Evangélico, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD) vem deixando de lado a atuação laica para se deixar guiar pela doutrina religiosa. Em nove meses de gestão, o chefe do Executivo vem demonstrando que governará apenas para uma parte da cidade, os protestantes, enquanto os demais cidadãos deverão seguir os rigores da lei.
A última polêmica começou nesta terça-feira, quando o prefeito anunciou, em entrevista ao Campo Grande News, a retomada da área de cinco mil metros quadrados doada para a Arquidiocese de Campo Grande em 2015. No local, a igreja católica pretende construir a Catedral de Nossa Senhora da Abadia, a sua padroeira.
O novo santuário é um sonho antigo dos católicos e começou a tomar forma em 2002, por iniciativa do arcebispo Dom Vitório Pavanello. Milhares de católicos fizeram abaixo-assinado para convencer o município a colaborar com o projeto.
A proposta é construir a maior igreja católica da cidade, com capacidade para mil fieis sentados, com salão de eventos, salas para atendimento, museu de arte sacra, capela e ossário para crematório, centro social e casal paroquial.
O curioso é que a doação aos católicos foi sacramentada na gestão de Gilmar Olarte (PP), pastor e fundador da Assembleia de Deus do Bairro Coophamat. Ou seja, o ex-prefeito conseguiu agir com mais laicidade e de forma mais republicana que Trad.
Conforme as últimas estatísticas disponíveis, apesar do crescimento expressivo dos evangélicos, os católicos ainda são maioria na Capital.
O prefeito vai precisar do apoio dos vereadores para cancelar a doação, que foi aprovada pela Câmara Municipal.
A fé influenciou outra decisão de Marquinhos. Ele vetou a inclusão da Parada da Diversidade, a popular Parada Gay, no calendário de eventos de Campo Grande.
Aqui surge outra curiosidade sobre a proposta do vereador Eduardo Romero (Rede), que dividiu o legislativo municipal. A Câmara só aprovou a inclusão da Parada Gay no calendário de eventos do município graças ao voto do vereador Cazuza (PP),vice-presidente do legislativo e fiel da igreja Adventista do Sétimo Dia há mais de 10 anos. O voto do parlamentar, que se mostrou republicano, surpreendeu os colegas de agremiação religiosa.
O veto à parada e a retomada da área ainda serão votados pelos vereadores. Com parte do legislativo tomado por ideais da época da idade média, as duas medidas prometem causar muita polêmica.
O engraçado é que Marquinhos não cumpriu a decisão da Justiça para retomar a área onde foi construída a igreja de Olarte. O processo já transitou em julgado e só depende do município a retomada do imóvel.
Marquinhos também ameaça retomar a área de 2 mil metros quadrados doada ao Setlog (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul). A entidade planejava construir uma escola para motoristas no local.
Neste caso, a medida pode ser retaliação ao sindicato que promoveu a caravana para divulgar a Rota Bioceânica, um projeto adotado pelo Governo tucano e idealizado pelo ex-governador e deputado federal Zeca do PT. O petista passou oito anos de mandato defendendo a saída pelo porto de Antofagasta, no Chile.
Na famosa caravana, um trem da alegria para jornalistas, empresários e barnabés, estava o secretário municipal de Governo, Antônio Lacerda, que vem se aliando aos tucanos para ser o candidato a vice-governador na chapa de Reinaldo Azambuja (PSDB) e irritando parte da família Trad.
Contudo, Lacerda, que nega a tutela de “tucano infiltrado” na prefeitura, não foi o único representante do município na caravana: o secretário municipal de Desenvolvimento, Luiz Fernando Buaianin, também participou da festa.
As decisões de Marquinhos preocupam, porque sinalizam que vem procurando administrar para um grupo, enquanto impõe os rigores da lei para o restante do povo.
Em todos os eventos, o prefeito adora falar o nome de Deus. Agora, falta seguir o exemplo da Divindade, governando para todos e não para uns poucos.
Como disse o Papa Francisco, amar a todos sem distinção, sem julgar, porque o papel de julgar as pessoas só cabe a Deus.
7 Comentários
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Respeito sua opinião, mas discordo totalmemte, pois ela está muito equivocada, Estado Laico não significa ausência de Deus ou Religião, e muito menos oposição a elas. Também não significa ter o ateísmo como escolha do Estado, muito pelo contrário, o Estado laico deve ser neutro, não favorecendo religião A ou B, ou o ateísmo, ou seja, deve dar tratamento igualitário a todos, tomando ainda medidas necessárias para evitar essa divisão e preconceito entre elas. Tal doação não fere em nada o Estado Laico, mas agora se o Estado vive doando para entidades não religiosas ou apenas para algumas instituição religiosa – doação seletiva – isso sim fere o Estado Laico, já que está deixando sua neutralidade e tratando de maneira diferente os diversos tipos de crença ou não crença.
Matéria tendeciosa. Não corresponde com a verdade.
Um estado que não cuida de seus doentes, seus drogados, seus viciados, seus doentes da Alma que nos trazem o título de Capital do suicídio? Sabemos das boas ações de todas as igrejas que trazem os jovens e diminuem a carga do estado isto sem falar das curas. O certo é investir em desordem como já fazem?
Inútil. Não foi doação, foi feito uma permuta com áreas que a igreja já possuia na cidade, algumas até que a prefeitura já havia invadido como no seminário.
Concordo com o Celso Neves. Doação de terras para construção de igrejas não é de bom tom para um estado laico.
Se o estado é laico não há porque doar terras para igreja, seja ela católica ou não. Alem disso, as igrejas têm dinheiro para compra de terrenos e construção de templos. Essa é minha opinião.