Investigado pelo suposto recebimento de R$ 38,4 milhões em propinas, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) repassou R$ 700 mil para o Grupo Onça Pintada, ligado ao deputado estadual Paulo Corrêa (PR), presidente da CPI da JBS. É a primeira vez que a organização não governamental, existente há 16 anos, recebe dinheiro da Secretaria Estadual de Saúde.
O repasse consta do convênio firmado entre o secretário estadual de Saúde, Nelson Tavares, e o presidente da entidade, Rodrigo Otávio Costa Machado. Aliás, ele é assessor parlamentar na Assembleia Legislativa e chefe de gabinete de Paulo Corrêa.
O afago coincide com os trabalhos da CPI da JBS, criada pelos deputados estaduais para apurar a denúncia feita pelos executivos da JBS, de que houve pagamento de R$ 150 milhões de propinas em troca de incentivos fiscais ao ex-governador André Puccinelli (PMDB), que teria ficado com R$ 112 milhões, e Azambuja, R$ 38,4 milhões.
Zeca do PT, ex-governador e atual deputado federal, é citado como pioneiro no suposto esquema de corrupção, mantido pelos sucessores, mas a JBS não teria prova contra o petista.
A CPI foi criada após a Assembleia avaliar que a Comissão Processante, criada para avaliar cinco pedidos de impeachment do governador tucano, não teria poder de polícia.
Apesar da ligação com o governador, com quem viaja no mesmo avião e visita municípios do interior, Paulo Corrêa prometeu isenção na investigação. Contudo, ele vem focando o trabalho da CPI em encontrar indícios contra a JBS.
O presidente da CPI já teria confirmado que os acordos firmados com o Governo em troca de incentivos não foram cumpridos. Os prejuízos aos cofres públicos já supera R$ 250 milhões.
A linha é reforçar a defesa do governador, que acusa os empresários Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, de serem líderes de uma organização criminosa. Reinaldo já perdeu no Supremo Tribunal Federal ao pedir a anulação da delação premiada.
O afago ao deputado Paulo Corrêa começou logo após a explosão da denúncia, em maio deste ano.
Em 7 de junho, conforme o site de notícias do Governo estadual, Reinaldo deu um micro-ônibus avaliado em R$ 300 mil para o Grupo Onça Pintada, fundado há 16 anos pelo deputado. Corrêa conta que o criou após a mãe morrer de câncer.
Na ocasião, Machado informou que a ONG atendeu 54 mil mulheres. O micro-ônibus ampliará o atendimento do grupo.
Agora, conforme o contrato publicado nesta sexta-feira, a ONG receberá R$ 700 mil para oferecer o programa preventivo do câncer da mama. O Governo já empenhou R$ 489 mil no dia 18 deste mês.
O Grupo Onça Pintada não é cadastrado no Portal da Transparência do Governo Estadual, o que indica não ter recebido nenhum repasse anterior do poder público estadual.
Na apresentação do grupo, que funciona na chácara do deputado no Jardim Bonança, em Campo Grande, ele aparece como fundador e parceiro. No entanto, a ONG é uma das principais bases políticas de Corrêa.
Esta não é a primeira denuncia envolvendo o deputado e o seu trabalho como presidente de CPI. Quando comandou a investigação da Enersul, em 2007, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Energia, feita em 2015, na época, a empresa deu um micro-ônibus para o Grupo Onça Pintada realizar o trabalho preventivo de combate ao câncer da mama.
Agora, o deputado preside a CPI da JBS, que apura um dos maiores escândalos da política estadual, porque investiga, pela primeira vez, um governador no exercício do mandato.
Além do repasse de quase R$ 1 milhão ao presidente da CPI, o governador ainda tem o compromisso de indicar o relator, Flávio Kayatt (PSDB), para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Sem falar que dos cinco integrantes, quatro fazem parte da base de apoio no legislativo.
Não é a toa que a população joga todas as suas esperanças no Superior Tribunal de Justiça, que, apesar da demora, pode demonstrar mais isenção na apuração do escândalo da propina milionária em Mato Grosso do Sul.