Três deputados federais podem mudar de partido e articulam, nos bastidores, para tomar o controle do PP das mãos do ex-prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal, reeleito no mês passado para comandar a legenda nos próximos dois anos. Sem mandato e ameaçado de perder a sigla, o progressista surpreendeu o mundo político ao engolir o orgulho e pedir socorro ao ex-governador André Puccinelli (PMDB), um dos seus principais algozes.
Desde que deixou a prefeitura da Capital, Bernal está sem mandato. Apesar do seu apoio ter sido decisivo para a vitória de Marquinhos Trad (PSD) no segundo turno do ano passado, ele não conseguiu nenhuma secretaria ou cargos na atual gestão. O prefeito até recorreu à Justiça para exonerar a advogada Ritva Vieira do comando da Agereg (Agência Municipal de Regulação de Serviços Públicos).
O PP tem o comando de dois ministérios estratégicos, de Saúde e Agricultura. No entanto, os cargos federais no Estado foram divididos entre os aliados do ex-governador, um dos principais aliados do presidente Michel Temer (PMDB). O ex-prefeito não conseguiu emplacar nenhum nome.
Apesar da votação expressiva obtida por Bernal na disputa para o Senado em 2014, com 204,2 mil votos, a legenda não fez nenhum de deputado estadual ou federal. No ano passado, ao disputar a reeleição, ele obteve 111,1 mil votos e, por menos de 2 mil votos, não foi ao segundo turno.
Mesmo sem contar com parlamentar, a sigla tem aproximadamente 50 mil filiados nEstado e recebeu R$ 240 mil da direção nacional no ano passado. Só de Fundo Partidário, com base no último repasse em 2014, foram R$ 190 mil.
De olho nesta máquina, que ainda inclui o tempo de televisão na campanha eleitoral, deputados federais procuraram a direção nacional do PP se oferecendo para filiar. Bernal não faz mistério dos nomes que articulam sua queda: Vander Loubet (PT), Elizeu Dionizio (PSDB) e Tereza Cristina Corrêa da Costa (PSB).
O petista, enrolado nas denúncias da Lava Jato, busca um partido para comandar no Estado. Como o tio, o deputado federal Zeca do PT preside o diretório regional petista, a “família” teria duas máquinas partidárias para negociar acordos e garantir a disputa da reeleição em condições mais vantajosas.
Por meio da assessoria, Loubet nega, de forma incisiva, que esteja planejando sair do PT, com a imagem abalada pelos escândalos de corrupção na Petrobras. Na quinta-feira, ele acompanhou o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em pré-campanha à presidência da República, e anunciou que o PT terá candidato próprio ao Governo e ao Senado em 2018.
Dionizio deve perder a vaga de deputado federal com o retorno de Márcio Monteiro (PSDB), que deve deixar a Secretaria de Fazenda, para disputar a reeleição. Com o apoio de igrejas evangélicas, ele busca um partido onde teria mais espaço e a disputa mais tranquila para a Câmara dos Deputados.
O PSDB já tem muitos favoritos no quadro: Monteiro, o deputado federal Geraldo Resende e a vice-governadora Rose Modesto. Sem considerar o sonho de outros, como o secretário estadual de Administração, Carlos Alberto Assis. Como dificilmente, um partido emplaca metade da bancada, alguém será excluído.
Integrante da bancada ruralista, Tereza Cristina não concorda com a linha do PSB, que é contra a corrupção e as reformas de Temer. Destituída do comando da sigla, ela aguarda a indicação de seu padrinho político, Puccinelli, para decidir o futuro político.
Além do PP, que poderia assumir e garantir a reprodução da aliança nacional com o PMDB em MS, Tereza pode se juntar ao DEM,que cogita lançar o atual deputado federal Luiz Henrique Mandetta para o Governo com o apoio dos primos, o prefeito da Capital, o ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB) e o ex-deputado federal Fábio Trad.
Ciente do risco de perder espaço na política, Bernal engoliu o orgulho e procurou um dos seus maiores desafetos e inimigos políticos, o ex-governador André Puccinelli. Eles já trocaram “farpas pesadas” em público e progressista processou o peemedebista por tê-lo chamado de ladrão.
André também é acusado, junto com outros 23 empresários e políticos, de tramar o golpe para cassar o mandato de Bernal em março de 2014, conforme apurou a Operação Coffee Break.
Os aliados e seguidores do ex-prefeito chegaram a festejar como final de Copa do Mundo a colocação de tornozeleira eletrônica no ex-governador na Operação Máquinas de Lama, a quarta fase da Lama Asfáltica, conduzida pela Polícia Federal.
No entanto, ciente de que o diálogo é fundamental na política, Bernal se encontrou com Puccinelli na segunda-feira (28), no escritório político do segundo. Eles conversaram sobre o caos administrativo de Mato Grosso do Sul.
O ex-governador admitiu que aliados o pressionam para ser candidato a governador em 2018, mas que ainda não se decidiu sobre o assunto. Nos bastidores, ele tem dito que toma a decisão até dezembro, dois meses após substituir o presidente da Assembleia, Junior Mochi, no comando do diretório regional do PMDB.
A conversa improvável foi tranquila. Os dois políticos teriam trocado impressões sobre o quadro eleitoral e até trocaram elogios. O peemedebista teria dito que o ex-prefeito é importante porque “teve muitos votos”.Bernal reconheceu a importância política do ex-governador, como aliado da cúpula do Palácio do Planalto, em ajudar Mato Grosso do Sul a sair da crise.
Bernal se explicou sobre o encontro. Ele disse que falará com todos os partidos, como Podemos, PDT, PT e PMN.
O ex-prefeito, que terminou o mandato com o apoio de apenas dois vereadores na Câmara Municipal, mostra que estar mais aberto às negociações e não repetir os erros de centralizar a gestão e não abrir espaços aos aliados.
Contudo, confiar de mais pode ser um problema. A direção do PP lhe garantiu que não intervirá para afastá-lo do comando da sigla no Estado.
É a mesma direção que prometeu fidelidade à Dilma Rousseff (PT) em troca de cargos, mas votou em peso no seu afastamento.
Sobre a reviravolta nas relações entre Bernal e Puccinelli são coisas da política, mas que não deixam de causar estragos.