Filho de armênios, nascido em Miranda e governador por três vezes, o engenheiro civil Pedro Pedrossian deixa o legado de obras emblemáticas. Em 40 anos de história, Mato Grosso do Sul não teve, ainda, um político com o mesmo espírito empreendedor e de superação.
O ex-governador, que morreu aos 89 anos na madrugada desta terça-feira (22), realizou obras quase faraônicas – pela dimensão e repercussão social e histórica – em três ou quatro anos. Nunca teve a oportunidade de exercer um governo por dois mandatos consecutivos. Mesmo assim, ele conseguiu construir grandes obras em meio a graves crises políticas – superou pedido de impeachment e foi chamado de louco pelos adversários.
Pedrossian nasceu em Miranda no dia 13 de agosto de 1928 e formou-se em engenharia civil no Mackenzie, em São Paulo (SP). Ele foi assessor do presidente da Rede Ferroviária Federal, no Rio de Janeiro e superintendente da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Bauru (SP) DE 1961 a 1964, o que lhe levou à vida política.
Em outubro de 1965 fez história ao ser o governador mais votado pelo Mato Grosso, com 109.905 votos. No entanto, apesar de ser da Arena, o partido que dava sustentação à ditadura militar, Pedrossian quase foi cassado pelos deputados estaduais. O aliado, Júlio Castro Pinto pediu o seu impeachment em agosto de 1967 porque ele contava com o apoio da oposição.
No meio desta crise política, Pedrossian criou duas universidades públicas: a Federal do Mato Grosso, em Cuiabá, e a Estadual de Mato Grosso (atual UFMS), em Campo Grande. No estado vizinho, construiu a ponte Júlio Müller, sobre o Rio Cuiabá, a usina hidrelétrica número 3 no Rio Casca e a maternidade do Hospital Geral de Cuiabá.
Com a criação do novo estado, em outubro de 1977, os adversários, liderados pelo então senador Mendes Canale e ex-governador José Fragelli, acusaram-no de apropriação de terras públicas e importação de materiais que não eram utilizados. A estratégia era evitar a indicação de Pedrossian para assumir o governo de Mato Grosso do Sul.
O ex-governador negou as acusações e acabou eleito senador, com 107.519 votos, em 15 de novembro de 1978.
Político hábil, ele conseguiu articular a queda de Harry Amorim, o primeiro governador de Mato Grosso do Su, o qual foi acusado de importar tecnocratas de outros estados com pagamento de salários “principescos” e mordomias. Emplacou a nomeação do prefeito da Capital na época, Marcelo Miranda, que permaneceu apenas um ano.
Em outubro de 1980, Pedrossian foi nomeado para ser o governador de Mato Grosso do Sul pela primeira vez, com a aprovação do Senado – 33 votos a favor, 24 contra e duas abstenções.
Era o prenúncio das dificuldades políticas. Onze dias após assumir o Governo, ele perdeu a maioria na Assembleia, com a saída da base de apoio do presidente do legislativo, Londres Machado, e dos deputados Ary Rigo e Getúlio Gideão, que abandonaram o PDS.
Em agosto de 1981, ele foi internado para tratamento da coluna, mas os seus opositores o acusaram de insanidade mental. Em abril de 1982, nova crise política com a demissão de Levi Dias do cargo de prefeito de Campo Grande.
Apesar de ter enfrentado duas crises políticas e de só ter governador por três anos, Pedrossian construiu o Parque dos Poderes, obra que conciliou o centro administrativo com a preservação do Parque Ecológico do Prosa.
Em 15 de março de 1991, ele assumiu o terceiro mandato de governador. Marcelo Miranda deixou a “herança maldita”: servidores públicos em greve e com quatro meses de salários atrasados, dívida de US$ 1 bilhão (R$ 3,3 bilhões).
Em quatro anos, com a crise agravada pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, Pedrossian conseguiu realizar ou iniciar grandes obras, como os três parques de Campo Grande (Ayrton Sena, Jacques da Luz e das Nações Indígenas), o Hospital Rosa Pedrossian (homenagem a mãe), o Palácio Popular da Cultura , o Palácio das Comunicações com a torre de alvenaria e a criação da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).
O “homem de Miranda” teve espírito empreendedor e a ousadia que faltou aos sucessores. Um exemplo é a obra inacabada da estação rodoviária no Jardim Cabreúva, que estava praticamente pronta em 1994, mas até hoje, 23 anos depois, ainda não foi concluída e segue “elefante branco”, abrigo de marginais e focos de doenças.
Em meio a crises, ele construiu o Morenão, maior estádio universitário do País que leva seu nome, o Hospital Universitário (que leva o nome da sua esposa) e pavimentou rodovias.
Pedrossian saiu da política após duas derrotas. Em 1998, ele tentou retornar ao cargo de governador, mas ficou fora do segundo turno, apesar da largada como franco favorito. Zeca do PT venceu Ricardo Bacha.
Em 2002, disputou o cargo de senador, mas perdeu para o estreante Delcídio do Amaral, que teve o apoio fundamental do jornal Correio do Estado, e para o veterano Ramez Tebet (PMDB).
Casado por seis décadas com Maria Aparecida Pedrossian, ele teve cinco filhos.
Como herdeiros políticos deixa o filho, ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho, o Pepê, que foi derrotado na disputa da prefeitura da Capital no ano passado, e o economista Pedro Pedrossian Neto, atual secretário municipal de Finanças e Planejamento da gestão de Marquinhos Trad (PSD).
O velório de Pedrossian será no Palácio Popular da Cultura e o sepultamente acontece às 16h30 no Parque das Primaveras.
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