Tímido e arredio aos holofotes, Manoel de Barros, o maior poeta de Mato Grosso do Sul, viu-se metido em uma polêmica daquelas ao completar 100 anos. Como parte das comemorações dos 40 anos de Mato Grosso do Sul, o Governo investiu R$ 232 mil na construção da estátua de 400 quilos, feita pelo cartunista Ique, mas surgiu um problema: onde colocá-la?
Na segunda-feira, o juiz da 2ª Vara de Direitos Difusos, Individuais Homogêneos e Coletivos, David de Oliveira Gomes Filho, recorreu a um poema para conceder liminar, a pedido do Ministério Público Estadual, e impedir que uma decisão ignorante destrua o patrimônio histórico de Campo Grande.
Governo pagou R$ 232 mil para cartunista fazer estátua
Governo e prefeitura pretendiam instalar a estátua de Manoel de Barros sentado em um sofá no canteiro da Avenida Afonso Pena, entre as ruas 13 de Maio e Rui Barbosa. No entanto, Marquinhos Trad (PSD) e Reinaldo Azambuja (PSDB) estavam ignorando dois fatores fundamentais, no melhor estilo “chavista”, como são denominadas as medidas autoritárias do momento pelos brasileiros.
A Avenida Afonso Pena é tombada como patrimônio histórico e cultural da cidade. Aqui surgiu o primeiro problema. Qualquer mudança no canteiro só pode ocorrer após manifestação do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, que foi contra a fixação da estátua nesta parte do canteiro.
O segundo motivo é que para colocar Manoel de Barros, a prefeitura e o Estado modificaram o “sítio histórico militar”, que engloba o Hotel de Trânsito dos Oficiais, plataforma para formação militar e homenagem aos heróis da Força Expedicionária Brasileira, que lutaram na 2ª Guerra Mundial.
No despacho, o juiz determina que o município reconstitua o sítio histórico militar, que foi adaptado para receber a estátua do nosso maior poeta.
A liminar prevê multa de R$ 100 mil em caso de desobediência e que a estátua seja colocada em outro lugar. Conforme o despacho de David Gomes Filho, poderá até ser em outro trecho da Avenida Afonso Pena, que tem sete quilômetros, mas com o aval do Instituto Histórico e Geográfico e da Secretaria Municipal de Cultura.
A intervenção da Justiça é salutar para a preservação da história e do patrimônio da cidade. O mais importante, pode evitar que um outro erro cause transtornos para Campo Grande.
Em 1991, o Governo estadual, sob o comando de Pedro Pedrossian, ignorou parecer de ambientalistas e recomendação do MPE para não construir a nova rodoviária de Campo Grande no Jardim Cabreúva, às margens da Avenida Ernesto Geisel.
Após uma longa batalha judicial, o Estado iniciou a obra, que recebeu vultosos investimentos na época, mas nunca foi concluída.
Atualmente, o “elefante branco” só serve para abrigo de marginais e como foco de doenças.
Não é destruindo a história que vamos construir uma cidade melhor e fazer a felicidade de Manoel de Barros.
Campo Grande tem muitos lugares lindos para receber a justa homenagem, como o Parque das Nações Indígenas, os altos da Avenida Afonso Pena, o coreto na “cabeça de boi”, a Praça do Rádio, a Praça Ary Coelho, …