Campo Grande passará a receber o lixo produzido em mais um município, apesar do tempo de vida útil do aterro Dom Antônio Barbosa II estar no limite. Ao ampliar o raio de coleta, a CG Solurb Soluções Ambientais também vai lucrar mais, já que cobrará mais caro pelo serviço das cidades vizinhas.
O prefeito Marquinhos Trad (PSD) autorizou, conforme o extrato do contrato publicado no Diário Oficial de Campo Grande desta quinta-feira (24), a concessionária a coletar os resíduos e o lodo produzido em Rochedo e despejá-los no aterro da Capital.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos informou, por meio da assessoria, que serão coletados “0,7 tonelada” de lixo por mês de Rochedo, que fica a 79 quilômetros da Capital.
Campo Grande está se transformando em lixão dos municípios vizinhos. A primeira cidade a ter a coleta feita pela Solurb e que envia todos os resíduos para o aterro sanitário campo-grandense é Terenos, a 30 quilômetros de distância.
Enquanto a Capital arca com as consequências ambientais, a Solurb amplia os ganhos. Conforme o contrato, a empresa vai cobrar R$ 157,70 por tonelada recolhida, ou seja, vai receber 26% a mais do que os R$ 127,19 pagos pelo município de Campo Grande.
Outro problema é o tempo de vida útil do aterro sanitário Dom Antônio Barbosa II, ativado em 21 de novembro de 2012. Inicialmente, o local só teria cinco anos de vida útil, ou seja, duraria até novembro deste ano.
Em 2013, o MPE (Ministério Público Estadual) ingressou com ação para suspender a atividade do aterro porque a não ativação da usina de reciclagem poderia comprometer reduzir o tempo de vida útil, já que 10% do lixo, que poderia ser reciclado, estava sendo depositado diretamente no aterro.
Sem falar que a coleta seletiva continua muito restrita em Campo Grande.
O aterro pode repetir a saga do lixão, que foi ativado em 1990 para ser temporário e quase virou eterno – só foi desativado 22 anos depois.
A má destinação do lixo é um problema sério no Brasil, país subdesenvolvido e marcado pela inoperância do poderes constituídos, do Executivo e do Judiciário. O MPE não pode ser responsabilizado nesta questão, porque tem se esforçado em cobrar ações ambientalmente corretas.
Aliás, a Solurb é o maior exemplo de como as coisas funcionam mal no Brasil. A empresa venceu contrato bilionário, feito no último ano de gestão de Nelsinho Trad (PTB).
Conforme a Polícia Federal, a LD Construções, de Luciano Dolzan, genro do empreiteiro João Amorim, não tinha capital social para ficar com 50% da concessionária do lixo.
O dono da outra metade, Antônio Fernando de Araújo Garcia, é dono da Financial, a empresa que ganhou a área do Papa, em uma polêmica transação realizada na gestão de André Puccinelli (PMDB).
Mas quem estava preocupado com o atraso no pagamento da Solurb sempre foi João Amorim, conforme gravações telefônicas interceptadas na Operação Coffee Break, que completa dois anos nesta sexta-feira, sem que nenhum juiz diga que aceita ou não a denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
E assim a qualidade de vida de Campo Grande pode ficar mais comprometida ao transformarem a nossa querida Capital, que completa 118 anos amanhã.
No entanto, tudo está legal, segundo a prefeitura. “Por fim, cumpre informar que o Ministério Público do Estado do Mato Grosso do Sul está ciente e de acordo com o recebimento dos resíduos em Campo Grande dos demais Municípios próximos, pois está alinhado com o seu “Programa Resíduos Sólidos-Disposição Legal”, bem como é a solução apontada por estudo do Tribunal de Contas e também do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, elaborado pelo Estado / IMASUL”, informou, em nota encaminhada para O Jacaré.