Auditoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não encontrou os “bois” e as “toneladas de carne” vendidas por políticos, produtores rurais e empresas a JBS e reforça a denúncia do pagamento de R$ 38,4 milhões em propinas ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Principal destaque de ontem do Jornal Nacional, da TV Globo, a reportagem reforça a delação premiada dos empresários Joesley e Wesley Batista.
Desde o início da denúncia, o Governo recorreu aos órgãos estaduais, como a Iagro e agências fazendárias, para rebater a denúncia de utilização de notas falsas para “esquentar” a propina. Só teve o azar ou a infelicidade que o órgão federal, que também controla o abate de gado, a Superintendência Regional de Agricultura, está sob o comando do PMDB, principal adversário de Azambuja.
Aí a situação saiu do controle do governador e aliados, que já podem estar sendo alvo de inquérito sigiloso pela Polícia Federal. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, determinou a abertura de inquérito em maio. Como geralmente, o inquérito policial tem 30 dias, o Superior Tribunal de Justiça pode estar com o processo aberto há quase 60 dias.
O Jornal Nacional contou o resultado, mas não revelou quem solicitou a varredura nas notas falsas apresentadas pela trupe tucana para justificar o pagamento de propina a Reinaldo.
Em delação premiada, os Batistas e o executivo Ricardo Saud, contaram que negociaram diretamente com Reinaldo o pagamento de propinas. As reuniões ocorreram na Governadoria, no Parque dos Poderes.
Conforme a JBS, a Buriti Comércio de Carnes, localizada em Anastácio, emitiu R$ 12,9 milhões em notas falsas para esquentar a propina paga ao governador. Isso representa 1,6 mil toneladas de carne bovina vendidas para o frigorífico em Campo Grande.
Auditores do ministério confirmaram que as notas são falsas, segundo a TV Globo. Ou seja, a JBS repassou quase R$ 13 milhões sem receber um quilo de carne.
Os empresários entregaram R$ 15,4 milhões em notas falsas emitidas por produtores rurais. Segundo o superintendente regional de Agricultura, Celso Martins, indicado por caciques regionais do PMDB, não houve o abate de nenhum boi.
Vamos ao exemplo citado pelo Jornal Nacional. O secretário estadual de Fazenda, Márcio Monteiro, “vendeu” 140 bois para o frigorífico, que totalizou R$ 333,3 mil. O dinheiro foi pago, segundo os delatores, ao governador.
Logo após a denúncia ser publicada pelo O Jacaré, o secretário divulgou comunicado e as notas das guias de transporte animal para comprovar que o gado existia. Auditoria fiscal agropecuária constatou que o secretário mentiu.
De acordo com o auditor fiscal agropecuário Paulo Hiane, o gado foi vendido, mas não saiu da fazenda de Monteiro em Jardim, nem deu entrada para o abate no frigorífico da JBS em Campo Grande, apesar da nota fiscal e das guias de transporte. É a famosa vaca de papel, mas que ressurge com outra finalidade, “esquentar” o pagamento de propina.
Conforme a reportagem, todas as notas apresentadas pela JBS eram falsas.
Depois da empresa Buriti, cujo diretor, Eduardo Chramosta, 37 anos, morreu em misterioso acidente rodoviário dois dias após a divulgação das denúncias, o maior emissor de notas foi o pecuarista Elvio Rodrigues, R$ 7,6 milhões.
O primeiro secretário da Assembleia Legislativa, deputado estadual José Roberto Teixeira, o Zé Teixeira (DEM), emitiu R$ 1,6 milhão. Ele foi outro que apresentou a guia de transporte para “justificar” a venda de boi.
O coordenador político para a região de Aquidauana, Zelito Alves Ribeiro, teria emitido R$ 1,758 milhão em notas falsas. Ele também foi citado no caso da propina denunciada por empresários de curtume e frigoríficos, outro escândalo nacional sem apuração até o momento.
O ex-prefeito e ex-deputado estadual Osvane Ramos emitiu R$ 847,6 mil em notas falsas, conforme a delação da JBS. O ex-presidente da Fundação de Turismo e assessor da Secretaria Estadual de Governo, Nelson Cintra, emitiu R$ 296,6 mil.
Além dos R$ 28,4 milhões em notas falsas, os delatores contaram que entregaram mais R$ 10 milhões em dinheiro vivo para o governador. Em troca da propina milionária, o grupo teve incentivo de R$ 996 milhões, quase R$ 1 bilhão, em incentivos fiscais em dezembro de 2015.
Em apuros diante da opinião pública, o governador voltou a enfatizar que as denúncias não procedem. Ele até tentou anular a delação premiada, para salvar os 1,8 mil políticos acusados de corrupção, mas perdeu de goleada no Supremo Tribunal Federal.
Alvo de CPI na Assembleia, de cinco pedidos de impeachment e de ação popular para bloquear seu patrimônio milionário, o governador ainda se vê obrigado a reforçar as orações para não receber convidados para o café da manhã antes das eleições de 2018.
Se conseguir traçar o cenário ideal para os tucanos, que é tirar os principais adversários do jogo e ganhar a eleição por WO, Reinaldo terá um posto cobiçadíssimo na chapa a ser negociado com os “aliados”: o cargo de vice-governador.