ 1,740 milhão, conforme as declarações apresentadas à Justiça Eleitoral.
O progressista alega que adquiriu os bens com muito trabalho. “Sempre trabalhei no rádio, começava às 4 da manhã”, justifica. Pela explicação, ele pode ser o exemplo do famoso ditado popular, de que “Deus ajuda quem cedo madruga”.
A polêmica sobre o patrimônio começou logo após a posse como prefeito da Capital em janeiro de 2013, quando ele comprou o apartamento de luxo no Edifício Parque das Nações, no Bairro Santa Fé, o mesmo de desembargadores, vereadores e outros políticos.
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Jornais passaram a especular e o então prefeito sempre negava, ampliando a polêmica. A compra se confirmou pelo valor oficial de R$ 1,5 milhão, sendo R$ 642 mil à vista, divididos em três parcelas, e o restante por meio de financiamento da Caixa Econômica Federal.
No dia 22, o promotor de Defesa do Patrimônio Público, Marcos Alex Vera de Oliveira denunciou o ex-prefeito por improbidade administrativa por não ter comprovando a origem dos R$ 642 mil. Além da perda desta quantia, ele pede o bloqueio de R$ 2,5 milhões em bens para garantir o ressarcimento do erário público e o pagamento de multa civil.
Bernal destaca que nunca foi ouvido pelo MPE sobre a aquisição do apartamento. “Só fiquei sabendo pela imprensa”, garantiu, apesar do promotor citá-lo na ação, de que teria sido genérico e não conseguiu explicar a origem do dinheiro.
Marcos Alex foi o responsável pela famosa Operação Coffee Break, que desvendou o suposto golpe para cassar Bernal, resultou na denúncia de 24 políticos poderosos na cidade e acabou lhe devolvendo o cargo de prefeito. Só para se ter ideia da repercussão do caso, até hoje, dois anos após o escândalo, o juiz Márcio Alexandre Wust, da 6ª Vara Criminal, não decidiu se aceita ou recusa a denúncia.
O Jacaré foi conferir o patrimônio oficial de Bernal, com base nas declarações apresentadas ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Em 2010, quando disputou mandato de deputado estadual, ele tinha R$ 287,3 mil, o que incluiu uma casa no Jardim Paulista, avaliada em R$ 100 mil, e R$ 180 mil em dinheiro.
Em 2012, quando disputou a prefeitura e foi eleito, apesar de concorrer com Edson Giroto, candidato apoiado por um grande arco de alianças e ter o apoio do prefeito Nelsinho Trad (PTB) e do governador André Puccinelli (PMDB), tinha R$ 1,3 milhão. Neste caso, a casa do Jardim Paulista já estava avaliada em R$ 700 mil, o valor na poupança saltou para R$ 500 mil e um carro de R$ 100 mil.
Em 2016, quando disputou a reeleição, o patrimônio teve outro salto, para R$ 1,7 milhão. Neste caso, Bernal contabilizou o polêmico apartamento no Edifício Parque das Nações, avaliado em R$ 897,3 mil e a casa no Jardim Paulista, R$ 343 mil. Não foi declarado nenhum carro.
A evolução em seis anos
2010 – R$ 287.374,01 (candidato a deputado estadual)
2012 – R$ 1.300.000,00 (candidato a prefeito)
2016 – R$ 1.740.452,78 (candidato à reeleição)
Em 2016, Bernal já morava na casa de 900 metros quadrados e avaliada em R$ 2 milhões. O imóvel não foi incluído porque só foi regularizado neste ano e deve estar na declaração do Imposto de Renda do ex-prefeito deste ano.
O ex-prefeito atribuiu a evolução patrimonial a muito trabalho.
“Só repetindo: sou advogado há 30 anos, 20 anos como radialista, sempre trabalhei no rádio começava às 4 da manhã, inclusive aos sábados e domingos”, disse. “Fui vereador, deputado e prefeito da capital. Sou profissional liberal. Tenho diversas atividades licitas que me dão condições de auferir recursos”, ressaltou.
Sobre a evolução ter sido maior nos últimos anos, ainda acrescentou ao programa de TV Record. “Apresentei na TV Record o Balanço Geral por mais de ano”, acrescentou.
“Atualmente sofro com essa situação por ter enfrentado um sistema vigente e perverso na política. Respeito o MP e o Judiciário e acredito na justiça”, concluiu.
Sobre a mudança de casa, um costume comum dos políticos da Capital, o ex-prefeito diz que sofreu atentado e buscou mais segurança para a família. Só para exemplificar, a vice-governadora Rose Modesto (PSDB) trocou o Bairro Parati por um apartamento perto do shopping logo após ser eleito vereadora.
Ele tentou o apartamento, mas decidiu mudar de local ao tomar conhecimento de que teria os adversários políticos como vizinhos.
“Com relação à ação só tomei conhecimento agora. Mas vou pedir a oportunidade de esclarecer qualquer dúvida, juntar documentos e exercer o direito de defesa. Tenho tranquilidade que tudo será esclarecido”, frisou, sobre a ação de improbidade apresentada na sexta-feira.
2 Comentários
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Se todos os políticos fossem investigados como Bernal é, teriam que fazer outro concurso p promotor