O prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), não apontou nenhum motivo para cancelar a lei e retomar a área de 5 mil metros quadrados vendida aos católicos, que pretendiam construir a Catedral de Nossa Senhora da Abadia, um sonho de décadas. Ele só destacou que usou a discricionariedade, ou seja, opção de escolha dele como chefe do Poder Executivo.
O projeto de lei revogando a Lei 5.608, de 17 de agosto de 2015, foi encaminhado nesta quinta-feira à Câmara Municipal. A legislação definia a utilização de 15.125 metros quadrados, sendo 2 mil doados ao Setlog (Sindicato de Transporte Logístico de Mato Grosso do Sul), permuta de 5 mil metros quadrados à Arquidiocese de Campo Grande e 8.125 para a construção de praça pública no Bairro Chácara Cachoeira.
Evangélico, prefeito cancela lei que doava área para católicos
Na mensagem encaminhada ao presidente da Câmara, vereador João Rocha (PSDB), Marquinhos não aponta nenhuma irregularidade para embasar a revogação da lei.
Nem o suposto erro na medição, apontado pelo secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, José Marcos da Fonseca, em entrevista ao Campo Grande News, foi citado.
O segundo ponto para justificar o pedido: “considerando a discricionariedade que o Poder Executivo Municipal possui em alienar ou não, no caso permutar e doar área pública objeto da matrícula n. 180.417 da 1ª Circunscrição de Registro de Imóveis, de acordo com sua motivação”.
A chave é a palavra “discricionariedade”, que significa a opção de escolha do prefeito, que é evangélico.
O fim da permuta faz voltar à estaca zero o sonho dos católicos de construir o santuário voltado para Nossa Senhora, que era idealizado para ser a maior igreja na Capital, com capacidade para mil lugares.
Não houve reza nem pedido que fizesse o prefeito mudar de ideia. Na tarde de quarta-feira, católicos realizaram corrente de oração para sensibilizar Marquinhos, que discutiu a polêmica com o arcebispo metropolitano de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa.
Entretanto, a reunião não fez o prefeito recuar um milímetro da proposta inicial, para desalento dos fieis. Ele manteve a proposta de retomar a área. A proposta ainda depende da Câmara Municipal, onde dificilmente a vontade do chefe do Executivo é contrariada.
Dom Dimas deixou o encontro sem por fogo na polêmica. Conformado com a proposta, o arcebispo revelou que será criada uma comissão para definir uma nova área para fazer a permuta com a igreja.
Com a prefeitura sem dinheiro, o cancelamento da doação pode ter finalidade financeira. O Bairro Chácara Cachoeira é um dos que mais se valorizam na Capital.
Em 2015, o imóvel destinado à igreja estava avaliado em R$ 4,9 milhões. Aqui surgiu um pequeno, mas valioso problema. Os terrenos da Arquidiocese estavam avaliados em R$ 2,7 milhões. Para ficar com o imóvel, seria necessário o pagamento de R$ 2,2 milhões em dinheiro – valor considerado elevado até para a arrecadação ser feita pelas tradicionais quermesses católicas.
Marquinhos poderá arrecadar aproximadamente R$ 15 milhões somente com o imóvel em questão, que mede 15 mil metros quadrados. Neste caso, ele deverá cancelar até a construção da praça no bairro.
Neste terreno não teve a polêmica que ocorreu com os imóveis doados para a igreja do ex-prefeito Gilmar Olarte pelo irmão do atual prefeito, Nelsinho Trad (PTB), que foi cancelada pela Justiça.
Nesta quinta-feira, por exemplo, Marquinhos determinou o cancelamento da doação de terreno para a Loja Maçônica Colunas da Lei número 55, que ficava na Praça 4, com 2.875 metros quadrados, na Vila Portinho Frederico Pache.
O terreno dos católicos não foi alvo de questionamento porque a lei previa permuta, não doação, como quer fazer acreditar o prefeito para afastar as suspeitas de que agiu por convicção religiosa.
Como tudo na vida, a política é questão de fé. Cada um acredita no discurso que melhor soar aos ouvidos.
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