O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) seguiu a risca a trajetória de todos os políticos: um discurso na campanha, outro no poder. Antes de ser eleito, o tucano era radical e pedia a punição sumária de todos os suspeitos de corrupção, principalmente, dos nomes vinculados ao PT. No Governo, ele repete a exaustão o mantra petista, de que só condenem depois do julgamento, e ainda mantém suspeitos em cargos estratégicos. Até ampliou o repasse para empresas investigadas.
Considerado o segundo candidato entre todos os candidatos a governador em 2014, com patrimônio de R$ 38,5 milhões, Azambuja conquistou o eleitorado com discurso agressivo contra a corrupção. Chegou a qualificar o adversário, Delcídio do Amaral, como integrante de facção criminosa, por estar filiado ao PT.
Em setembro de 2014, durante campanha no Pantanal, o tucano enfatiza a importância de se adotar tolerância zero com a roubalheira instalada no País. “Devemos ser intransigente com a corrupção, é revoltante que um grupo roube a esperança do povo brasileiro”, enfatizou em um dos programas de rádio.
“É inaceitável ver o dinheiro do povo brasileiro ser roubado”, esbravejava, indignado, pedindo a condenação sumária de todos os acusados.
No entanto, pouco mais de dois anos no poder, o tucano mudou radicalmente a postura em relação à corrupção.
Acusado de cobrar propina de R$ 38,4 milhões em delação da JBS, mantendo a prática dos antecessores, o tucano reagiu com indignação contra os acusadores. Chorou em público e se movimentou para abafar o caso.
Durante a inauguração do Fort Atacadista, do Grupo Pereira, ele passou a defender os acusados de corrupção e, pasmem, criticou o povo por condenar antes de julgamento. Na sua avaliação, as pessoas estão cometendo injustiça ao se revoltar contra a roubalheira instalada no Estado.
Reinaldo repete os petistas ao ignorar o clamor das ruas por moralidade na administração pública. Ele demitiu o poderosíssimo Sérgio de Paula da Casa Civil após o surgimento de boatos de que vídeos mostravam a cobrança de propina em troca de incentivos. O ex-secretário continua poderoso, mas como coordenador político do PSDB, o partido do governador.
Aliás, não houve nenhum pedido de investigação do “amigo” de décadas. O vídeo veio a público no final de maio, quando o escândalo ganhou dimensão nacional ao ser divulgado no Fantástico, da TV Globo.
Mais dois integrantes da cúpula do Governo foram citados na suposta cobrança de propina. Nenhum foi demitido ou investigado.
Depois, nova bomba, o secretário estadual de Fazenda, Márcio Monteiro, concedeu incentivo ilegal para a Gama, uma empresa de Dourados. Ele a isentou do pagamento do Fundersul e abriu mão de 80% do ICMS. A Justiça aceitou a denúncia e quebrou o sigilo fiscal da cerealista.
O governador não demitiu o secretário. Limitou-se a dar férias de 30 dias, a estratégica operação para abaixar a poeira. Como punição, Márcio terá um merecido descanso para curtir a vida.
Empresas e funcionários investigados na Operação Lama Asfáltica continuam prestigiados no Governo. A H2L, de empresário Rodolfo Holsback, até ganhou outra licitação milionária neste mês.
Convocado para prestar depoimento na Operação Máquinas de Lama, o ex-secretário estadual de Fazenda e atual assessor especial do Governo, Jader Rieffe Julianelli Afonso. Nesta quinta-feira, ele foi nomeado para representar a administração tucana em discussão sobre a reforma tributária no Congresso Nacional.
Diante dos escândalos, o governador pede calma e compreensão. Ontem, ele recorreu a fábula da bíblia, em que Jesus pede para esperar a colheita para separar o joio do trigo.
Infelizmente, a corrupção tira o dinheiro da segurança, da saúde, da educação e dos investimentos em policiamento na fronteira. É a corrupção, por exemplo, que vai causar a limitação no atendimento da Santa Casa a partir do dia 1º, quando deixará de realizar cirurgias eletivas e consultas por causa da falta de dinheiro.
Como disse o candidato Reinaldo Azambuja, é um absurdo que deixem a corrupção roubar a esperança do povo brasileiro. Assim como o tucano cobrou há três anos, é preciso colocar os corruptos na cadeia.
Infelizmente, o governador pregou uma coisa e vem fazendo outra. Não é o seu papel por corrupto na cadeia, mas já faria bem se colocasse os suspeitos no olho da rua, pelo menos. O povo ficaria agradecido.