A corrupção é a principal causa da redução nos investimentos em saúde, setor mais vulnerável, onde as pessoas mais sofrem e que enfrenta uma “crise eterna”, que fica pior a cada ano. Como todo no Brasil, que tem o “malandro” Macunaíma, personagem do romance de Mário de Andrade de 1928, a Santa Casa de Campo Grande fez jus a nossa cultura.
Na festa de 100 anos, o hospital, que está com o atendimento restrito no pronto socorro por causa da crise, fez homenagem a personagens envolvidos em escândalos de corrupção.
Criada em 1917, quando não existia atendimento público para socorrer os pobres e miseráveis, a instituição foi construída pela bondade de personalidades como Camilo Boni e Bernardo Franco Baís.
No entanto, a instituição, a 3ª maior do País e referência no atendimento de média e alta complexidade no Centro-Oeste, está além das boas intenções de gente como o José Mustafá, o Zé Bonito, que usou a carroça e dois parelhas de burros para levar areia, tijolo e ferro para construir a Santa Casa.
Um século depois, a instituição movimenta R$ 240 milhões por ano só do SUS (Sistema Único de Saúde) e vive no centro da disputa de interesses políticos, de quem pretende usar a sua estrutura para construir a carreira política, e por contratos milionários. É uma máquina, que no meio da guerra e dos interesses, salva muitas vidas.
Ex-presidente regional do PMDB, o atual presidente, Esacheu Nascimento, aproveitou a solenidade para fazer homenagens. Citado em escândalos desde a época de Fernando Henrique Cardoso, o ministro Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil da Presidência da República, recebeu a honraria.
Padilha é acusado de grilar terras no Mato Grosso, de tentar obstruir a Operação Lava Jato, a maior ação de combate à corrupção da história da República, e é citado 45 vezes em delações da Odebrecht.
Outro citado no escândalo, o ministro Moreira Franco, que ganhou o estatus de ministro para não ser preso pelo juiz federal Sérgio Moro, é outro enrolado em escândalos lembrado pelos 100 anos da Santa Casa.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, que também enfrenta denúncias, e se envolveu em inúmeras polêmicas é outro homenageado. Ele ficou famoso ao dizer que os pacientes do SUS fingem estar doentes e os médicos não trabalham.
O deputado federal Luiz Henrique Mandetta, réu no Supremo Tribunal Federal e alvos de ações de improbidade por causa do desvio de recursos no famoso escândalo do Gisa, foi outro homenageado pelo hospital.
As homenagens não foram reconhecimento, mas feitas de olho no cofre federal. Esacheu espera obter financiamento de R$ 200 milhões para quitar as dívidas do hospital. O empréstimo será possível com a aprovação pelo Congresso da proposta para financiar as entidades filantrópicas.
Apesar do déficit milionário e das polêmicas, como o recente embate envolvendo o prefeito e o presidente da Santa Casa, ninguém abre mão de estar no comando da instituição.
A crise só prejudica os doentes, os pobres, os miseráveis, que sofrem com a falta de material, de médicos e com a suspensão de cirurgias eletivas.
Mesmo sem salário, os atuais dirigentes sabem do potencial do hospital, tanto política quanto financeiramente.
Com certeza a nossa saúde estaria melhor, se gente como Zé Bonito estivesse ajudando na administração da Santa Casa.