Principal liderança sul-mato-grossense no cenário nacional desde a morte do senador Ramez Tebet (PMDB), Delcídio do Amaral corre o risco de ter a delação premiada anulada pelo Ministério Público Federal. A medida poderá ter dois efeitos imediatos: o ex-senador pode ser preso novamente e obrigado a adiar o sonho de retorno à vida política
Apesar de ter caído em desgraça ao ser preso em novembro de 2015, no exercício do mandato de senador e líder do Governo no Senado, o ex-petista acompanha de perto os desdobramentos da Operação Lava Jato para tentar retornar à política.
O caso mais emblemático é o do senador Aécio Neves (PSDB), com uma dúzia de processos por corrupção e outros crimes, continua no cargo com aval do Supremo Tribunal Federal, apesar de dois pedidos de prisão.
No entanto, o ex-senador sul-mato-grossense não está conseguindo ter a mesma sorte do tucano, de se safar das acusações e continuar poderoso em Brasília.
Delcídio corre risco de ver a acordo com o MPF anulado porque não conseguiu apresentar provas das acusações. Ele acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de tentar obstruir a Lava Jato, mas o caso foi arquivado por falta de provas.
O próximo inquérito a ser arquivado pode ser o que Delcídio acusa a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de indicar Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça com a missão de libertar Marcelo Odebrecht e estancar a Lava Jato. O bilionário continua preso e a operação seguiu a pleno vapor.
Nem a acusação de que o presidente Michel Temer (PMDB) indicou João Augusto Henriques Rezende para a diretoria Internacional da Petrobras conseguiu provar. O ex-diretor foi preso, mas não endossou as acusações do ex-petista.
Delcídio ficou preso por vários meses e só conseguiu ser liberado após assinar a delação bombástica envolvendo os principais líderes do PT, PMDB e PSDB. Se o acordo foi anulado, ele perde os direitos obtidos, como o andar livremente pelo país e até apoiando candidatos, como fez nas eleições do ano passado. Na surdina, sem gravar ou aparecer no horário eleitoral, é claro.
Além da matéria do jornal O Globo, apontando a possibilidade de rever o acordo com o ex-senador, outra entrevista desta segunda-feira revela que o caso poderá ter reviravolta.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, adiantou que uma delação premiada será anulada antes dele deixar o cargo em 17 de setembro.
Ele defendeu a delação do ex-senador Sérgio Machado, que curte vida nababesca em Fortaleza, com cinco empregados e um séquito de seguranças. Como exemplo citou a mobilização dos atual presidente e seus aliados para evitar o avanço da Operação Lava Jato. Machado ficou famoso ao divulgar o áudio do senador Romero Jucá, líder de Temer no Congresso, em que defende “ações para estancar a sangria da Lava Jato”.
O procurador passou toda a entrevista defendendo a delação premiada da JBS, que citou 1.829 políticos, inclusive o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), acusado de receber R$ 38,4 milhões em propinas.
Janot não foi enfático na defesa da delação de Delcídio e apontou problemas em comprovar as denúncias feitas pelo ex-senador.
Será uma pena, porque Delcídio do Amaral foi o único político do Estado ganhar expressão nacional depois de Ramez.
Mato Grosso do Sul já teve presidente da República, como foi o caso de Jânio Quadros, que ficou famoso pela renúncia em 1961.
Depois foi a vez de José Fragelli, que presidiu o Senado entre 1985-1987, quando era senador por Mato Grosso do Sul. Foram políticos que deram orgulho ao Estado.
Atualmente, só passamos vergonha com nossos representantes, como é o caso do deputado federal Carlos Marun (PMDB), que defendeu e acredita fielmente na inocência do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do presidente Michel Temer, acusado por corrupção e investigado por obstrução da Justiça e organização criminosa.