Além da Digix, que repassou R$ 2 milhões para ajudar na capitalização, a Pirâmide Central Informática teria um sócio oculto, Luiz Alberto de Oliveira Azevedo, 45 anos, técnico da Secretaria Estadual de Fazenda e ex-assessor da Segov (Secretaria Estadual de Governo). Após ser contratada pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) por R$ 7,4 milhões, a empresa investiu R$ 100 mil na compra de equipamentos de informática e R$ 15 mil na contratação de 10 técnicos com o salário de R$ 1,5 mil.
O advogado Gerson Claro Dino, que pediu demissão do cargo de diretor presidente do órgão após ser preso e indiciado na Operação Antivírus, dispensou licitação para contratar uma “especializada” que não tinha nem os equipamentos de informática para prestar o serviço.
Para se ter ideia do absurdo feito a custas do dinheiro do contribuinte, a Pirâmide irá receber R$ 7,4 milhões para conferir os contratos de financiamentos de veículos de outubro de 2016 a março deste ano. O Governo já pagou R$ 5,756 milhões, apesar da dificuldade financeira para garantir os repasses para a saúde pública.
No entanto, após a empresa deixar de prestar o serviço, acredite, de março até o mês passado, apenas uma mulher fazia o serviço. Somente uma funcionária fazia o serviço que o ex-presidente do Detran desejava torrar R$ 17 milhões por ano.
Em depoimento ao Gaeco, o técnico em informática do Detran, Robson Danilo Antunes, acha que o ideal seria de cinco a 10 funcionários no setor. Ele estima que o investimento necessário seria de R$ 80 mil.
Para ganhar os contratos, a Pirâmide, que teve capital social de R$ 5 mil desde a fundação, em 2008 até agosto do ano passado, recebeu R$ 2 milhões da Digix, nome comercial da DigithoBrasil.
Após o repasse, o capital social teve aumento de 9.900%, de R$ 5 mil para R$ 500 mil. No mês seguinte, ganhou status de “especialista” em informática e foi contratada sem licitação pela diretoria do Detran.
Contudo, a companhia não tinha um técnico de informática nos seus quadros, que foi providenciado pelo servidor público estadual Luiz Azevedo, que pediu demissão do cargo comissionado na Segov (onde tinha salário de R$ 22,1 mil, conforme dados de julho). Ele é efetivo da Sefaz, que lhe garantiu remuneração de R$ 4,9 mil no mesmo mês.
Em gravações telefônicas, Luiz combina o salário e o plano de saúde do técnico de informática Fernando Roger Daga, que passou a ser sócio formal da Pirâmide após o contrato emergencial com o Detran.
Antes dele, a empresa só tinha dois contadores como sócio, José do Patrocínio Filho e Anderson da Silva Campos.
Para o Gaeco, o contrato foi “negócio da China”.Devido aos ganhos obtidos após os investimentos de R$ 115 mil, pode-se afirmar que os sócios da Pirâmide ganharam na loteria.
“Enfim, evidente que a duplicidade dos trabalhos somente tinha por finalidade o desvio de verba pública pelos integrantes do esquema criminoso”, concluem os promotores no pedido que embasou a decretação da prisão preventiva e temporária de 12 pessoas.
Todos foram soltos pelo desembargador João Maria Lós, do Tribunal de Justiça.
Após a Operação Antivírus, Luiz Alberto prestou depoimento ontem à tarde ao Gaeco e não falou com a imprensa ao deixar o local.
A suspeita de que ele seja o sócio oculto da Pirâmide está em gravações telefônicas interceptadas com autorização da Justiça.
Depois de ganhar o contrato do Detran, Pirâmide venceu o pregão e firmou contrato de R$ 9,4 milhões com o Tribunal de Contas do Estado.
O Gaeco investiga o grupo por organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, peculato e corrupção passiva e ativa.
Cúpula se demite do Detran e Claro pede pressão na investigação para não ficar “sangrando”
Após ser presa na Operação Antivírus, toda a cúpula pediu exoneração do Detran. O ex-presidente do órgão, Gerson Claro Dino, negou, de forma veemente, que tenha cometido qualquer irregularidade e defendeu agilidade nas investigações para não ficar “sangrando”.
Em entrevista à FM 91,5, da UCDB, Claro afirmou que não teve nada de errado na sua gestão. Apesar de ter contratado sem licitação uma empresa sem funcionários e equipamentos de informática, ele defendeu a contratação da Pirâmide porque garantiu a economia de R$ 1 milhão por ano.
Apesar de respeitar os promotores, o ex-dirigente criticou a atuação do Gaeco, que teria misturado as investigações e o incluído nos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Assim como a TV Morena, ele acredita piamente que os responsáveis pela suposta corrupção no Detran são da administração anterior, chefiada por André Puccinelli (PMDB). Ele destaca que rompeu o contrato de R$ 73 milhões firmados pelo antecessor no Detran.
Gerson Claro diz que não vai aceitar ser condenado antes de qualquer processo ou denúncia apresentada pelo MPE. Ele pediu que os promotores e o juiz sejam céleres para não deixaram “sangrando”.
No entanto, o ex-presidente do Detran acredita que existem bandidos na política, que usam o cargo em benefício próprio. Só não seria integrante do grupo criminoso.
Sobre o trabalho ser realizado apenas por uma funcionária, após o rompimento com a Pirâmide, ele se justificou, dizendo que pagou R$ 7,4 milhões pelo sistema de informática.
O novo presidente do Detran é o ex-prefeito de Nova Andradina, Roberto Hashioka (PSDB), que disputou a reeleição, mas perdeu para o ex-aliado, Gilberto Nascimento (PMDB).
Também foram exonerados os diretores Donizete Aparecido da Silva (adjunto), Celso Braz de Oliveira Santos (administração e finanças), Gerson Tomi (tecnologia) e Érico Mendonça (chefe de orçamento e finanças).