Há três anos, durante a campanha eleitoral em 2014, o candidato a governador apontava a saúde como o maior problema do Estado, sem situação caótica e sem o investimento constitucional de 12%. No Governo, Reinaldo Azambuja (PSDB) conseguiu a proeza de fazer o impossível: piorar um quadro que já se considerava caótico e a beira do colapso. O Conselho Estadual de Saúde suspendeu as atividades e os municípios apontam calote de R$ 40 milhões no repasse.
Até a Caravana da Saúde, vitrine da gestão tucana, apresenta falhas. Pessoas atendidas no ano passado ficaram sem o retorno no médico. A nova edição, prevista para abril deste ano, sofre atrasos sucessivos e, agora, a previsão é que comece na segunda quinzena deste mês.
A situação da saúde pública já era ruim em 2014. Na época, como candidato, o tucano a apontou como o principal problema do Estado. Ele até citou o subfinanciamento, que era o não investimento de 12%, como uma das causas.
No comando do Governo há dois anos e meio, Reinaldo não consegue nem cumprir os acordos firmados com os municípios. O Conselho Estadual de Saúde estima que o calote é de aproximadamente R$ 40 milhões, sendo R$ 20 milhões só para a Capital e R$ 10 milhões, Dourados.
O reflexo do atraso já começa a impactar no atendimento à população. Sem receber R$ 2,5 milhões, a Santa Casa suspendeu as cir
urgias eletivas e não vem realizando consultas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O atraso no repasse à Capital levou o Conselho Municipal de Saúde a publicar moção de repúdio contra o secretário estadual de Saúde, Nelson Tavares.
Aliás, ele causou alvoroço nas redes sociais e aplicativos de telefone no mês passado ao inviabilizar o funcionamento do Conselho Estadual de Saúde, já sob intervenção da Justiça para garantir a nomeação do presidente indicado pelo Governo Estadual desde agosto do ano passado.
Mesmo com o comando do conselho, a administração estadual ignorou todas as decisões e recomendações do órgão, segundo o presidente afastado, Florêncio Garcia Escobar, de Aquidauana. Ele lamenta que nunca viu a situação da saúde pública tão caótica.
As coisas pioraram nas mãos do homem que prometeu, logo após ser consagrado nas urnas, tornar a saúde prioridade número um.
Nem a Caravana da Saúde escapou da “nova política”. Os pacientes atendidos durante os mutirões ficaram sem o retorno. Florêncio estima que só na Capital, 2 mil pacientes ficaram sem um local para receber a avaliação médica, por exemplo, do resultado da cirurgia de catarata.
Em Aquidauana, de 300 a 500 pacientes ficaram sem o segundo atendimento. O conselheiro conta que alguns pacientes foram obrigados a gastar com viagens e consultas particulares para concluir o tratamento iniciado no mutirão.
O governador tenta realizar nova edição da Caravana da Saúde desde o início do ano. No entanto, o programa esbarra na falta de recursos. Chegou a ser agendada para junho, mas foi adiada por causa das férias escolares. No entanto, os estudantes retornaram às aulas, mas nada do mutirão sair do papel pela segunda vez.
Para Escobar, a caravana é cara, não teve continuidade e suga os investimentos previstos para os hospitais públicos.
Além do calote, o governador não priorizou a regionalização da saúde. Ele suspendeu a construção dos hospitais lançados pelo antecessor, André Puccinelli (PMDB), em Dourados e Três Lagoas. Neste ano, quando poderia estar inaugurando as novas unidades, ele relançou o edital para construir os novos estabelecimentos de saúde.
Se a prioridade número teria este tratamento, imagine as demais…
Secretaria nega irregularidades e diz que busca repasse emergencial para sanar atraso
A Secretaria Estadual de Saúde negou irregularidades na Caravana da Saúde, mas confirmou o calote nos repasses às prefeituras. Nelson Tavares vem tentando regularizar os repasses em atraso “em alguns municípios de forma emergencial”.
Ele garantiu que não houve interrupção no atendimento à população, apesar da suspensão no atendimento desde o dia 1º pela Santa Casa de Campo Grande.
“Em Campo Grande, apesar do atraso de repasses, os recursos para os serviços estratégicos (hospitalares, alta complexidade, ass. Farmacêutica) de saúde estão sendo garantidos regularmente para que não haja impacto na oferta de serviços à população”, afirmou, em nota para rebater a moção de repúdio do Conselho Municipal de Saúde.
A expectativa é quitar os débitos em agosto.
Sobre a paralisação das atividades do Conselho Estadual de Saúde, o secretário diz que a decisão foi tomada por integrantes da mesa diretora. “A alegação de que não há homologação das decisões do conselho não procede, já que a SES possui representantes com participação nas decisões e segue o regimento do órgão”, afirmou.
A Secretaria de Saúde negou que não ocorreu o segundo atendimento de 2 mil pessoas em Campo Grande. Como a prefeitura, sob o comando de Alcides Bernal (PP), não aceitou firmar parceria, o Governo garantiu o atendimento por meio de convênios com hospitais particulares, como Pênfigo, São Julião e Santa Marina. “Isso não só para serviços oftalmológicos como também cirurgias de média complexidade”, destacou.
A segunda edição da Caravana da Saúde deste ano sofreu atrasos por causa de adequação dos editais e do cronograma. A outra causa é o calendário escolar. O mutirão, segundo a assessoria, deverá ocorrer entre o “final de agosto e a primeira quinzena de setembro”.