Além de utilizar telefones contra interceptações telefônicas, o grupo investigado na Operação Antivírus temia ter as gravações grampeadas pela Justiça e utilizava cada apelido para dificultar o trabalho dos investigadores. Antes de realizar as buscas e apreensões, os promotores não conseguiram apontar quem seriam “Nho Nho”, “Barriga”, “Gordo”, “Queixo” e “Sem Cabelo”, entre outros nomes esquisitos usados ao telefone para designar os outros envolvidos no suposto esquema de corrupção.
A operação levou a prisão e queda da cúpula do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), que contratou a Pirâmide Central Informática por R$ 7,4 milhões sem licitação, apesar de não contratar com equipamentos nem funcionários na área de tecnologia da informação.
Em seguida, a empresa venceu o pregão do Tribunal de Contas do Estado por R$ 9,4 milhões. O grupo planejava usar o banco de dados da corte fiscal para ampliar os negócios com as prefeituras da Capital e do interior e o Governo estadual.
No entanto, com tanta operação da Polícia Federal e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), os investigados recorriam a uma série de cuidados.
O diretor de Administração Interna do TCE, Parajara Alves de Moraes Júnior, tinha três celulares de última geração contra grampos.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa, Ary Rigo (PSDB), foi flagrado usando o termo “saudade” sempre que precisava de dinheiro. Nas ligações feitas para o dono da Digix, Jonas Schimidt das Neves, e seu secretário, Claudinei Martins Rômulo, o ex-deputado sempre estava “louco” ou “morrendo” de saudades. Logo após a utilização do termo, segundo o Gaeco, eles providenciavam o repasse ou depósito de dinheiro ao tucano.
Em gravações feitas com autorização da Justiça, o ex-assessor da Secretaria Estadual de Governo, Luiz Alberto de Oliveira Azevedo, o Beto, e o suposto sócio da Pirâmide, Fernando Roger Daga, eles usavam apelidos, como “Gordinho”, “Gordo” e “Sem Cabelo”.
No entanto, foi numa conversa entre Edinei Gonçalves Lemes, diretor adjunto da Agetec (Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação), e o Fernando, que rolou uma penca de apelidos, que incluiu até os nomes mais famosos do programa Chaves, do SBT.
Eles conversam sobre o avanço do esquema, que era conquistar o contrato da prefeitura pela Pirâmide. Em determinado trecho, citam “Nho Nho” e “Barriga”, filho e pai na Vila do Chaves. Os outros apelidos exóticos são: Caramujo, Gordinho, Queixo, Sem Cabelo, Bicho de Goiaba, Traíra Gorda, BX, Caramujo, entre outros.
Edinei conta que Queixudo foi liberado para trabalhar de graça com eles. A seguir, narra a reunião dos chefes, que teria ocorrido com a presença de “Barriga” e “Traíra Gorda”. No entanto, o “Sem Cabelo” não foi convidado para o encontro, o que significa que fora do cenário.
“O Bicho de Goiaba vai ficar mais forte”, avalia Edinei, em determinado trecho. “Vai sair de onde tá e vai brotar direto no presidente, vai ficar maior que o Sem Cabelo”, conta. Esta versão teria sido contada por “Nho Nho” e “BX”.
“O Caramujo está apavorado porque vai envolver o Queixo”, explica Fernando. “O Gordo vai mandar”, alerta o diretor adjunto da Agetec.
Em outro diálogo, entre Fernando e Beto, eles usam outros apelidos, como “No Hair” e “P”. Eles ainda definem como acertar o vencedor do pregão, o “Game”.
O ex-presidente do Detran, Gerson Claro Dino, também foi gravado usado condinome. Em abril deste ano, um mês após o fim do contrato da Pirâmide, ele liga e cobra do “Paraguaio” o pagamento à empresa.
Na conversa, Claro pede para “Paraguaio” segurar o pagamento à Ice Cartões, PSG e Perkon para garantir a quitação da nota fiscal da Pirâmide, que estava na fila há 15 dias e não tinha sido paga.
Sobre a conversa, Edinei Lemes admitiu, por meio da assessoria de imprensa, que houve a conversa com apelidos, mas diz que tudo “não passou de brincadeira”.
Gerson Claro nega qualquer irregularidade e destaca que adotou medidas para reduzir os gastos do Detran.Ele vai tentar anular toda a operação, porque tinha salário de secretário especial, apesar de ser chefe de autarquia. Ou seja, vai apelar à Justiça para que também ganhe o foro privilegiado.
Os demais envolvidos também negam qualquer irregularidade.
Rigo destacou, por meio do advogado Carlos Marques, que só mantinha negócios de venda de gado com Jonas, o que explica os repasses financeiros contínuos.
Os 12 presos na operação foram soltos por determinação do desembargador João Maria Lós, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. A operação deverá resultar em vários inquéritos por supostos indícios de corrupção.
Presidente do TCE determinou parceria com a prefeitura, diz diretor
O diretor adjunto da Agetec, Edinei Gonçalves Lemes, nega que tenha cometido qualquer irregularidade. Ele explicou, por meio de nota envida pela assessoria de imprensa, que só atendeu a determinação do conselheiro Waldir Neves, presidente do Tribunal de Contas do Estado.
Como é o órgão fiscalizador dos municípios, o TCE determinou a utilização do sistema para facilitar a prestação de contas por parte da prefeitura. A Pirâmide é a empresa responsável por gerir o banco de dados, após vencer o pregão e levar o contrato de R$ 9,4 milhões.
Confira a nota na íntegra:
“O Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul – TCE-MS, por força de lei, tem direito a acessar diretamente o banco de dados dos seus jurisdicionados, de forma a obter informações e melhor executar a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, seja quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação de subvenções e renúncia de receitas. A Prefeitura Municipal de Campo Grande é um jurisdicionado do TCE-MS.
Como a Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação – AGETEC é o órgão responsável pela gestão dos sistemas de informação da Prefeitura Municipal, o TCE-MS solicitou em 15/02/2017, através do ofício 030/2017/GAB-PRES, assinado pela presidência, encontro técnico entre os técnicos do TCE-MS e os técnicos da AGETEC, para dar continuidade às ações relacionadas ao controle externo no município de Campo Grande.
O TCE-MS embasou a solicitação no art. 22, caput, da Lei Completar Estadual Nº 160 de 2 de janeiro de 2012 e conforme a Resolução 43 de 29 de junho de 2016. A partir da solicitação inicial, aconteceram várias reuniões técnicas, sendo que todos os assuntos tratados desde então com o TCE-MS e os técnicos da empresa terceirizada responsável pela extração dessas informações diretamente do banco de dados foram referentes aos alinhamentos para melhor atender às exigências do órgão de controle externo.
Edinei Gonçalves Lemes
Diretor Adjunto – AGETEC”
1 comentário
Como diz um amigo: vou morrer e não vou ver tudo!!